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Oldegar Vieira 

1915 - 2006

Thomas Cole (1801-1848), The Voyage of Life: Youth

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia da autora:

 

Oldegar Vieira

 

Bernini_Bacchanal_A_Faun_Teased_by_Children

 

Albrecht Dürer, Mãos

 

 

 

 

 

Poussin, Rebecca at the Well

 

Oldegar Vieira


 

Bio-bibliografia:
 

Graduado em Direito, aposentou-se como procurador do estado da Bahia. Foi professor da Universidade Federal da Bahia e, em 1959, colaborou com o Reitor Edgar Santos da UFBA, na implantação da primeira Escola de Administração do norte e nordeste do Brasil, sendo seu primeiro diretor.

Como poeta, Oldegar Vieira foi um dos primeiros poetas a publicar haicai no Brasil, tendo ocupado uma cadeira na Academia de Letras da Bahia e várias outras associações literárias. Em 1940, publica o seu primeiro livro, “Folhas de Chá” pelo “Cadernos da Hora” (São Paulo), com ilustrações e capa da criativa e irreverente artista modernista Anita Malfatti. No prefácio desse livro, ele definiu esse gênero literário surgido no século XVI como “a palheta que tange as cordas das almas. Neles se dá a liberdade interior e pessoal de modular a nota inicial segundo as inclinações sentimentais diversas”.

Oldegar concorreu ao lado de Cecília Meireles ao prêmio da Academia Brasileira de Letras. Sua obra foi considerada “um clássico” pelo crítico literário Octávio de Faria e Carlos Drummond de Andrade não contou por menos e proclamou: “entre nós, sabidamente, quem melhor domina o haicai”. Em 1994, o poeta lança “Gravuras ao vento”, pelas mãos do editor Massao Ohno em co-edição com a Aliança Cultural Brasil-Japão, instituto no qual foi presidente.

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Nurture of Bacchus

 

Oldegar Vieira


 

Meu caro poeta Soares Feitosa

Inicialmente, comovido agradecimento pela admiração e amizade.

Li, e reli algumas páginas, de todo o livro lido, Réquiem em Sol da Tarde, um repositório de inspiração autenticamente poética e brasileira, humaníssima, sem pretensões ou modismos: como água corrente em floresta virgem.

Citar este ou aquele poema, impossível. Todos são tocantes.

Seu livro, além disto, além de ser poesia pura é também de cultura e erudição, distingo e valorizo diferentemente estas coisas.

Honra-me, pois, a sua amizade fraternal.

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Mignon Pensive

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Vicente Freitas

 

 

 

 

 

Oldegar Vieira



                    

