Amigo Leitor,
os dias
De hoje são diferentes.
Ainda temos repentes,
Ainda temos Cordel.
Ainda existe alegria
De se ler boa poesia
Escrita em bom papel.
Porém, o que tem mudado
Eu falo aqui, sem temor,
Não é o som, nem a cor
Da arte de antigamente.
É a ferramenta, Doutor
O tal do
computador
Que faz as coisas pra gente!
Não se escreve mais à mão,
Nem com Datilografia.
Findou-se, pois, a magia
Do artesão-escritor!
Por um bom tempo eu lutei
E quase que recusei
O tal do computador!
Mas, enfim, ele venceu
E eu me rendi, conformado.
E um Cordel - digitado! -
Escrevo, neste momento.
Pois estaria isolado
Se tivesse recusado
Utilizar este invento.
Portanto, eu me assento
Em frente ao computador,
Com a missão de expor
Uma estória verdadeira.
Peço a Deus proteção
E também a inspiração
Pra minha rima rasteira.
E a tarefa é pesada,
De responsabilidade.
Precisa seriedade,
Pra não mentir, na missão.
Pra dizer bem a verdade,
Mentira é calamidade
De que não faço questão.
Mas eu começo com fé
Que dou conta do recado.
Já rezei, “tou” preparado
Para “o que dé e vié”.
Vou falar do afamado
Poeta, que foi chamado
“Patativa do Assaré”.
Começando do começo
Quando nasceu
Patativa?
Sua fama inda é viva,
Ser verso é o melhor!
Sua poesia é tão linda,
Que o povo se lembra ainda!...
E menino sabe de cor!
Foi na
Serra de Santana,
Município de
Assaré
Que esse poeta de fé
Saltou pra luz, nun repente.
O estado do
Ceará
Muito se orgulhará
Do poeta, eternamente!
No dia cinco de março
De mil novecentos e nove.
O povo, então se comove
Com o brilho daquele dia.
Mas não podia saber
Que estava vendo nascer
Um Menestrel da Poesia!
Naquele dia nasceu
Um forte e belo menino.
Na igreja tocou sino,
Como fosse dia santo!
E no choro, parecia
Que o menino dizia:
“Escutem todos, meu canto!”.
“Eu acabei de chegar
Nascido nesse Nordeste.
E sou um cabra da peste!
Uma promessa eu faço:
O mundo que me aprove,
Pois a vida me comove...
Vou ser poeta, no braço!”
“Eu vou cantar o sertão
Com a força do meu verso!
E o Rei do Universo
Me ajude, por caridade.
Vou cantar em verso nobre
A desventura do pobre
Sem faltar com a Verdade!”
Antônio Gonçalves da Silva
Foi na Pia batizado.
O padre disse, assustado,
Para a mãe de Patativa:
Eita, que choro danado!
Vai ser poeta, o safado,
De poesia criativa!
O pai, de nome
Seu Pedro,
Não ficou muito contente:
“Vai ser poeta? Ô xente!
Mió sê trabaiadô!
Essa vida é uma briga
Poesia não enche barriga
Isso é coisa de dotô.”
Mas a mãe,
Dona Maria
Disse: “Deus sabe o que faz
Deixa o menino em paz
Móde sê o qui quisé.”
Selava assim o destino
Daquele feliz menino
Patativa do Assaré!...
E o Antonio menino
Cresceu ajudando os pais.
Não recusando jamais
O seu duro dia-a-dia.
Trabalhava ele na roça,
Morava em uma palhoça,
Mas sempre com alegria!
Aos quatro anos de idade,
O nosso pequeno artista
Fica cego de uma vista,
De um mal chamado
“dordói”.
Mas a tudo ele resiste
Pois da lida não desiste
Quem já nasceu pra herói.
Continua seu trabalho,
Sua vidinha na roça.
Porem sua língua coça
De vontade de versar.
“Se óio pra qui pra li
Vejo um verso se buli”,
Viria ele a cantar.
Mil novecentos e dezessete
Ele, com oito anos,
Passa por desenganos
Da sorte e triste vai,
Com a mãe e os irmãos,
Todos, juntando as mãos,
Ao enterro de seu pai.
Falecia, assim, Seu Pedro
De quem tanto ele gostava.
E Patativa chorava,
Tomado de emoção.
Ao mesmo tempo, rezava
E ao povo todo ele dava
Exemplo de bom cristão.
