Gilberto Amado
Moça
Na tua elegância
Tens alguma coisa de domingo
Numa aldeia.
Alguma coisa
De arrial,
Vizinhos que conversam,
Alguma coisa de sinos repicando,
De vestido de chita,
De laço de fita,
De saia arregaçada,
De senhorita,
De senhoril,
De porta de igreja,
De dia de padroeira,
De Nossa Senhora da Ajuda,
De Itaporanga,
De Sergipe.
Alguma coisa de muito longe,
De muito perto,
De charanga,
De mesa posta,
De velhos pratos,
De tia Sancham
De Dona Isabel.
De Sinhá Donana,
De Dona Rosa,
De Amelinha,
De linda flor,
De modinha de noite,
De passeata,
De palidez virginal,
De livro de missa,
De namoro de janela,
De cavaleiros passando,
De chuva caindo,
De caminho da fonte,
De Itaporanga,
De Sergipe.
Teu nome é Flora,
É Marieta,
É Carmelita,
É Mariquinhas,
É Nanoca de seu Juca,
É Florentina,
É Márcia de Dona Santa,
É Julinha da Rua da Areia.
Tuas mãos estão no teclado batendo exercícios,
Teu francês é de Halbout,
Tua agulha é de bordar,
Teus seios são de água fria,
Teu ventre nunca foi visto.
Eu te vejo dançando a polca,
Doida que chegue a hora
De seu Mário recitar...
Há nos teus olhos um sonho...
Estavas em Paula Matos,
Em Matacavalos, na Tijuca...
Caminhaste para o mar.
Meio século de viagem
Copacabana.
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