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Herculano Neto 

aneto44@yahoo.com.br

Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Poesia:

  1. Alguns poemas em arquivo doc

  2. O livro Cinema, em arquivo pdf-zip

  3. Bloco 1

  1. Bloco 2


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Herculano Neto



 

Herculano Neto nasceu em Santo Amaro da Purificação (BA). É poeta, ficcionista e letrista de música popular. Participa das antologias Os Outros Poemas de Que Falei (Prêmio Banco Capital de Literatura, 2004) e Sob Prescrição (Laetitia Editore, 2006). Em 2007 recontou o clássico disco Transa, de Caetano Veloso, pelo site paulista MOJOBOOKS e publicou alguns poemas nacionalmente na Revista Cult. Teve a canção FAZ DE CONTA, tema da novela Como Uma Onda, da Rede Globo, gravada por Raimundo Fagner em 2004. É um dos vencedores do Prêmio Braskem de Cultura e Arte, 2008, com o livro de poemas, CINEMA, publicado pela Fundação Casa de Jorge Amado. Edita o blog POR QUE VOCÊ FAZ POEMA??? http://herculanoneto.blogspot.com

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

The Gates of Dawn, Herbert Draper, UK, 1863-1920

 

 

 

 

 

Herculano Neto


 

 

FORTUNA CRÍTICA

 

Quando a gente descobre um novo poeta, sempre fica na dúvida se é mais um "ajuntador de palavras" ou um promotor de rimas previsíveis e imagens redundantes. Na verdade, a palavra Poeta deveria ser mais preservada e dirigida apenas àqueles que provassem, por léguas de letras e texto invulgar, o merecimento do distintivo. São poucos, portanto, os que assim podem ser considerados. Herculano Neto, com certeza, pertence a esse elenco de raros. A sua palavra comprime tantos mundos que, ao menor gesto compreensivo da sensibilidade, ela "explode" em suas mãos, em seu olhar, em sua consciência. Poeta de versos curtos e emoção intensa, cada imagem nos arrebata, em ritmo que prende a respiração e nos faz soltar um grito. Quem diz: "meu amor é uma carta que voltou, mas o meu ódio tem endereço certo", olha nos olhos do mundo como quem desafia as dores e a hipocrisia. Como quem contrapõe-se ao óbvio, e a um mundo redundante e vazio oferece poesia.

 

Jorge Portugal


 

Herculano Neto apresenta algumas investidas em busca dos efeitos das palavras, as aproximações das metáforas, caminhos para apreender as possibilidades da poesia.

 

Aleiton Fonseca


 

 

“Faz de Conta”, parceria de Herculano Neto com Roberto Mendes, remete ao Fagner dos anos setenta nos versos “nem sempre andei assim, nem sempre fui tristeza”; alguém se lembra de “não sou alegre nem sou triste, sou poeta”? Versos como “faz de conta que o tarde é cedo, o agora não espera”, são de quem vive o tempo e o ritmo da poesia pela beleza.

 

Geraldo Medeiros Junior


 

Herculano Neto, célere em sua mensagem, retira do prosaico o momento epifânico do verso; erigindo, pois, o monumento ao inesperado. A solidão instalada no cômodo espaço do peito lírico moderno.

 

Sebastião Marques



 

Sua poesia é de corte, feita de instantâneos, aguda, ogival e pra dentro: ferindo a si mesma, a poesia de Herculano diz aos que vieram, sem se importar em dizer ao que veio – aliás, o livro inteiro é um libelo ao desprezo pelos olhos do cânone; o trabalho é pessoal, intimista, acústico, para platéias pequenas e que estejam bem próximas do autor, assim, como que um lual.

 

Henrique Wagner


 


Os títulos dos poemas e a estruturação do livro fazem referência à arte, ao produto cinematográfico e ao mercado que o envolve. Temos poesias entituladas “sala de arte”, “sinopse” e “isabela boscov não viu o meu documentário”, que funcionam como uma sugestão de sentido para a interpretação dos textos. Sabendo-se que Boscov é crítica de cinema da Revista Veja, podemos indagar o que Herculano tenta transmitir em “o reflexo tosco/ me diz sem escrúpulos/ que tenho prazo de validade/ e hora marcada para ser feliz”(p.55). Uma ironia com a crítica? Uma dedada na ferida de Boscov? Ou quem sabe um genuíno medo da desintegração inexorável a qual nós humanos seremos submetidos?

