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Laeticia Jensen Eble


 

A DIALÉTICA DO MUNDO ME ABRAÇA


A dialética do mundo me abraça.
Não alcanço a razão do dia,
nem o mistério da noite.
 


Do pó da criação ao pó que na terra deitará
tudo se transforma e se justifica.
Somos um só corpo a respirar
o breve sopro da existência eterna.
Só o destino nos une ao futuro.
E nosso destino é viver o presente,
síntese do que foi e do que será.
 


A escuridão e a luz movem,
como alavancas indissociáveis,
esse imenso ser em contínuo duelo.
O preto e o branco
O quente e o frio
O mais e o menos
O céu e a terra
O tudo e o nada
O som e o silêncio
O nascer e morrer
Olhar e não ver
Estar e não ser
São instâncias da mesma realidade.
A harmonia se impõe na superação dos limites.
 

 

 

Michelangelo, Pietá

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Aleilton Fonseca

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Goya, Antonia Zarate, detalhe

 

 

 

 

 

Laeticia Jensen Eble


 

A DÚVIDA
 


Caminho diariamente
Percorro as estradas gélidas
do deserto escaldante da dúvida
pincelando a vida
de erros e acertos
noites e oásis
frustrações e delírios
e dúvidas
A cada suspiro de alívio
uma nova dúvida
A cada projeto
A cada desafio
A cada sol
A cada lua
A cada pausa
A cada recomeço
Lá está escondida,
enterrada,
disfarçada:
a dúvida
Nada é absoluto.
Nada?
 

 

 

Rafael, Escola de Atenas, detalhes

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Cussy de Almeida

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Cole (1801-1848), The Voyage of Life: Youth

 

 

 

 

 

Laeticia Jensen Eble


 

A esperança é...

 

 

A esperança é um fio
É um tesouro na areia
É um alvo pequeno
É o som da sereia
É um pote de ouro
no fim do arco-íris.
É o colo de Deus
dizendo: - Vem!
A esperança não teme,
não pede favor,
não escolhe o dono,
não cobra valor.
A esperança é ...
simplesmente existe.
É oferta e entrega,
pra quem preencher
uma só condição:
Um peito aberto
do tamanho certo
para ela brincar.
 

 

 

Michelangelo, 1475-1564, David, detalhe

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Francisco Carvalho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido

 

 

 

 

 

Laeticia Jensen Eble


 

Ancestrais
 


Nada em mim é inédito.
Nada se criou do nada,
Nem tampouco tive escolha.
Me surpreendo
vivendo experiências já vividas,
amando de um jeito já amado,
falando palavras já ditas.
Meu corpo conta uma história viva
escrita por muitos autores.
Do capítulo da minha vida
eu sou a última frase
E ao vazio após o ponto
Medito.
Olho para trás...
Se não me é dado escrever
Eu canto
Meu refúgio é a voz
Ah, voz
Avós.
 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Pipelighter

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Junot Silveira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caravagio, Tentação de São Tomé, detalhe

 

 

 

 

 

Laeticia Jensen Eble


 

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU
 


A poesia almeja ser
música no ritmo?
pintura na imagem?
escultura na forma?
O poeta perde-se
entre o que é ou não é
e o que quer ser
Maestro ou concerto?
Pintor ou pintura?
Escultor ou escultura?
Profeta ou profecia?
Deus ou criação?
 


Algumas palavras
nunca precisam ser ditas
Alguns poemas
nunca ser pronunciados
Os olhos a lamber, a beijar, a sugar
certos versos embebidos
de puro sentir
No silêncio se aprofunda
o abismo
entre poema e leitor
Nele epicamente se ergue
a ponte divina da salvação, etérea
construída palmo a palmo, arquitetonicamente,
sofregamente,
de palavras escolhidas
e colhidas ao vento
para unir inabalável
e por todo o sempre
o coração do poeta
ao coração do leitor.
 

 

 

Aurora, William Bouguereau (French, 1825-1905)

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Francisco Brennand

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), Girl, detail

 

 

 

 

 

Laeticia Jensen Eble


 

DESTINO
 


Reluz
sobre o espaço
branco, límpido
espelha também
traz energia;
                   conceda-me
ó, raio douroclarointenso
teus maravilhosos dons
ofusca e encanta meus olhos,
sempre, incansavelmente.
 


Ninguém sabe
por onde percorrerá
nosso destino
Serenamente galgamos
cada palmo
à espera, à deriva,
de que algo nos interrompa
e traga a felicidade.
 


Tudo pode virar pó
Só você pode fazê-lo
e sabe disso
É por isso que os fortes
distinguem-se dos fracos,
pela coragem de dizer
não ao pó
e gritar ao mundo:
Eu sou feliz!
 

 

 

Um cronômetro para piscinas

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Helena Armond