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Pedro Marques
Viver um samba absurdamente
simples
e triste
de Adoniran Barbosa
e o coração aumentar o tique
e os olhos derrubarem
uma lágrima que de tão simples
só
molha
(Em
Cena Com o Absurdo,
1998)
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Um
tarado
está à solta
que
mora com a sogra,
faz questão de trocar
a fechadura da porta
A senhora, trabalhadeira,
chega
da lida lá
pelas dez da noite,
hora
em que
o meliante,
segundo
testemunhas,
costuma fazer levante
(Em
Cena Com o Absurdo,
1998)
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Ela
detesta a série
Máquina Mortífera,
adora novela das oito,
contesta a revista Carícia
e acha o Latino
muito louco
Moça
de família,
inteligente
e bem educada,
sem
nenhuma patente anomalia
Pergunta-se à patrícia:
Você é a favor da pena de morte?
Pelo fim da violência,
of course!
E a legalização do aborto?
Que
absurdo! Que culpa tem a
criança?
(Em
Cena Com o Absurdo,
1998)
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No way
Menina,
de fato és bela!
Mas
não te
quero
Seria preciso
namorar,
conhecer
passado
família
teu
gato
Quero aventura de puta!
Contigo
há trabalho filosófico
E como sou
preguiçoso
pra
voar com
Camões:
Não
te quero não
(Revista de
Poesia Salamandra, 2001)
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Maria Celeste
Balada morta
madruga espessa
achei Maria Celeste
marulhada no ar
Os pés importavam asas,
as mãos queriam nadar
Nas olheiras do mar
conheci minha ressaca
Marcas de cerveja na praia,
bancos
de astros e corais
(Revista de
Poesia Salamandra, 2001)
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Amizade
Bom
é jogar luas
de unha
janela
afora
pra
me matar
um pouco,
pra
nascerem delas
novos
demônios
Uma luta de
tempestades
vai amamentá-los
E eu,
pai
orgulhoso,
levarei a passeio,
ensinarei futebol
e os apresentarei a um
amigo.
(Revista de Poesia Camaleoa, 2002)
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Fuga
No quarto embaralhado, se acomoda
a lavanda
talhada
pelos corpos
Assinalo as entradas de sua fuga
Os trincos na sua luz
acompanham
meu
estudo rítmico
E podada a lua da
moça
entrevo o violino
no movimento dos astros
(Revista de
Poesia Lagartixa, 2003)
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Atelier
Trabalho
um
quadro dela
Não
há pincéis, tempo ou esboço.
Tampouco
ela repara
Também
não lhe
darei de presente esta
obra,
provisória
como todas
Mas
há luz!
Destaque-se a porcelana das
pernas
A cabeça
em
poses de girafa
Os seios avançam sobre a hora do
rush
Meus
olhos pintam inutilmente
(Revista de
Poesia Lagartixa, 2003)
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O Atropelado
Quando ele voou embalado pela cidade,
a moça desconhecia time
ou possíveis amores
Mas ele pululava fresco como seus vinte anos
Os recheios da bolsa e do moço acrobata
confundiam-se nas suas mãos de noiva
Ela ainda dedilhou um acorde vermelho
nos cabelos dele,
antes de tomar o ônibus errado
(Revista de
Poesia Lagartixa, 2003)
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A baleia
Armemos a lista
Como
desafogar da memória
uma a uma
as pré-históricas baleias de seios lisos
que
abati?
A soma, papo
de pescador,
à vontade de glória
Talvez
seja melhor um ideal de baleia,
meticulosamente
montado,
com
as partes
mais
intrigantes
das melhores baleias
de nadadeiras menos estriadas
Ou,
ainda, uma lista
transnacional,
digamos hotel-à-beira-mar,
onde
se bronzearia, naturalmente,
qualquer
sonho de sereia
(Revista de
Poesia Lagartixa, 2003)
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