Gravura no vento. Pois é desacontecido o acontecimento. Em êxtase, vê-las... Uma a uma, todo o céu porejando estrelas. Pendentes de um fio, gotas de chuva — ou de sol — sob o sol do estio. Dentro do aranhol, de repente, frente a frente, uma aranha e o sol. Animal nasceu. Desanimalmente, agora, vive... num museu. Tarde longa e quente. Tange longe uma araponga seu grito fremente. Compensar sua ausência — evidente, este evidência! — só sua alegria. À pista vermelha de uma flor, vem uma rima e aflorissa: abelha. Incrível talento, o desse escultor das nuvens — genial! —, o vento. Ploc! Uma rã pula no silêncio da lagoa, e o silêncio ondula. Não metal de sinos. Vil-metal agora é a rima que canta o Natal. Nos cinzeiros jazem — antecipantes — as cinzas mortais dos fumantes. Seu corpo enriquece a terra. E a saudade é a flor que floresce. Ela — uma andorinha — vendo as outras que não estavam — nem uma — sozinha. Claro desafio: sete cores luminosas ante um céu sombrio. Fantasmagoria: uma borboleta preta em noite vazia. Interrogativo à beira de um charco, um velho coqueiro — pendido. Lenta, lentamente, um caleidoscópio gira. Gira-sol poente. Oca, ressequida, na carcassa da cigarra, em silêncio, a vida... Cabelos ao vento, soltos, como vão revoltos — ah — seus pensamentos. Doze, compassadas, tangendo o silêncio e o tempo, doze badaladas... Fina e clara, a chuva, qual a janela que tem mais bela cortina? Nuvens e mais nuvens a passar, bem que me deite. Foi-se o ... meu luar. Uma flor no mato solitária, rubra, sangue no verde compacto. Não tem sul nem norte, nem oeste ou leste — é céu. Céu somente azul. Voltevolteiando no cristal do tanque, as carpas silenciosonhando... Sol da madrugada. Vai surgindo: dentro de uma teia iluminada! Uma borboleta. Nada mais, nem leve aragem. E a rosa é desfeita. Flor em que não vai a libélula pousar. Na espuma do mar. Por acaso a sua caminhada é a mesma, ou ela o acompanha, a lua? Ramagens crestadas reflorindo: borboletas nas cinzas, pousadas. Voz da cachoeira, ao viço da mata vai líquida poeira. Reflita: no espelho, aquele que o imita, quem será? Você? Lembradas jamais, as flores do morto vão mortas, muito mais. Tem cativo, o canto, mas o muda borboleta é livre, no entanto. Noite a dentro, um cão late, insone, a quem nem late, seu insone irmão. Ah, esse berreiro das cigarras no austero parque do mosteiro... Num céu claro e puro, um corvo paira sereno — feio, torvo, escuro. Cai a neve, e penso no quanto se deve ser puro como a neve. Que fazer com as mãos, não mais — não — senão guardar seu fugaz perfume? Ouracorrentado. Entre seios femininos, recrucificado. Espana a poeira de luz das estrelas, ou — no vento — é palmeira? Mudos edifícios permutando, permutando surdos malefícios. Fuçando em monturos, anjos andrajosos de presépios escuros. Chuva de verão, chuva de flores na chuva. Reflorindo, o chão. Os bois, pacientes. Mas as rodas, por que vão gemendo, gementes? Brancos, a igreja e o casario entre verdes, escorrendo ao rio. Na rua quieta, a flauta de um vagabundo — músicopoeta. Nas mãos de uma negra — noite-escrava —, uma urupemba peneirando estrelas. É flor esquecida, esta que resta no mármore, lembrando outra vida? Um fruto maduro, pendente, precisamente na linha do muro. Trapos do abandono — do espantalho — vai levando o vento do outono. Sob o anil do céu e ao sol — branco — um enxoval num varal, ao vento... Tê-las nas mãos quis, pois jamais alguém falara ao cego, de estrelas. Junquilhos envergam. Flores de neve pousando nas hastes, de leve. Na rua deserta — desperdício — eis que ela passa numa hora incerta. Flor de velho amor, expressiva? Só se for — morta — a sempre-viva. Serão. Ninguém fala. Somente os trilos dos grilos nos desvãos da sala. Grávida ela passa, e como vai cheia, cheia de Vida e de Graça. E o menino via: afinal, esse "natal"... não o merecia. Não mais florescentes, no lixo largadas, são flores — defloradas. Tatuagem móvel no pavimento: a ramagem ao luar e ao vento. Que Deus o proteja não pede. O que pede é pão na porta da igreja. Andorinhas: fusas na pauta dos fios, ou... ou semi-confusas? Pétalas levava — eram rosas — nas suas, outras mãos, nervosas. Sim, cantar mas sem — como a cigarra — pensar que a morte lhe vem. Musicalizado na folhagem, vai o vento, músico em viagem. Mudos nas estantes, são pacíficos soldados? Mudos mas prestantes. Quase um rei deposto. Não mais arde o sol da tarde. No espelho, o seu rosto. Auroralmagia! O canto claro dos galos clareando o dia. Lâmina de luz — a lagoa — estilhaçada sob a chuvarada. O mal da intriga sofre o mundo mas, ao monge, o silêncio abriga. Somente a ilumina — à imponente nave em sombras — uma lamparina. Brutos lenhadores mas bastante foi que vissem um ninho entre