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José Leite Netto

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Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan Banks, USA, Hanna

 

Da Vinci, Homem vitruviano

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

José Leite Netto


 

Autobiografia **


no caminho certo das formigas sobre a pia
vou compondo meu universo de dezembro
enquanto meu irmão pede calma e assobia
uma canção que de tão triste já não lembro

minha mãe compõe caminhos e versos e fogo
e o meu céu fica por trás do ópio e da porta
através do inferno a vida fumaça de jogo
trinca de baralho ou lâmina que não corta

mas a festa está ao longe e se foi o carnaval
ânsia é só um abraço na minha filha de neve
na sala a casa é criança, gritos e festival

o ano passa e tudo mais a mais ficando leve
a rua um alpendre de desilusões e continuo
essa quase música que sem fim não concluo.


*Fortaleza-Ce, nasceu em 1973, e é autodidata em literatura. Publicou seu primeiro livro “O Relojoeiro” em 2000. Já em 2004 publica “O Olho de Tebas” , onde inverte sua guerrilha descrevendo os sonhos e a existência humana. Zenetto, como é mais conhecido, teve participações em diversos recitais: Rodas de Poesia e Poemas violados. Editou os Jornais literários: “Vila Morena” e o Irreverente “O Bode Ioiô”. Participou das seguintes coletâneas: “Poemas para Paz” e “Fauna e Flora nos Trópicos” e das revistas e folhetins literários: “Folhetim Acauã”, “Revista Jangada”, “Literatura: Revista do Escritor Brasileiro”, em Portugal (Porto) Revista Palavra em Mutação.”


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

José Leite Netto


 

Equinócio ou a procura da poesia


ando noites procurando versos pelo chão
rebuscando no mar estrelas de papel
ando sol obscuro signo feito doido cão
reinventando línguas e tumultos e babel

navegando-me rios de mim e sempre adeus
silêncio desatento e tarde despencando
um sem sentido parede nua escrevo aos meus
the raven poema negro que Poe foi cantando

mas sou tudo aquilo uma dor que se rejeita
um lance de dados, enigma visto pela janela
bares ou grafias em um borrão que me aceita
e côncavo o céu está para mim feito pra ela
na chuva o horizonte é desespero e adagas
equinócio de surpresas sem tuas chagas.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

José Leite Netto


 

Suposto soneto à Fortaleza



não quero deixar no mar nada do que sinto
nada entendimento de mim solidão e tempo
alegro-me por vezes entristeço e minto
qual ébrio sem vinho Baco talvez sem templo

mas ela velocidade cotidiana e pranto
lilás seu nome amor cidade mistério
Fortaleza oculta sob cem pedras e manto
onde se esmolam vinténs e cemitério

e dorme feito anjo sonho de mil desejos
o filho distante perto de Cícero foge da cruz
crucifixos e asfalto, lixo e gracejos

e querendo fé um sonho que nos conduz
ondula melodia verdes-mares e mar
onírica louca alma muitas por amar.



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

José Leite Netto


 

eu



meu vinho dose de sangue e poesia
olhos que me beijam
sonhos que me fitam
deserto sem-fim sonhos de mim...



 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rebecca at the Well

 

 

 

 

 

José Leite Netto


 

Gnomos de sândalo

Menção honrosa no Prêmio Antônio Girão Barroso



templário de pó meu amor de mármore
sonhos idos, sonhos meus que se perdem
teus olhos um deus de seiva e árvore
aroma em que desenho mito e éden

gnomos de sândalo, dor que se deixa
aos incensos e ao vento feito pedra
esculpindo na esfinge tempo e queixa
rosas, pétala e cheiro que em quimera

a ilusão de um só tempo que não passa
e sendo eu tua louca alquimia e perfume
perco-me em teu ser e me acho em tua praça

feito negro cacto espinho em seu gume
vou por entre teu sexo penetrar-te
com dionisíacas fadas possa eu gozar-te?


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

José Leite Netto


 

Farrapos de deuses


caía a tarde afro nos olhos bruxa de Afrodite
na rua do desterro Adônis que ali morria
enquanto o desespero da saxífraga rompia
a solidão tenaz da rocha no asfalto

adagas onde o corpo morto apontava
sinal vermelho num mar de sonho abandonado
feito fúnebre hieróglifo encontrado
enigma velho: clarins rosa naufrágio

e amor que havia de ser correnteza calma
dorme sujo na esquina, morre na calçada
farrapos de deuses, gente não amada

dor que só a dor de um beijo solto do limbo
é restinho de vinho pigmentando flores
taça onde tudo é vida cálice de dores.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba

 

 

 

 

 

José Leite Netto


 

Poeta de rua


serei
a superfície avessa das coisas
na messe
do teu nome ausência

ouvirei
teu grito
artesão da palavra

cantarei
por te a menor poesia
:favela -
esfinge
camelôs e bares.


 

 

 

 

 

31.10.2006