Logo depois, a má sorte
Novamente lhe alcança.
Ele, ainda criança...
E a mãe, morreu de repente.
Saudosa
Dona Maria!...
Mas eles, com valentia,
Tocaram a vida pra frente!
O Nordestino é assim:
Um forte, por natureza.
Mesmo em grande tristeza
Não se abate, e vai com fé.
A força mais se aviva!
E assim foi com Patativa,
O Poeta do Assaré.
Os doze anos contava
Quando na escola entrou.
Só quatro meses ficou,
Devido sua pobreza.
Pois nem à escola primária
A classe minoritária
Tem direito, com certeza.
Mas esse tempo de estudo
Foi, pra ele, de valia.
Rapidamente aprendia
As letras do ABC.
Nesse tempo, ele já faz
Alguns versinhos banais,
Para a professora ver!
E ele, pra conseguir
Um sucesso tão marcante,
Teve um bom ajudante,
Facilitando o trabalho.
Estudou e deu valor
Ao livro do
Professor
Felisberto de Carvalho.
Começa assim, nesse tempo,
A carreira do poeta.
Sua alma inquieta
Sempre buscando a Poesia.
Nas festas da redondeza
Declamava, com beleza,
Já dando ao povo alegria.
Nesse tempo ele já lia
Poesia de Cordel.
“Na casa dos Coronel
Lia tudo o que achava”.
“Apois, então, muito bem
Eu posso fazer também!”
Já Patativa pensava.
E começou a escrever
Guardando o seu rabisco
Para não correr o risco
De sua obra perder.
Escrevia com emoção,
Falando sobre o sertão,
Onde adorava viver.
Só pra citar um exemplo,
Num poema, ele dizia:
“Eu sei que minha poesia
Já nasce do coração.
Não canto as coisa impussive,
Eu canto as coisa visive
Do meu querido sertão”.
E continua o poeta,
Com sua simplicidade
Dizendo só a verdade,
Pois quem não mente, não erra:
“Assim que eu óio pra cima
Vejo um dilúvio de rima
Caindo in riba da terra”
No ano de vinte e cinco,
Ele, já quase homem feito,
Fez um negócio direito
E ficou todo pachola.
Vendeu uma cabra, um dia,
Apurou uma quantia
E comprou uma viola!
E começou a cantar!
Com a violinha na mão,
Percorria a região,
Fazendo e cantando verso.
Viajava sempre a pé,
Contando com sua fé
No
Criador do Universo.
Nesse tempo ele faz
Sua primeira viagem.
Conhece nova paisagem
Que jamais esquecerá.
Com o primo
Zé Montoril,
Vai conhecer o Brasil
Lá em
Belém do Pará!
Ficando por cinco meses
Naquelas terras do Norte,
Conhece, com muita sorte,
Zé Carvalho,
um jornalista.
Que lhe diz com voz ativa:
“Você nasceu
Patativa
É o seu nome de artista!”
Patativa logo aceita
E muito gosta do nome.
No entanto, ele diz: “Home,
Não esqueço meu lugar.
O nome bonito é...
Mas,
Patativa do Assaré
Eu passo a me chamar.”
E assim, nosso poeta
Em todo lugar chegava.
E o povo o aclamava
Dizendo: “Esse é que é
O poeta arretado,
Que pelo povo é chamado
Patativa do Assaré!”
Nesse tempo também,
Se bem me lembro e não erro,
Ele anda de trem de ferro,
Alegre, feito criança.
Pra percorrer o Estado,
Ele vai aboletado
No trem da
Belém-Bragança!
De volta ao Ceará
Continua a sua luta.
Na roça, tem a labuta.
À noite, escreve poesia.
Conhece, ainda pequeno,
A um Juvenal Galeno,
Poeta, que lhe auxilia.
É citado em um livro
Pelo seu belo trabalho.
O mesmo José Carvalho,
Lá do Belém do Pará,
Escreve bela missiva
Dizendo que Patativa
Grande poeta será!
No dia seis de janeiro
Do ano de trinta e seis
Chega a hora e a vez
De Patativa casar.
Casa-se, então, com Belinha,
Uma linda moreninha,
E a família vai formar.
Desse belo casamento
Quatorze filhos nasceram.
Só sete sobreviveram...
Outros sete, Deus levou.
Mas os dois não protestavam.
Humildemente acatavam
Aquilo que Deus mandou.
