Herculano Neto
FORTUNA CRÍTICA
Quando a gente descobre um novo poeta, sempre fica na dúvida se é
mais um "ajuntador de palavras" ou um promotor de rimas previsíveis
e imagens redundantes. Na verdade, a palavra Poeta deveria ser mais
preservada e dirigida apenas àqueles que provassem, por léguas de
letras e texto invulgar, o merecimento do distintivo. São poucos,
portanto, os que assim podem ser considerados. Herculano Neto, com
certeza, pertence a esse elenco de raros. A sua palavra comprime
tantos mundos que, ao menor gesto compreensivo da sensibilidade, ela
"explode" em suas mãos, em seu olhar, em sua consciência. Poeta de
versos curtos e emoção intensa, cada imagem nos arrebata, em ritmo
que prende a respiração e nos faz soltar um grito. Quem diz: "meu
amor é uma carta que voltou, mas o meu ódio tem endereço certo",
olha nos olhos do mundo como quem desafia as dores e a hipocrisia.
Como quem contrapõe-se ao óbvio, e a um mundo redundante e vazio
oferece poesia.
Jorge Portugal
Herculano Neto apresenta algumas investidas em busca dos efeitos das
palavras, as aproximações das metáforas, caminhos para apreender as
possibilidades da poesia.
Aleiton Fonseca
“Faz de Conta”, parceria de Herculano Neto com Roberto Mendes,
remete ao Fagner dos anos setenta nos versos “nem sempre andei
assim, nem sempre fui tristeza”; alguém se lembra de “não sou
alegre nem sou triste, sou poeta”? Versos como “faz de conta
que o tarde é cedo, o agora não espera”, são de quem vive o
tempo e o ritmo da poesia pela beleza.
Geraldo Medeiros Junior
Herculano Neto, célere em sua mensagem, retira do prosaico o momento
epifânico do verso; erigindo, pois, o monumento ao inesperado. A
solidão instalada no cômodo espaço do peito lírico moderno.
Sebastião Marques
Sua poesia é de corte, feita de instantâneos, aguda, ogival e pra
dentro: ferindo a si mesma, a poesia de Herculano diz aos que
vieram, sem se importar em dizer ao que veio – aliás, o livro
inteiro é um libelo ao desprezo pelos olhos do cânone; o trabalho é
pessoal, intimista, acústico, para platéias pequenas e que estejam
bem próximas do autor, assim, como que um lual.
Henrique Wagner
Os títulos dos poemas e a estruturação do livro fazem referência à
arte, ao produto cinematográfico e ao mercado que o envolve. Temos
poesias entituladas “sala de arte”, “sinopse” e “isabela boscov não
viu o meu documentário”, que funcionam como uma sugestão de sentido
para a interpretação dos textos. Sabendo-se que Boscov é crítica de
cinema da Revista Veja, podemos indagar o que Herculano tenta
transmitir em “o reflexo tosco/ me diz sem escrúpulos/ que tenho
prazo de validade/ e hora marcada para ser feliz”(p.55). Uma ironia
com a crítica? Uma dedada na ferida de Boscov? Ou quem sabe um
genuíno medo da desintegração inexorável a qual nós humanos seremos
submetidos?
Marcelo Lima
Entendemos que o tema central de Cinema é a fugacidade contemporânea
que se nos apresenta, acompanhada de certo ar nostálgico e roupagem
moderna, proporcionada por uma linguagem coloquial emergente,
própria daquilo que se convencionou denominar pós-modernidade. A
obra é reflexiva e se opõem à constante degradação dos valores
humanos da mesma forma como acontece no belíssimo Cinema Paradiso,
filme escrito e dirigido por Giuseppe Tornatore. No livro
encontramos o poeta investido de uma angústia semelhante a de Totó,
personagem principal da película. E como só assim haveria de ser,
Herculano Neto estabelece em sua lírica uma dialética
existencialista e dicotômica, característica que permeia toda obra,
muitas vezes descortinando-se logo no título dos poemas.
Gustavo Felicíssimo
Cinema, o livro de Herculano Neto, traduz num grande travelling a
paisagem do Recôncavo e cercanias, ora em grande planos, ora em
planos fechados no rosto de seus inúmeros personagens anônimos. O
poeta não tem medo de se expor. De verve sarcástica, brinca com seu
humour noir ridicularizando a caretice da província, fazendo de seus
versos testemunhos da contemporaneidade na qual ele trafega com
desenvoltura.
Miguel Carneiro
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