Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Grief of the Pasha

 

John William Godward (British, 1861-1922),  A Classical Beauty

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Maria José Giglio


 

Biografia

Estreou em livro em 1958, conta com dezenove títulos individuais publicados e participação em outras tantas Antologias no Brasil e no Exterior. Tem sido traduzida e publicada nos idiomas: italiano, espanhol, inglês, húngaro, francês e alemão. Pertence à chamada “Geração 60” paulistana. Seu nome é citado em Dicionários e Enciclopédias referentes à Literatura Brasileira. Consta em sua fortuna crítica os mais conceituados e expressivos nomes da cultura nacional. Tem recebido ao longo da carreira prestigiosas homenagens, comendas e diplomas. Em outubro de 1982 fundou, na cidade de São Roque, SP, onde atualmente reside, a Instituição Cultural CASA DO ESCRITOR, que desde então administra.

Algumas obras

  • 1958/60/62 - 1º, 2º e 3º livros publicados: Versos a um Polichinelo - Luz ao Longe - Poemas ao Amado, respectivamente. Edições da Autora.
  • 1964 - 4º Livro: O Labirinto. Edição Massao Ohno, SP. Ilustrou: Tide Helmeister
  • 1967 - 5º Livro: Sonetos do Oitavo Dia. Edição Promocional para a TodArte Galeria.
  • 1971 - 6º Livro: Poema Total. Edição ILA Palma-SP - Palermo, Itália.
  • 1972 - 7º Livro: 5 Elegias 1 Sonata. Editora do Escritor, SP. Ilustrou: Ferenc Kiss.
  • 1974 - 8º Livro: Salmos Abstratos. Editora do Escritor, SP. Ilustrou: Sérgio Macedo.
  • 1976 - 9º Livro: 3 Motivos + 1. Edição Editora do Escritor, SP. Ilustrado com Ideogramas Chineses. Capa: Luz e Silva.
  • 1979 - 10º Livro: Elementares. Editora Soma, SP. Capa: J. Suzuki.
  • 1986 - 11º Livro: Não. Editora do Escritor, SP. Capa: Luz e Silva
  • 1998 - 12º Livro: Pãdemônio. Publicado na coletânea comemorativa Setevozes. Projeto Cultural Casa do Escritor. Capa: J. Suzuki
  • 2002 - 13º Livro: Para Violino Solo. Publicado em formato revista. Projeto Cultural Casa do Escritor. Capa: Gonzalo Cienfuegos Browne.
  • 2003 - 14º Livro: O Corpo do Mundo.Publicado em formato revista. Projeto Cultural Casa do Escritor. Capa: Juarez.
  • 2004 - 15º Livro: Cartilha Críptica/Poesia Brinquedo. Publicado em formato revista. Projeto Cultural Casa do Escritor. Capa: Leónidas Gambartes.
  • 2005 - 16o.Livro: Fogo de Artifício
  • 2007 - 17º. Livro: Cripiticos Ocasonais/Poesia Lúdica, publicado no formato revista. Projeto Cultural Casa do Escritor. Capa: Gonzalo Cienfuegos Browne.
  • 2008 - 18º Livro: Mosaico/Prosoemas - publicado em CD. Projeto Cultural Casa do Escritor.
  • 2009 - Disponibiliza em ÁUDIO no site da CDE o texto integral do poema A Poesia Impossível. Cria o Blog: Lenha pra Fogueira, com o personagem O Corvo. Edita no youtube o Vídeo nº 1 de Poesia Visual.

 

(Texto redigido em 03.01.2023)

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

Maria José Giglio


 

A Poesia de Soares Feitosa

 

1.)

Seu livro veio confirmar a indelével impressão que conservo da Bahia. Uma palavra só a expressa: demasiado. Para minha pele clara, meu regime vegetariano, minha saúde de porcelana, meu olfato ultra-sensível que um dioríssimo agride; o sol, calor, a exuberância das frutas, dos odores, das iguarias baianas, é demasiado. Agora seu livro com sua capa ensolarada onde floresce um mandacaru grego, suas duzentas e cinqüenta três páginas com fotos, cartas, epígrafes, prólogo, apêndices, bíblia, jornal, manifesto, odes e réquiem, formula-um e prozac, pecados capitais e internet — é demasiado.

Preciso que você me dê um tempo. Para mim a Bahia precisa ser em conta-gotas. Por enquanto estou sob o impacto da imburana-de-cheiro. Eta idéia singular essa de grudar um envelope com pó-perfume num livro de poesia! Rapé, diz você? Pois, meu caro, é a over-dose exata para o meu suicídio. E previno-o, antes que você consiga me enviar as abelhas que dessa vez lhe fugiram — sou alérgica a picada de insetos. Precisei caminhar quarenta anos pelas trilhas sinuosas da poesia, para topar com você, Soares Feitosa, navegando na Internet com uma arca-de-Noé. Assim é impossível não lhe querer bem.

2.)

Li, com a atenção que merece, seu grande livro. Tudo. Introduções, cartas anotações, comentários, e seus poemas. Uma primeira impressão ressalta: a sua dicção discursiva não cansa. E isso pelo feliz achado de intercalar como pequenas ilhas, ou como aqueles corredores de pedras que facilitam a travessia, esses versos explicativos, que aludindo o assunto tergiversam, cortam a corrente, permitem uma pausa, um respiro alentador. Concordo, você é um épico. E seu tema vem das origens e irá até quando houver humanidade: a insuportável percepção da inconseqüência cósmica. Você me remeteu ao existencialismo, ao absurdo, ao mito de Sísifo, a Albert Camus.