E Deus mandou ao Poeta
Nunca esquecer a Poesia.
Patativa então seguia
Sempre, sua vocação.
Na roça, durante o dia
E à noite ele fazia
Seus versos, de coração!
E sempre fiel à terra
Nordestina, que amava.
Em seus poemas falava
Das coisas do seu Sertão.
Observando, escrevia
O que de belo havia
Entre o céu e o chão.
Amava também contar,
Dizendo sempre a verdade,
Toda a dificuldade
Da vida de quem é pobre.
Descrevendo, com amor,
A vida do agricultor
Em verso simples, mas nobre!
Junto com João Alexandre,
Que era um grande violeiro,
Roda o Sertão inteiro
Levando sua poesia.
Onde quer que ele chegava
O povo já o aclamava
E ele, contente, sorria!
No ano cinqüenta e cinco
Conhece
José Arraes
Que, impressionado demais
Pega seus versos e bota
Nun livro de um escritor
Que lhe faz grande louvor!
Seu nome:
Moacir Mota.
No ano cinqüenta e seis,
Cumprindo a sua sina
“Inspiração Nordestina”
Patativa então publica.
Poesia que dá e sobra!
Era o começo da obra
Que viria a ser tão rica!
Já em sessenta e dois,
E tendo um certo cacife,
Vai cantar lá no
Recife
Em um
São João Popular.
Miguel Arraes
patrocina
A Poesia Nordestina
Para o povo admirar!
Dois anos depois, somente
O grande
Luiz Gonzaga,
Encantado com a saga
Contada em
“Triste Partida”,
Pega o poema e grava.
Essa obra, aonde chegava,
Por todos era aplaudida!
Esse fato por si só
De tal forma projeta
Patativa, o poeta,
Por todo nosso país.
Mas sua simplicidade
Não lhe permite vaidade
E humildemente, ele diz:
“A minha rima é rasteira
É fruita de jatobá.
É fulô de trapiá
É canto de passarinho.
É fulô de gamilêra,
É gente humilde, na feira,
E na puêra do caminho!”
E assim nosso poeta
Seguia sempre em frente.
Escrevendo humildemente
Sem nunca ligar pra fama.
“Eu escrevo porque gosto
Se nun escrevesse, eu aposto,
Morria in riba da cama!”
Porém dois anos mais tarde
- Mil novecentos sessenta e
seis -,
Usando mais uma vez
Sua veia criativa,
Ele lança um livro novo
E entrega a seu povo
Os
“Cantos de Patativa”
Já em mil novecentos setenta
J. Figueiredo Filho
Lança, com muito brilho,
Os
“Poemas Comentados”
São versos de Patativa
Comentados, em voz viva
E grandemente exaltados.
No ano setenta e dois
Raimundo Fagner,
cantor,
Que é também compositor,
Faz uma coisa malina:
Com música de sua autoria
Encantado com a poesia,
Grava o poema
“Sina”.
Mas no encarte do disco,
Esquece, sem ter má fé,
De registrar de quem é
O poema que gravou.
Patativa não reclama
Mas logo Fagner lhe chama
Reconhecendo que errou.
Ficam, então, amigos
Sem guardar nenhum rancor.
Patativa, o professor,
Ensinando humildade.
E Fagner, reconhecendo
A ele disse: “Pretendo
Te mostrar lá na cidade!
Alguns anos mais tarde
Isso iria acontecer.
Nós ainda vamos ver
Patativa em grande show
Mostrando sua verdade
Com toda a simplicidade
Que nunca lhe abandonou!
Mas prossegue o poeta
Cada dia, a criar mais
Aparece nos jornais
Sua fama se espalha.
Enquanto o mundo comenta
Patativa não esquenta.
E simplesmente... trabalha!
E a sua produção
Vai ficando numerosa.
A poesia, talentosa,
A muita gente comove.
Ele não se envaidece.
“Não sou aranha, que tece,
Quem gostar... que me aprove!”
No ano setenta e três
Um fato inesperado:
Patativa é atropelado
Andando em Fortaleza.
Perna mecânica ganhou
Até o fim da vida, usou.
Mas não chorava tristeza
Dizia ele, brincando:
Chorar, por que, meu irmão?
Eu escrevo é com a mão
Obedeço o que Deus qué.
Não tenham pena de mim.
Sou poeta até o fim
Não faço verso com o pé!”