 

Marcelo Lima


 

Entendemos que o tema central de Cinema é a fugacidade contemporânea que se nos apresenta, acompanhada de certo ar nostálgico e roupagem moderna, proporcionada por uma linguagem coloquial emergente, própria daquilo que se convencionou denominar pós-modernidade. A obra é reflexiva e se opõem à constante degradação dos valores humanos da mesma forma como acontece no belíssimo Cinema Paradiso, filme escrito e dirigido por Giuseppe Tornatore. No livro encontramos o poeta investido de uma angústia semelhante a de Totó, personagem principal da película. E como só assim haveria de ser, Herculano Neto estabelece em sua lírica uma dialética existencialista e dicotômica, característica que permeia toda obra, muitas vezes descortinando-se logo no título dos poemas.

 

Gustavo Felicíssimo


 

 

Cinema, o livro de Herculano Neto, traduz num grande travelling a paisagem do Recôncavo e cercanias, ora em grande planos, ora em planos fechados no rosto de seus inúmeros personagens anônimos. O poeta não tem medo de se expor. De verve sarcástica, brinca com seu humour noir ridicularizando a caretice da província, fazendo de seus versos testemunhos da contemporaneidade na qual ele trafega com desenvoltura.

 

Miguel Carneiro


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Acis and Galatea

 

 

 

 

 

Herculano Neto



CAIXA-POSTAL

O meu amor é uma carta que voltou,
mas o meu ódio tem endereço certo.



ESSES ESSES

Esse gosto de
já na minha boca,
Esse cheiro de
vá na minha roupa,
Esse gosto de
menta em sua boca,
Esse seu cheiro
de perfume barato.






A noite é longa e estou em casa:
com meus discos;
reprises suportáveis;
livros emprestados;
sonhos inacabados
e refrigerante sem gás na geladeira.



CORAÇÃO DESAJEITADO


Derrubando
Tropeçando
Esbarrando
Confundindo.

Até o coração é desajeitado.



ARRUMANDO AS MALAS


Vídeo antigo,
foto antiga,
cartas falsas,
tudo um pouco falso
um tanto opaco e distorcido.

“Você nunca tentou ser meu amigo”
foi o que ela disse antes de botar o pé na estrada,
sem Kerouac,
com Baudelaire
e sem a paciência de quem espera por mudanças.



INÉDITO & DISPERSO
Para Ana Cristina César


Publicado deixei de ser inédito,
mas esse espírito disperso,
esse,
é impublicável.



QUEBRADEIRA


Ontem teve roda de samba
e eu fui para o samba quebrar...

... quebrei o prato ...



IRONIA


Invadiram a casa:
picharam os quadros;
quebraram os vasos;
chutaram os gatos;
mas a minha ironia ninguém levou.



OS OUTROS


O sétimo selo
O sexto sentido
O quinto elemento
O quarto poder.

A terceira visão
A segunda chance
À primeira vista.

O último dos moicanos.



RÁDIO NOVELA


Chorava e chovia
na mesma porção d’agua.

E os estilhaços da vidraça
aceleravam o coração.

 

 

 

 

Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

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Paulo Bomfim

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rebecca at the Well

 

 

 

 

 

Herculano Neto



FAZENDO DE CONTA


Nem sempre andei assim;
às vezes andei por aí.



UM MISERÁVEL A VER NAVIOS


Sempre perco,
Sempre falta,
Sempre sofro,
Sempre fico a ver navios.

Sempre despedaço,
Sempre aguardo,
Sempre reinicio,
Sempre fico com as mãos abanando.

Miserável esmolando afeto é o que sou.



MALÍCIAS


Eu amo, mas não me arrisco
tenho um coração aflito
repleto de malícias.

Eu amo um animal arisco
que tem um coração distinto
cansado de carícias.



À BEIRA


Naquelas mãos de renda
(desfiando o amor)
estive por um fio.

Naquelas mãos de fonte
(bebendo a cântaros o amor)
estive por um fio d’agua.



O SEU RETRATO


O seu retrato já não
me incomoda
o seu sorriso já não
me incomoda
o seu perfume já não
me incomoda
sua lembrança já não
me distrai.


BATALHA NAVAL


Meus sonhos naufragaram.


MEIA-NOITE TRAVESTIDA


Deixei-a na Rua da Forca,
sozinha,
inebriada,
inibindo a chuva.

Deixei-a na Rua da Forca,
com todos os seus brilhos,
suas cores
e assessórios adicionais.



PANO DE BOCA


Lúrido.
Lúgubre.
Lúbrico.
Lúcido.

No espelho do camarim apenas um ser lúdico.



COSTAS NUAS


O longo vermelho,
frente única,
não esconde a tristeza
da moça que retoca a maquiagem.

Sozinha no banheiro.



CARNAVAL


Sou uma porta-bandeira.
Sem samba-enredo,
sem cadência,
sem fantasia.

Sou uma porta-bandeira.
Sem mestre-sala,
sem alegoria,
sem bandeira.

Uma mera passista disritmada pela avenida.

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), L'Innocence

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Myriam Fraga

 

10.11.2006