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Cláudia Roquette-Pinto 

Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia da autora:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan Banks, USA, Hanna

 

Rafael, Escola de Atenas, detalhes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Venus Presenting  Arms to Aeneas

 

 

 

 

 

Cláudia Roquette-Pinto


 

fósforo


ela segue dormindo. na borda do lençol o que a acalenta não são flores - senão aquelas mínimas rosas, pontas buliçosas de falanges a afiar seus instrumentos. sobre as cinzas do peito vão as pegadas, fósforo expondo ao ar noturno seu poder de ignição. o objetivo: o ermo pavilhão (esquerdo) do ouvido. onde então dispersariam, indo pesar alhures. nas pálpebras lilases, nas pétalas pisadas dos olhos, onde outro grupo de homúnculos labora. com minúcia, com agulhas de prata eles picam a superfície da pele pálida e baça e tão logo abertas às intempéries da luz. a cada golpe da agulha ela sabe , a massa corrente dos sonhos, a água caiada quase a ponto de talho se enruga e ralenta, e onde ali havia superfície fluida, ininterrupta, o que se coagula?


semi-cerrada na madrugada avulsa ela espera que alguma mão (a sua?) trêmula recolha toda a alva matéria e a explique.


[ Do livro: Zona de sombra, Cláudia Roquette-Pinto, Editora Sette Letras]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rebecca at the Well

 

 

 

 

 

Cláudia Roquette-Pinto


 

poema submerso


olho: peixe-olho que
desvia a mão engua
a pele lisa a
té o umbigo e logo
a flora de onde aflora
(na virilha) p
barbirruivo a
ceso bruto an
fíbio: glabro


dedo tão tentáculos
e crispam esmer
ilham dorso abaixo a
cima abaixo brilha
o esforço bravo
peixe tentando escapar    mas


ei-lo ao pé da frincha que
borbulha (esbugalha?)
roxa incha e mergulha em
brasa estala
e agora murcha
peixe-agulha e
vaza
vaza


[Do livro: Saxífraga, Cláudia Roquette-Pinto, Editora Salamandra]

 

 

 

Michelangelo, Pietá

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Álvaro Alves de Faria

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

Cláudia Roquette-Pinto


 

space-writing
(sobre foto de man ray)


para escrever no espaço: o
arco do braço mais
ágil que o sobressalto
das idéias em fuga (tinem
os cascos) o traço
que as mãos no encalço (desa
tino de asas) percursam:
circunvoluções do
improviso na moldura
findo o lapso resta
em claro (i
tinierário de medusas)
a escrita que perdura para o
espasmo o “olho armado” o
rapto
do obturador


[Do livro: Saxífraga, Cláudia Roquette-Pinto, Editora Salamandra]


 

 

 

Sophie Anderson, Portrait Of Young Girl

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José Aloise Bahia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Cláudia Roquette-Pinto


 

vão


palavra-persiana
poema-lucidez
imanta o ar fora do cômodo
das frases um outono
rente à janela
ouro tonto sobre a tarde derrubada
entrementes, entre dentes
(e quatro paredes)
tua boca ainda evoca
equívoca e pobre.
na penugem além da vidraça
os deuses-de-tudo-o-que-importa
cerram as pálpebras de cobre


[Do livro: Zona de sombra, Cláudia Roquette-Pinto, Editora Sette Letras]
 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Yeda

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Florisvaldo Mattos

 

 

 

05.10.2005