Chegando setenta e oito
Conformado com o acidente
O Poeta, diligente,
Continua a trabalhar.
E publica, sem problema
O seu mais lindo poema:
“Cante Lá, Que Eu Canto
Cá”.
Um ano depois se muda
Indo morar na cidade.
Pois já tá com certa idade
E se vai, todo feliz.
Residir no Assaré.
Porque é homem de fé,
Bem na Praça da Matriz.
Nesse ano acontecem
Inúmeras homenagens
Onde grandes personagens
Se rendem ao seu talento.
Entre participações,
Faz
“Poemas e Canções”
Em disco, nesse momento.
Na Campanha da
Anistia
Ampla, Geral, Irrestrita,
Sua poesia bonita
Comove o Brasil inteiro.
Fizeram um filme, até
E Patativa do Assaré
Participou, bem faceiro.
Do Show
Massafeira Livre,
“Theatro José de Alencar”,
Ele foi participar
Nesse ano produtivo.
Sua obra, conhecida!
E ele, feliz da vida,
Um poeta sempre ativo.
No ano seguinte, oitenta
Fagner de novo estava
Com ele, e assim grava
“Vaca Estrela e Boi Fubá”.
E sem correr qualquer risco
Patativa grava o disco
“A Terra é Naturá”.
Tinha um programa na
Globo
Chamado de “Som Brasil”.
O poeta então se viu
Convidado a apresentar.
Foi o
Rolando Boldrin
Quem lhe chamou e, assim,
Não podeia recusar.
Foi um sucesso da gota!
Foi um show de Patativa!
O povo, gritando “Viva
O nosso Poeta Maior!”
E Patativa seguia,
Humilde, como se via,
Sem querer ser o melhor.
Já no ano oitenta e quatro
As multidões, inquietas
Lutavam pela
Diretas
E a História registrou.
Patativa, convidado,
Participou e, aclamado
Ao povo assim falou:
“Eu sou home lá da roça
Mais respondo meu presente
E junto com minha gente
Quero tomém falá.
Ao Governo Brasileiro
Que este povo ordeiro
Só qué as Direta Já”.
Não vai ter revolução
Queremos paz, nessa terra.
Somos todos contra a guerra!
A gente só qué votá.
É um direito da gente
Votar para presidente.
Queremos Direta Já!”
O seu verso assim ajuda
Ao sucesso da Campanha.
Patativa assim ganha
Mais respeito popular.
Vídeo e filme são lançados
Para os fatos detalhados
De sua vida contar.
Mas Patativa, humilde
Nada disso lhe envaidece.
Volta ao Sertão e esquece
Toda essa homenagem.
Como roceiro que é
Só quer viver no Assaré,
Em sua bela paisagem.
Mas
Jefferson de Albuquerque
E
Rosemberg Cariry,
Dois cineastas dali,
Fazem um filme novo.
Para mostrar como é
Patativa do Assaré
Filmam
“O Poeta do Povo”.
Nesse tempo, grande enchente
Se abate sobre o Sertão.
Patativa, com emoção,
Ajuda ao povo carente.
Pra consolar tanta mágoa
Faz a música
“Seca Dágua”
E ao povo dá, de presente!
Ajudando, dessa forma,
Ao flagelado Nordeste!
Vai socorrendo o Agreste
Com chuva ou sol a pino!
O Sertão lhe agradece.
Por isso ninguém lhe esquece
Nesse solo nordestino.
Nesse ano ainda grava
Novo disco, que encerra
Poesia de sua terra
E grande sucesso fará.
O disco é , por sinal
Um projeto cultural
Do
Banco do Ceará.
Em oitenta e seis apóia
E da campanha faz parte,
Doutor Tasso Jereisati
Ajudando a eleger.
E Patativa, na hora,
Diz: “Dotô, tu agora
Que faça por merecer!”
E já no ano seguinte,
Trabalhando, sem parar,
Vem ele a publicar
Mais um poema de amor.
Se revelando romântico
Escreve um belo cântico
Chamado
“Espinho e Fulô”.
No mesmo ano, porém
Já quase sem poder ver,
É obrigado a fazer
Uma grave cirurgia.
Em São Paulo, em Campinas
Operou-se das retinas
E a vista quase perdia.
Chega a oitenta e nove
Comemora oitenta anos.
O fato então dá panos
Pras mangas de toda a
Imprensa.
