Gilberto Amado
Pela noite
Criança quase inculto, eu não pensava.
Não te via entre as moitas, Ariel.
Nem te provara ainda, amargo fel,
Que na alma, a Idéia, essa serpente, bava.
A noite para mim era um vergel
Que a lua, branca rosa, embalsamava,
Banhando a terra toda na luz flava
De um vasto eflúvio límpido de mel.
Meu prazer era errar estrada afora,
Sozinho a respirar pela campina,
Cheia a cabeça de pueris amores...
Até que vinha sussurrando a aurora,
Nos penedos rosados da calina,
A sua alegre música de cores...
Suave ascensão, 1917
|