Maria José Giglio
Opus III O luar invade a casa como uma serenata para cordas. Na memória essa lua olha naquela sala antiga o amor. Minto. Não era a mesma lua. Nem a mesma sou.
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Opus V Nunca soube escrever o vento. Se as palavras fossem bailarinas sobre o papel se o papel fosse árvore em movimento Impossível escrever o som quando tudo é instrumento :o céu, o mar, a terra o corpo e seu alento.
Opus VI Ouço trovões como tubas alardeando a chuva Ouço glicínias glissando no terraço e a natureza assente ao drama de si mesma. Ouço o silêncio do mundo.
Opus VIII A chuva marimba sobre o telhado. Cada textura e cor altera o timbre. A trepadeira alegre sobre o muro matraqueia. E o contraponto grave da folha larga vermelha. O vento apenas — pródigo vento — todos os tons esbanja e a si próprio assemelha.
Opus IX Lá amarelo em flauta doce a única flor no jovem ipê. Esplende entre os tenros caules num alarde que o chuvisco rasga derruba e cala.
Opus XVII Toca a vespa no vidro fixo da janela uma fuga impossível. Rascante rumor de patas na transparência falsa. Escala repetida sem escape ou pausa. Em surdina agora inútil o par de asas. De Para Violino Solo (2002)
Flashe 12 Vazio e forma se equivalem. Não falo de contornos de pausas mas de ausência. Da paisagem engolfada na garoa densa. Do mundo inconsistente que amarro em signos quando também estou em suspense e para outro visor inexisto. De O Corpo do Mundo (2002)
01.08.2005