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Sérgio Mattos


 

Independência


O sonho do poeta
não pode ser vendido
nem o amor, comprado.
O meu sonho e o meu amor
sobrevivem nesta sociedade artificial,
regida pela economia de mercado,
cheia de inflação e corrupção,
porque não precisam de autorização oficial.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Judgment of Solomon

 

Sérgio Mattos


 

A musa


E eis pela vidraça,
sem nenhum disfarce,
eu a vi cheia de graça.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Venus Presenting  Arms to Aeneas

 

Sérgio Mattos


 

Quando sinto


Quando sinto o desencanto, procuro tuas mãos
que trazem o conforto e me fazem palpitar.
Permaneço disperso, sentindo teu perfume
e tua presença, suspensa nas nuvens da imaginação.


Do papel onde escrevo, tuas curvas tomam formas
e, como sombra, teu corpo nu, eu vejo.
Um sorriso va enche-me o rosto
e na tentativa de acariciar-te ouço longe,
muito longe, passos, vozes e o bater da máquina de escrever.


Teu corpo nu desaparece, enquanto o tempo volta a agir
e minhas mãos a trabalhar.
Um leve tremor invade-me a alma
e uma complacente esperança
consola-me, porque tenho certeza
de ao chegar em casa, sobre a cama,
encontrar teu corpo quente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rebecca at the Well

 

Sérgio Mattos


 

Registro


Criamos um momento
de calma e esperança,
quando, sem enganos
nos olhamos e ganhamos tempo.
Senti a ternura e tua mão
e o destino nosso encontro marcou,
abrindo, docemente, uma página da vida
onde nossas mãos se cruzam
e o amor floresce.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

Sérgio Mattos


 

Caminho da esperança


No simétrico caminho da esperança
meu barco rodeia o espaço
e quando a luz escassa
atrai um tempo frio,
meu sonho se acende,
alheio à própria vida,
e me impele sem artifícios,
para teu braços.
Minha dor se dilui
e, enquanto teus dedos deslizam
em meus cabelos,
renasce mais uma estrela infinita.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

Sérgio Mattos


 

A ilusão pertenceu-m


A ilusão pertenceu-me em sonhos
e com vontade de herói entrelacei-me
entre as armas de tão bela batalha...
E a incandescente espada perdeu-se
entre espasmos, enquanto
a ilusão flutuava no espaço
e eu agitava o lençol manchado...

 

 

 

 

 

 

05.07.2006