Maria de Lourdes Hortas
Poema de despedida
ao que parte para o mundo
Neste átrio para o mundo viste passar nove luas.
Agora estás pronto e eu te digo adeus porque não poderás voltar.
Aqui tens o teu farnel para viagem.
Nele eu pus tudo, sem nada esquecer:
teus olhos, tuas mãos, teu cérebro,
teus nervos, teu sangue, tua vocação, teus sentimentos,
tuas palavras, teu nome, tua vida inteira,
com atitudes a vestir em cada ocasião.
Aqui tens tua bagagem.
Vai devagar, sozinho, ao leme da tua nave.
De ti eu me despeço:
para este átrio onde nove luas passam silenciosamente
não há caminho de regresso.
(in Fio de Lã, 1979)
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Não haveria a rosa
se entre as rosas
não existisse a rosa
mais antiga:
essa rosa-raiz
rosa-semente
inevitável rosa
sempre ardente
há milênios se abrindo
e se esfolhando
entre a rosa da aurora
e a do poente.
(s/t, in Dança das Heras,1995)
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