São muitas as homenagens
Recebe tantas mensagens
Que refletindo, ele pensa:
“Meu Padin Ciço, me
diga
Como é que pode, um roceiro
Desse sertão brasileiro
Ser querido, desse jeito?
Eu não sou nada, sou pobre
E esse povo, tão nobre
Dizendo que sou perfeito?...”
O Senhor que me perdoe
Se eu tô dizendo besteira.
Mas penso dessa maneira
O bom aqui não sou eu!
O Senhor, que é meu Padin
Foi quem fez isso por mim...
Isso é milagre seu!”
E assim, o nosso Poeta,
Com grande simplicidade
Não enxergava a verdade
Sobre o próprio talento.
E tudo o que recebia
Ao Padin Ciço agradecia,
Demonstrando sentimento.
E nesse ano, embalado
Pelo reconhecimento
Que tinha, nesse momento
Bonito, do seu destino,
Lança um disco novo
Tira, “da casca do ovo”,
O seu
“Canto Nordestino”.
E faz apresentações
Em diversas capitais.
Raimundo Fagner
jamais
Lhe esqueceu! E cumpriu
O compromisso que um dia
Ele , com muita alegria,
Com Patativa assumiu.
Leva o Poeta a São Paulo,
Recife e Fortaleza.
E um show de muita beleza
Para ele então criou.
O povo não esquece mais
Pois em muitas capitais
Nosso roceiro reinou!
O Show, gravado em disco,
Foi sucesso! Genial!
Do simples ao maioral,
Cada um reconheceu
Que ali estava a Poesia
O Brasil inteiro aplaudia
E o poeta mereceu!
No ano seguinte, noventa,
Dois fatos muito marcantes:
Violeiros atuantes
Das mais diversas escolas
Com grande contentamento
O levam para o evento
Fortaleza das Violas.
“Patativa do Assaré –
Oitenta Anos de Luz ““.
É lançado, e Jesus
Abençoa o lançamento.
E mais um disco termina:
O seu
“Canção Nordestina”
É lançado, no momento.
O artista
Cleyvan Paiva
Faz música para os poemas
Como pérolas, como gemas
São lançados no mercado.
O povo se admira
Que esse pobre caipira
Seja um poeta inspirado!
Já em noventa e um
Geraldo Gonçalves,
um amigo
Dá apoio e dá abrigo
Ao poeta brasileiro.
E, cheio de esperança,
Patativa então lança
Mais um livrinho:
O Balseiro!
Esse livro não contém
Só poemas de Assaré.
Pois o dito cujo é
Uma linda coletânea
De poemas nordestinos
Mostrando “a esses meninos”
Poesia contemporânea.
No ano noventa e três
Indo pra boca do lobo
Vai parar na
Rede Globo
E ator ele vai ser.
Participa, com talento,
Com arte e sentimento
Da novela
“Renascer”.
Faz a novela na Globo
Depois, muda de estação
Pois a tal televisão
Tem muito a oferecer.
Querendo mudar de ares
No
SBT, Jô soares
É quem vai lhe receber.
Conheço gente que tem
A entrevista gravada.
Jô Soares dá risada
Admirando o progresso
Do poeta brasileiro
Que, sendo um simples roceiro,
Consegue fazer sucesso!
E ainda nesse ano
Sua vontade de ferro
Diz: “Trabalho e não erro
Quero estar sempre na ativa”.
Fazendo o que certo acha
Lança, então, numa caixa,
“Os Cordéis do Patativa”.
No ano seguinte o Poeta
Não pára de trabalhar.
Agora vem a lançar
Um livro novo na praça.
“Aqui tem coisa”
é o nome
Da obra, e o couro come,
O povo, achando graça!
Ronaldo Nunes
juntou-se
Com o
Osvaldo Barroso
E um filme caprichoso
Fizeram, com inventiva.
Trabalho extraordinário
Chamou-se o documentário
“O Vôo da Patativa”.
Ainda em noventa e quatro
Mais um disco ele grava.
O poeta não parava
De rimar, com maestria.
Abrem-se, pois, os panos
Para
“Oitenta e cinco anos
De Luz e de Poesia”.
Nosso poeta, então,
De outro evento faz parte
Mostrando a sua arte.
Do jeito que ele queria.
“Oitente e cinco de idade,
De amor e fidelidade
À sua gente e à Poesia”
Esse ano foi o pior
Que tive na minha vida”
Diz ele, voz abatida,
Voz saudosa, bem baixinha:
“Uma grande dor senti
Pois nesse ano eu perdi
Minha esposa
Belinha!”