Enfim, amei o seu poema Dormências. Tangida por imprevistas circunstâncias cheguei aqui, digo, em um sítio, antes, “praciana, da cidade grande”, e durante quatro anos aprendi na escola da terra, a teimosia das dormências vegetais e humanas. E como se tudo isso, e muito mais que deixo para as próximas cartas, não bastasse, seu livro é uma maravilhosa resposta aos apocalípticos do verso, esses que apregoam, embotados por todos os prós-e-prés da modernidade, a morte da poesia. Viva!, afinal, esse daimon que o possui! Está claro o recado: os deuses ainda não abdicaram do sagrado direito de rir por último. E voilà.
 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA, 1948) - Hanna

 

 

 

 

 

Maria José Giglio


 

Thanatos: Quatro estações


I

Suicido-me todos os dias
indiferente aos apelos
de meu corpo.

Lento e fundo
respira a lagartixa
esta manhã de junho.

Sinuoso
range-range de folhas
movimenta o jardim.

Pelos poros da matéria bruta
a casa exsuda.

Cansa viver.
Assisto com enfado
a intérmina reprise.

INVERNO outra vez
a paisagem embaça.

Álgido arrepio
resseca os ramos
para a ruína das sementes
no asfalto.

Das árvores desfolhadas
pendem como lágrimas
os frutos temporãos.


II

As chuvas chegaram.
Igual peixe no aquário
vejo o mundo liquefeito.

Mais que os brotos verdolengos
é PRIMAVERA
a algazarra dos passáros.

Porque os Ipês
aveludam vagens
e os mornos xaxins
exuberam orquídeas

teço signo e fibras
esse nunca
que anulará.


III

Acontece
o ballet das andorinhas:

Silencioso
o alado círculo
revolteia
em torno a árvore.

Com olhar opaco ____ espio.
Com sentidos frágeis ___ capto.
E não entendo.

VERÃO, agora, é isto:
tropel de nuvens, ventania
chuva, granizo, e cansaço.


IV

Planto três SSS
no limiar deste OUTONO
apesar da terra árida
e o tempo escasso.

Estação das cigarras
da carnação dos frutos
do afã dos casulos
sob as folhas ásperas.

Intermezzo
que fecha o ciclo, e reinicia.

No monturo
dos anos gastos
viceja, sim, rasteira
a melancolia.


 

 

 

 

 

 

 

Jornal de Filosofia

 

 

 

 

 

Maria José Giglio


 

Quinta elegia


Nada sou e nada posso longe de Ti, e partirei!
Não, não perguntes por que nem para onde.
Para a árvore chega o tempo da muda.
Para o pássaro e o peixe o apelo da migração.

Vê, é alguma cousa para além de Ti o que me chama.
Talvez a origem.
Aquele conhecimento indefinível
que carrega o salmão corredeiras acima
e guia os gansos e os cisnes pelos céus afora.
Aquela nostalgia sem nome nos olhos da gazela
aquele definhar sem causa do melro na gaiola.

Senhor, ninguém te amou mais que eu.
Ninguém terá sentido mais prazer
nem mais orgulho entre teus braços.
Ninguém com mais humildade beijou-te a planta dos pés
nem com mais delícia colheu em teus lábios
a saliva ou o riso.

Senhor, ninguém guardou com mais ciúme
no fundo do ser o milagre da posse.
Ninguém se fez tão mansa sob o toque de uns dedos.
Ninguém é mais completa e perdidamente
amor e entrega a ti.
Mas, repara, quando o sol inclina
no horizonte o perfil de ouro
como estremeço e escuto.
Existe uma voz, Senhor
uma voz nas cousas e nos astros a chamar por mim!

Ah, repara
o fruto maduro é boca com o idioma que conheço.
A flor em meu quarto curva a corola e sonha
um sonho igual ao meu.
O menor, o menor, o mais feio e triste animalejo
tem a suave inquietude de meus gestos e de meus atos.
Repara, quando o silêncio veste de leveza minha casa
como espero e anseio.
O segredo do silêncio me pertence
e estou tão longe dele, Senhor!


Não, não me maldigas.
Vê, deixo tudo
vou mais pobre que o mais pobre dos seres
porque deixo a ti tudo o que tenho e sou.
Nada me resta já. Apenas a obediência a alguém em mim
que sou eu mesma e desconheço.

Por que me culpas?
Foi em teus olhos que vi a face que hoje sigo.
Foi em teu peito que ouvi o ritual antigo e nosso
e renasci assim.

Senhor
no fundo dos tempos um tambor entoa o ritmo surdo
e por ele tudo pulsa e vibra.
Quando na praia
cada grão de areia range sob o peso de um passo
quando na fonte cada gota de água surge à luz
quando unida a ti cada célula minha explode em gozo
cumpre-se a melodia no tantã longínguo!

Escuta, em cada pequena letra que componho agora
essa cadência dança e se enrosca ainda.
Senhor, eu sei a música da vida para além de tudo!

Perdoa.
Que seria dos salmões
se de repente o mar bloqueasse as rotas?
E dos cisnes e dos gansos
se nuvens erguessem muralhas nos céus?

Por que me culpas, Senhor, se sou o que fizeste?

Repara que ao deixar-Te deixo tudo o que pediste
e sigo pobre e só
em busca do impossível que me deste.


Do Livro: 5 Elegias e 1 Sonata. Editora do Escritor. São Paulo 1972.
 

 

 

 

 

 

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