Luís Antonio Cajazeira Ramos
Diário
Querido Diário,
A vida é tão bela, pois sou tão querida,
mamãe tão bonita, papai sabe tudo,
mas hoje a tristeza não quer me deixar.
Não quero ir pra escola, não quero sorvete,
não quero presente, nem quero brincar.
Só quero meu canto no fundo do quarto,
sentada de costas, os olhos fechados,
o dedo na boca, esquecida do mundo,
o tempo parado, ninguém como amigo,
sozinha, sem riso, sem choro, sem nada.
Meu sonho dourado, no céu azulado
de lua prateada, caiu-se pranteado
nos braços da noite estrelada sem luz.
Por que, meu querido de páginas doces,
que as flores mais belas beijaram perfume,
e a neve mais clara passou um pincel?
Por que, confidente das horas mais lindas,
que brinco contente no parque feliz?
Por que, companheiro que sabe das fadas,
bonecas, amigas e tudo que é meu?
Por que (diz, amigo!) sou triste, por quê?
Não sei por que choro meu pranto sem graça.
Não sei por que as lágrimas saltam dos olhos
e molham meu rosto. Não sei... Que desgosto!
Ajuda-me, livro que aos poucos escrevo,
ajuda que eu seja um pouquinho feliz?
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