“Pessoa que eu devo muito,
Ela foi a companheira.
Muito trabalhadeira
Igual, assim, não havia!
Eu quase não exergando
Meus poemas ia ditando...
Era ela quem escrevia!”
“Pro resto da minha vida
E nunca vou me cansar
De sempre assim falar
Fazendo verso e Cordel.
Aqui na nossa terrinha
Eu cuido da sorte minha
Belinha já tá no céu!”
E ssim, no ano seguinte,
Continua trabalhando.
E logo está mostrando
Um novo livro, na mão.
Falando sobre o seu verso.
“Patativa e o Universo
Fascinante do Sertão”.
Plácido Cidade
escreveu
Essa obra muito altiva.
Falando de Patativa
E tudo que ele criou.
Patativa lhe ajudando,
Conferindo e revisando,
Da obra muito gostou.
Chegando noventa e sete
Já temos mais novidade.
Oitenta e oito de idade,
O primeiro cd
é lançado.
Com humor que ninguém paga
Pega o cd e indaga:
O que tem, do outro lado?
E o nome do CD
Já presta justa homenagem
Ao poeta de coragem
Que a força nunca perdia.
Idoso, porém afoito,
Patativa, oitenta e oito
Anos de Poesia!
A sua cidade querida
Numa homenagem pura
Nesse ano ingura
Uma Rádio Comunitária.
E o Nome da Rádio é
Patativa do Assaré,
O que a torna lendária.
No ano noventa e oito
José Lourenço Gonzaga
Ao nosso poeta afaga
Com respeito e com doçura.
Lança um album bonito
E analtece o mito
Usando a xilogravura.
Contém dezesseis matrizes
Feitas em Umburana
Sua beleza empana
As outras obras que havia.
E intitula belamente
A obra resplandecente
“Patativa – Amor, Poesia”.
No Estado de São Paulo
A
Câmara Legislativa
Recebe então Patativa
Com uma grande homenagem.
Com lavratura em Ata,
Marcam pra sempre a data
Da importante passagem.
Patativa – Noventa anos
Discursa até o Prefeito.
E poetas de respeito
Louvam o Menestrel.
E cada um, em seu canto
Declara: “Ninguém fez tanto
Assim, por nosso Cordel”.
Em Fortaleza inauguram
Uma grande exposição
Para louvar, com emoção
O Mestre das Obras Primas.
E cantam, sem dor nem mágoa
Nasce,
“De um pingo d’água
Um oceano de rimas”.
A
Universidade Federal
Do Estado do Ceará
Promove o que será
Um pleito extraordinário.
Usando xilogravura
O Poeta ela figura
Em um lindo calendário!
O autor desse projeto
Foi o artista
Evandro Abreu.
A Xilogravura, quem deu?
O artista José Lourenço.
Patativa, bem contente,
Só dizia: “Minha gente...
Assunta só o que eu penso:”
“Já tenho noventa anos
E ainda não fiz nada.
Minha obra ser louvada?
Eu ser louvado por isso?
É só por muita bondade
Dos amigos, dos cumpade
Ou milagre do Padim Ciço!”
Já quase no fim da vida
Já poeta consagrado
Sendo homenageado
Ele nunca se envaidece.
E falando com humildade
Agradece “a bondade
De louvar quem não merece”.
Chega então noventa e nove.
A festa de Aniversário
O feito mais legendário
Um evento magistral
Na cidade de Assaré
Inauguram, pois, com fé
O Grande Memorial.
Trata-se de um museu
Com toda sua grande obra
Poesia lá tem de sobra
Pois o poeta escreveu.
O povo reverencia
O Poeta e sua poesia
Que os noventa já venceu!
E pede a Deus saúde
E vida mais longa ainda
Ao que tanta coisa linda
Ao todos proporcionou.
Parece que Deus, ouvindo,
Diz ao poeta: “Vá indo
Dois anos mais Eu lhe dou”.
Já velho e bem cansado
Cego, o nosso bardo
Carrega ainda o fardo
Da fama, como poeta.
Sentado em sua cadeira
De balanço, a tarde inteira,
Sua alma se aquieta.
Não pode mais escrever
Mesmo assim não se entristece.
O coração não esquece
Toda a vida que viveu.
