Maria de Fátima Maia
Ao lembrar Éfeso
Percorri
todos os caminhos
degustei
todos os sabores
ouvi todas as
palavras...
– falácias?
Mas a
essência que o tudo de ontem
(que é o nada
de hoje)
tem
o tudo de
hoje poderá ter
e ser nada
amanhã
também
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Dínamo anímico
Gira roda da
vida, roda... roda-gigante
eu estava em
ti
lembras?
Com aquele
amor
de tão grande
sufocava-me
gira vento
das lembranças
os meus
braços-hélices
pela saudade,
inertes
gira e gira
urgente
todas as
dimensões de meu ser
transmuta a
força do sentimento
em energia
para girar e girar e viver
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A dor de FLOR É A DOR DE MARIA
A Florbela Espanca
Ele com olhar
furtivo
bem-me-quer
mas um
conturbado início
mal-me-que
firme e sério
compromisso
bem-me-qu
passado não
esquecido
mal-me-q
o tempo
juntos vivido
bem-me-
um adeus
brusco e sofrido
mal-me...
– é assim que se
espanca
uma bela flor...
a alma delicada
de mulher
embora não
queira
o carrasco
em sua memória
fica
o perfume
feminino entranhado
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Convite à serenidade
Em nossa rusga,
seu chiste;
rasga-me!
Ó cruel criatura
sem cristandade
com a língua,
lacera-me – estocada!
Vocifera
veleidades
esforça-se em
sofismar...
touché!
Vê-lo, com voz
de veludo, pela soberana verdade
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Palavritas
Pujante
pretere forte?
Mas ventura é
gêmea da sorte!
Sentimento,
às vezes, é vaidoso
vai ao
armário do vernáculo
e apronta-se
todo
somente com o
intuito
de se fazer notar...
E, nesse
baile de linhas,
autenticamente deslizar-se
pari passu
dance comigo
troco de
par... trocadilho!
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Conjunto de fatores
Pares
de primos
seres de uma só
matriz: resultados ímpares
derivados em função de quê? Vazio?
Mas de que ângulo
o triângulo é
visto?
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PERDER: VERBO
ESTÁTICO
Para que nada
aconteça
empoirado e
flácido
apenas parado
anoiteça
em si mesmo
Para que a
vida resplandeça
entusiasmado
e hábil
to-tal-men-te
devotado
aja e creia
em si mesmo
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NA ROTA DA RESILIÊNCIA
subiu
su’escadaria...
abraçada em
krisis
Esgotou a
tragédia e
pensou, sem
saída?
– estação 24
–
deixou na rua
De chofre, um
chofer a
atraente
companhia
... ou ainda em flor
desavisada, verde...
pediu por
conta própria
– estação 21,
na surdina –
De chofre, a
um chofer
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TUDO DE
MIM
Acordo
bonita, dourada como um dia de conquista
mas, às
vezes, insone como a solidão que te agonia
armada de
argumentos fortes, pueris ou liberais
também na
defensiva: artificial metáfora... fria
energúmena e
sagaz, perfumada com luxúria
enfeitada,
pura, diáfana indumentária... fugidia
sou livre,
paciente, delicada e performática...
o que desejas
de mim hoje? – De tua servil poesia!
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CALMA
Penso que passo
cada vez
mais apressada
mais aparada
nesses novos dias
Oh eixo
telúrico!
Tens deixado
Chronos
tonto e colérico
a subtrair-me
segundos
valiosos...
Revolta contida:
noutra vida hei
de volver!
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BICICLETA
Ô deixe!
Deixe eu ir acolá!
Passar um
pedacinho de tarde
na beira do rio
tem tanta
carnaúba e piaba
Deixe! Deixe
eu ir...
Vai um monte
de gente
vou demorar
muito pouco
mas volto
feliz que só!
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A
Mobília
O leito bem entalhado
com singelos arabescos
sorria e convidava
ao mais suave regalo
Amiúde, lá contei
sem o menor embaraço
todas as dores e dúvidas
de meu ser amargurado
Todavia, inocente
fiquei muito incomodada
ela, a minha companhia,
bastante se envaidecia:
não há mais linda mobília
nem no mais rico palácio!
Humildade! Reflexão!
era tudo que eu pedia...
mas minha amiga bradava:
ingratidão e
perfídia!
Embora incompreendida,
pela amizade sou grata
tempo não fora perdido,
certamente, aprendi:
urge-nos o mais sensato:
vamos selar esse quarto!
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Ao VISITANTE de plagas oníricas
Disseste-me:
por quê discurso
tão triste?
Louva a tudo que
conquiste!
Esquece o que
machucou
canta à vida...
o amor!
Entende-me:
é que, assim,
faço catarse...
queira Deus não
seja tarde!
E que, enfim, em
outros hinos
faça odes ao
divino
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FRIO
A solidão que
arrepia
mormente a
pessoa frígida
no leito... casa
vazia
Uma brisa que
tortura
o pária só na
penúria,
gota dágua: azo
à fúria
Do medo vem
calafrio
o suor duma
agonia,
da fome,
hipotermia
O veneno na
saliva,
uma chuva de
impropérios,
lágrima da
tirania
Numa maré de
incertezas
ou na tristeza
sombria:
há apatia... e
vicia!
Banho de
sangue... batalha,
gélida
psicopatia:
vestem a carne
na mortalha
Tu percebes que
o inferno
não é feito só
de chamas
mas também é
plaga fria?
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SOTURNA SORTE
Castanha é a cor
de
seus olhos,
soturna,
vidrados no
sítio
chamado passado,
percorrendo
milhares
de centenas de
vezes
insensata, de
amor,
as mesmas
cenas...
Cenas que apenas
em verdes campos
oculares
realmente tem
vindo
a ocorrer
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Hoje, sou árvore!
Longitudinalmente,
encontro-me há certo tempo no mesmo ponto. Porém, utilizo minhas
raízes e absorvo o que este plano, esta Terra, tem a me ensinar
através de minhas experiências. Então, cresço, cresço
incessantemente em direção ao sol maior: Deus!
Por tantas estações
passei e quantas outras hão de vir. Decidi desfazer-me das cascas
mais externas. Vou, pois, na contramão da natureza de querer
tornar-me mais espessa. Quero deixar mais aparente a minha seiva,
revelando minha alma de modo puro.
Nessa primeira perda
de anéis de meu ser arbóreo, nessa descamação, as palavras ainda não
são diretas; são metafóricas e tímidas... palavritas. Mas, sempre
verdadeiras e plurais.
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