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Maria de Fátima Maia

mfmaia@hotmail.com

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão
 

Poesia:

 


 
Manoel de Barros

Ensaio, crítica, resenha & comentário: 

 


Fortuna:


albano Martins
 

Alguma notícia do(a) autor(a):

MARIA DE FÁTIMA MAIA nasceu na cidade de Pouso Alegre, Minas Gerais, no dia de São José, padroeiro do Ceará, estado para o qual se mudou ainda criança.  Filha de professora, cursou Direito na Universidade Federal do Ceará e, hoje, é pós-graduanda em Direito Público. Começou a escrever poesia na infância e se prepara para publicar seu primeiro livro de poemas, PALAVRITAS, o qual está em seus retoques finais. (Out.2010)


 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sandro Botticelli, Saint Augustine, Ognissanti's Church, Firenze

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gerardo Mello Mourão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nauro Machado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

José Nêumanne Pinto

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Culpa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alphonsus Guimaraens Filho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rubens Ricupero

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ascendino Leite

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vicente Franz Cecim

 

 

 

 

 

 

Maria de Fátima Maia

 


 

Ao lembrar Éfeso

 

Percorri todos os caminhos

degustei todos os sabores

ouvi todas as palavras...

                           – falácias?

 

Mas a essência que o tudo de ontem

(que é o nada de hoje)

tem

o tudo de hoje poderá ter

e ser nada amanhã

                               também

 

 

 

Dínamo anímico

 

 

Gira roda da vida, roda... roda-gigante

eu estava em ti

                    lembras?

 

Com aquele amor

            de tão grande

                   sufocava-me

 

gira vento das lembranças

os meus braços-hélices

pela saudade, inertes

 

gira e gira urgente

todas as dimensões de meu ser

 

transmuta a força do sentimento

em energia para girar e girar e viver

 

 

A dor de FLOR É A DOR DE MARIA

 

                     A Florbela Espanca

 

 

Ele com olhar furtivo

      bem-me-quer

mas um conturbado início

                              mal-me-que

firme e sério compromisso

                              bem-me-qu

passado não esquecido

                              mal-me-q

o tempo juntos vivido

                              bem-me-

um adeus brusco e sofrido

                              mal-me...

 

 

– é assim que se espanca

uma bela flor...

a alma delicada de mulher

 

embora não queira

o carrasco

em sua memória fica

o perfume feminino entranhado

 

 

 

 

 

Convite à serenidade

 

Em nossa rusga,

seu chiste; rasga-me!

Ó cruel criatura sem cristandade

com a língua, lacera-me –  estocada!

Vocifera veleidades

esforça-se em sofismar...

touché!

Vê-lo, com voz de veludo, pela soberana verdade

 

 

 

Palavritas

  

Pujante pretere forte?

Mas ventura é gêmea da sorte!

 

Sentimento, às vezes, é vaidoso

vai ao armário do vernáculo

e apronta-se todo

somente com o intuito

                  de se fazer notar...

 

E, nesse baile de linhas,

autenticamente deslizar-se

pari passu

           dance comigo

troco de par... trocadilho!

 

 

Conjunto de fatores

 

Pares

de primos

seres de uma só

matriz: resultados ímpares

derivados em função de quê? Vazio?

Mas de que ângulo

o triângulo é

visto?

 

 

PERDER: VERBO ESTÁTICO

 

 

Para que nada aconteça

empoirado e flácido

apenas parado

anoiteça

                            em si mesmo

 

 

Para que a vida resplandeça

entusiasmado  e hábil

to-tal-men-te devotado

aja e creia

                            em si mesmo 

 

 

NA ROTA DA RESILIÊNCIA

 

  subiu su’escadaria...

  abraçada em krisis

   Esgotou a tragédia e

  pensou, sem saída?