Se alguém lhe diz “-Obrigado”,
Ele diz: “Cê tá errado.
Quem agradece sou eu!”
Filhos, netos, parenates
E fãs, em todo país,
Querendo lhe ver feliz,
Nunca o deixam sozinho.
Ele, inverno ou primavera
Cisma, recorda e espera
Sua hora, seu caminho.
E fala um dia, a um neto
“Poeta é só quem diz
Escrevendo fui feliz,
Pois escrevi para o povo.
Se morrer, eu morro em paz.
Quem sabe bem o que faz
Faria tudo de novo!...”
Até que chegou o dia.
Foi pouco tempo depois.
No ano dois mil e dois
No dia oito de julho.
A figura se aquieta
Acharam morto o poeta
Motivo do nosso orgulho.
Morreu em sua cadeira
Na varanda, que gostava.
A ninguém incomodava
Como dissera, um dia.
“Quando eu seguir caminho
Eu quero é ir sozinho,
Sem alarde ou arrelia”.
O Brasil, naquele dia
Perdia um maioral
Pobre, até o final
Da carreira, mas contente.
Por ter cantado a beleza
Da terra e da Natureza
E o sofrer de sua gente.
O Brasil, naquele dia,
De sul a norte chorou.
Muita gente lamentou
O Mestre, que ia embora.
Mas ele, tranquilamente
Só dizia: “Calma gente,
É que chegou minha hora”.
“Essa hora é Deus que marca
Com a Sua Onipotência
Não há recurso ou ciência
Pra se mudar um destino.
Vou-me embora, é verdade,
Mas levo muita saudade
Desse povo nordestino”.
“Saudade da minha serra
Que eu cantei, parcamente.
Saudade da minha gente,
Saudade do meu Sertão.
Mas vou-me embora contente
Pois a chuva, docemente,
Já molha o meu caixão”.
“E peço a todo poeta
Que vai ficar nesse chão
Que abra o coração
Quando for versar de novo.
Para cantar nossa terra,
Pra castigar a quem erra,
Pra defender nosso povo”.
“Nunca perca a fé em Deus
Nen no maior sofrimento.
De Jesus, o ensinamento
Guarde no coração.
E tenha sempre na mente
O que ensinou lindamente
O Padin Ciço Romão!”
“Eu não quero ser lembrado!
Lembre só da Poesia!
E cantem com alegria,
Para o povo se animar.
No Brasil, de sul a norte,
O povo tem que ser forte
Pra dureza suportar.”
“Tenha pena dos pequenos,
Dos fracos, dos que não podem.
Enquanto bombas explodem
Causando tristeza e dor...
Tenha dó do povo inteiro
E, no solo brasileiro,
Espalhe um pouco de amor”.
“Pra ver um mundo melhor,
Tenha fé, tenha esperança!
Eduque toda criança
E lhe dedique atenção.
Pois em meio a tanta guerra
Felicidade, na terra,
Só vem pela Educação”.
Assim diria Patativa
Se morto, pudesse falar.
Sua gente aconselhar
Arrebatado de amor.
Resumindo: a esperança
É ver, um dia, a bonança
Chegar ao trabalhador!.
Terminando, meu amigo,
Agradeço, emocionado.
O meu recado foi dado
Cumprida, a minha missão.
Com o meu verso rasteiro
Quem falou, sempre primeiro,
Foi a voz do coração.
Agradeço a Deus do Céu
A graça de escrever
Podendo, assim dizer
O que foi e o que é
Para o Povo Brasileiro
O Poeta Verdadeiro
Patativa do Assaré!...
Pergunte, leitor amigo
Aonde foi Patativa?
Terminando a narrativa,
Atentamente eu lhe digo:
Teve ele o seu abrigo
Imediato, no Céu.
Velando pelo incréu,
Além de todo perigo.
Dizendo, sempre consigo:
O Pai proteja o Cordel!
Assim, fique eternamente
Seu verso, sempre presente,
Seu exemplo mais profundo!
Ao reviver Patativa
Repito: sua chama viva
É uma lição para o mundo!
Antônio Goçalves da Silva
Neste Nordeste nasceu.
Para a Poesia viveu!
Estará morto?... Sei não!...
Ainda o vejo entre nós!
Pois Patativa é “A Voz
Que Ainda Canta o Sertão”!
Juiz de Fora – Minas Gerais –
maio de 2006
Luiz Carlos Lemos.