flores. Túmida e sangrenta, da escura folhagem surge lenta, lenta, a lua. Lavando e cantando, o riacho e as lavadeiras, cantando e lavando. Quebrado o relógio, fez-se eternidade o tempo desmecanizado. Por entre os telhados, mamoeiras, bananeiras — bem domesticados. Numa folha escrevo todo um poema: seu nome. Na folha de um trevo. Na concha rosada de uma pétala, uma pérola de orvalho, engastada. Bagunça, arruaça, nenhuma... a não ser dos pombos, os donos da praça. Sombra do seu corpo diz que sou, mas foge e faz sombra em minha vida. Seixo — ao léu rolado, rolarrolando... exilado peso-de-papel. Causa de desgosto, a mensagem vai no rosto como tatuagem. Na ramada nua pousado, um corvo, calado, vê nascendo a lua. Na clara do céu flutua — lua de fogo — a gema do sol. Acaso... um acaso? Ou proposital derrame de tintas no ocaso? Difuso e em surdina, o rumor de uma cascata dentro de uma neblina. Pétalas caídas ou borboletas dormidas que o vento desperta? Não lhe serve a prosa. Só em linguagem poética diga o nome "rosa". Repentinamente, pálido clarão! E tudo viu-se — diferente. Morto agora o rio, o espelho da velha ponte é o leito vazio. Coisa no abandono, o espantalho fustigado, ao vento do outono. Solidão de um rosto na vidraça, e a chuva: lágrimas descendo na face. Escuras, as nuvens. Só, na cinza do silêncio, zinem tanajuras. Cedo embranquecidos, meus cabelos, meus pesares, meus, — como escondê-los? Noite, vento frio. Cinzento, um galho sem folhas no açoite do vento. Pétalas pingando, do sangue de um flamboian, na lama do mangue. Elas, entre céus; no espelho do tanque tocam-se, par em par — libélulas... Outonal, dourado, nas folhas coado, o sol como num vitral. Treva emperdenida. Um vaga-lume resume toda a luz da Vida. Bobo da TV, triste figura, Papai Noel, mas da usura. Acesas no asfalto, quatro velas. Pela imóvel vítima de um auto. Nas poças, a lua. Pontuando, após a chuva, o texto da rua. No céu, dançarino papagaio-de-papel Na terra, um menino. No arame farpado da fronteira um — apátrida — pássaro pousado. Em nesga de pedra um passarinho a plantou, e a semente medra. A um sino e silêncio, vem a borboleta e pousa. Pousa no silêncio. Tão brando é o afago da brisa, mas como dança a lua no lago. Usa óculos pretos. Ele quer sua vida ver como a tem, sofrida. Num botão de rosa, ainda fechado, o encanto — pleno — imaginado. Geomorfologia o vento nas dunas faz, mas também poesia. O orvalho desliza da folha — um pingo de sol — ao toque da brisa. Por entre esqueletos pretos passa o vento e colhe flores de fumaça. Natureza morta. Frutos, caça, vinhos? Não. Maletas de couro. Havendo jasmins, há um céu de estrelas, sempre, no chão dos jardins. Veio violento mas só fez cobrir de flores seu caminho, o vento. Neve natalina. Um menino cara-suja contempla a vitrina. Canta, permanece alheia à morte, a cigarra, e a morte a esquece. Quando acesa a lua, o prefeito, se é perfeito, escurece a rua. Laranjeiras — rua onde vive o mulherio seu sonho perdido. Moldura vazia: ela não veio, não vejo o esplendor do dia. Em sua mortalha tem, agora, flores — vivas — a velha muralha. Ao longo da praia, ao luar, o mar estende rendas... de cambraia. Lanterna de pedra. Quanto apagada, mais viva sua luz eterna. Pontuando a insônia, um grilo somente pondo vírgulas no trilo. Travessas, ficaram no pátio secando, ao vento, somente as roupinhas. Poleiro de um corvo, o espantalho anunciando o inverno, agoureiro. Apita o trem, parte. Asa cativa — de quem? — um lenço se agita. Um tiro reboa. Entre o azul e o verde, um grito branco e aflito, voa... Luzes derramadas — Via Lactea — resumindo todas as estradas. Anoitece, e além, longe, a sombra amortece o toque de um sino. Ausente, presente lume vivo, vago, esquivo na treva — insistente. E à festa das flores, a espada do samurai, — por que, por que vai? Ante a vida ausente, na brisa, as chamas das velas dançam vivamente. Já secas e mortas mas ao vento, em revoadas, — serão... folhas mortas? Noturna fuligem. Brilha o rastro de um astro e morre, em vertigem. Somente uma sombra, um instante, e foi — passante — desfazer-se em bruma. Revoadas branas sobre rochedos escuros. Gaivotas e espumas. Semelhantes dores sofre a casa, envelhecendo com seus moradores. Calado e sozinho — seu bordão, sua lanterna — seguiu seu caminho.



 

 

Vidula Sawant

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Deise Assumpção

 

 

 

 

 

 

Oldegar Vieira


 

Revoadas


Revoadas brancas
sobre rochedos escuros:
gaivotas e espumas.



Alvorada


Pouco a pouco vai
canto claro dos galos
clareando o dia


 

 

Giselda Medeiros

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Gizelda Morais

 

 

 

 

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