   – estação 24 –

                                          deixou na rua

De chofre, um chofer a

 

atraente companhia

                    ... ou ainda em flor

                 desavisada, verde...

   pediu por conta própria

  – estação 21, na surdina –

   De chofre, a um chofer

 

 

 

TUDO DE MIM

 

 

Acordo bonita, dourada como um dia de conquista

mas, às vezes, insone como a solidão que te agonia

 

armada de argumentos fortes, pueris ou liberais

também na defensiva: artificial metáfora... fria

 

energúmena e sagaz, perfumada com luxúria

enfeitada, pura, diáfana indumentária... fugidia

 

sou livre, paciente, delicada e performática...

o que desejas de mim hoje? – De tua servil poesia!

 

 

CALMA

 

 

Penso que passo cada vez

mais apressada

mais aparada

             nesses novos dias

 

Oh eixo telúrico!

 

Tens deixado Chronos

tonto e colérico

a subtrair-me segundos

                            valiosos...

 

Revolta contida:

noutra vida hei de volver!

 

 

 

 

BICICLETA

  

Ô deixe! Deixe eu ir acolá!

Passar um pedacinho de tarde

               na beira do rio

tem tanta carnaúba e piaba

 

Deixe! Deixe eu ir...

 

Vai um monte de gente

vou demorar muito pouco

mas volto feliz que só!

 

 

A Mobília

 

 

O leito bem entalhado

com singelos arabescos

sorria e convidava

ao mais suave regalo

 

Amiúde, lá contei

sem o menor embaraço

todas as dores e dúvidas

de meu ser amargurado

 

Todavia, inocente

fiquei muito incomodada

ela, a minha companhia,

bastante se envaidecia:

 

não há mais linda mobília

nem no mais rico palácio!

 

Humildade! Reflexão!

era tudo que eu pedia...

mas minha amiga bradava:

ingratidão e perfídia!                    

 

Embora incompreendida,

pela amizade sou grata

tempo não fora perdido,

certamente, aprendi:

 

urge-nos o mais sensato:

vamos selar esse quarto!

 

 

Ao VISITANTE de plagas oníricas

 

 

Disseste-me:

 

por quê discurso tão triste?

Louva a tudo que conquiste!

Esquece o que machucou

canta à vida... o amor!

 

Entende-me:

 

é que, assim, faço catarse...

queira Deus não seja tarde!

E que, enfim, em outros hinos

faça odes ao divino

 

 

FRIO

 

 

A solidão que arrepia

mormente a pessoa frígida

no leito... casa vazia

 

Uma brisa que tortura

o pária só na penúria,

gota dágua: azo à fúria

           

Do medo vem calafrio

o suor duma agonia,

da fome, hipotermia

 

O veneno na saliva,

uma chuva de impropérios,

lágrima da tirania

 

Numa maré de incertezas

ou na tristeza sombria:

há apatia... e vicia!

 

Banho de sangue... batalha,

gélida psicopatia:

vestem a carne na mortalha

 

Tu percebes que o inferno

não é feito só de chamas

mas também é plaga fria?

 

 

 

SOTURNA SORTE

 

 

Castanha é a cor de

seus olhos, soturna,

vidrados no sítio

chamado passado,

percorrendo milhares

de centenas de vezes

insensata, de amor,

as mesmas cenas...

Cenas que apenas

em verdes campos

oculares

realmente tem vindo

a ocorrer

 

 

Hoje, sou árvore!

Longitudinalmente, encontro-me há certo tempo no mesmo ponto. Porém, utilizo minhas raízes e absorvo o que este plano, esta Terra, tem a me ensinar através de minhas experiências. Então, cresço, cresço incessantemente em direção ao sol maior: Deus!

Por tantas estações passei e quantas outras hão de vir. Decidi desfazer-me das cascas mais externas. Vou, pois, na contramão da natureza de querer tornar-me mais espessa. Quero deixar mais aparente a minha seiva, revelando minha alma de modo puro.

Nessa primeira perda de anéis de meu ser arbóreo, nessa descamação, as palavras ainda não são diretas; são metafóricas e tímidas... palavritas. Mas, sempre verdadeiras e plurais. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

25.9.2010