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                  Lúcio Cardoso 
   
            A uma estrela 
 
            Meu domínio é o do sonho,
 minha alegria é a do céu que a tormenta obscurece,
 meu futuro é aquele que amanhece à luz do desespero.
 Só tu saberás o segredo da minha predestinação.
 Só tu saberás a extensão de tantas caminhadas,
 só tu conhecerás a casa humilde em que morei.
 Quem saberia romper o sortilégio que me cerca,
 ó sol vermelho, aurora dos agonizantes.
 
 
            Mas não reflitas nunca o gesto que condena.
 Ai, este país é o da eterna aridez!
 Se da altura a estrela não baixar o olhar ao pântano,
 maior será a sua impiedade que o seu esplendor.
 
 
            E só tu Vésper, só tu aplacarás o meu desejo,
 só tu poderás depositar, nesta carne crispada,
 o beijo que nas trevas dá ao sono a serenidade do repouso.
 
 
 Novas Poesias, 1944
 
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