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Santo Souza 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

   

  

 

   

Poesia :


Ensaio, crítica, resenha & comentário:

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Alguma notícia do autor:

 

 

 

Michelangelo, 1475-1564, David, detalhe

 

Rafael, Escola de Atenas, detalhes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

Santo Souza


 

Nota bibliográfica, por Gizelda Morais:

 

 

SANTO SOUZA - nasceu e vive em Sergipe. Seu primeiro livro de poesias publicado foi CIDADE SUBTERRÂNEA (1953), seguiram-se CADERNO DE ELEGIAS (1954), RELÍQUIAS (1955) e ODE ÓRFICA (1956), cuja primeira edição, foi publicada, como os livros anteriores, por José Augusto Garcez em seu Movimento Cultural de Sergipe. Continuando sua trajetória de poeta, publica PÁSSARO DE PEDRA E SONO (1964), CONCERTO E ARQUITETURA (1974), PENTÁCULO DO MEDO (1980), A ODE E O MEDO (reedição da ODE e do PENTÁCULO com um canto introdutório em 1988), ÂNCORAS DE ARGO (1994), A CONSTRUÇÃO DO ESPANTO (1998). O crítico de literatura Jackson da Silva Lima encontra afinidades do poeta com outros da categoria de Valéry, Rilke, Fernando Pessoa e Eliot, mergulhando fundo na simbologia, esoterismo e complexidade de PENTÁCULO DO MEDO. O poeta foi agraciado com o Grande Prêmio de Crítica 1995, concedido pela associação de Críticos de Arte de São Paulo.

 

Gizelda Morais

Leia obra poética de Gizelda Morais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

Santo Souza



Ode órfica I
(Estrofes iniciais)
 

 

Era tão clara a tua voz, e tão
limpo o teu canto inaugural, ó noite,
que o tempo adormecia em tuas mãos!
De início, rejeitamos teus conselhos
dissimulados. Nautas fugitivos,
eis que a nave de Orfeu, que pilotávamos,
não nos pertence mais, pois a ofertamos
àqueles que hão de vir colher conosco
a treva e o medo, embora eles, no lago,
com a vida e as águas entre os braços, nos
surpreendam no triângulo da morte,
os olhos florescendo como peixes
que o teu milagre, ó noite, fecundou!
 


Transportamos pirâmides nos ombros,
para, sobre elas, construir o mundo
que nós, por sermos livres, sugerimos.
De música fizemos nossos mares,
para conter o céu que nos persegue.
Mas somos frágeis para suportar
a cabeça do Eterno, que se inclina
sonhando sobre nós, enquanto vamos,
ladrões famintos, carregando sombras.
Morrer? Não era a morte o que sonhávamos.
Somos pobres demais para morrer
com tanto ouro nas mãos, tanto arco-íris
nos olhos desta aurora que engendramos.
...
 

 

Do livro ODE ÓRFICA, 1956

   

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova. 1864.

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Virgílio Maia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Goya, Antonia Zarate, detalhe

Santo Souza


 

Elegia número 16

 

Criaram flores de existência efêmera,
criaram noites e auroras nos caminhos,
aquários musicais para a canção
e estátuas para a vida e para a morte.
 


Criaram o teto do céu que sustentamos
em colunas de estrelas e de mares
e os rios que afagamos, derramando
a poesia da vida em nossas mãos.
 


E criaram também rios insones
que as nossas mãos jamais hão de acolher:
criaram faces com sulcos para as lágrimas,
pois havia corações para sofrer.
 


Mas sob o teto do céu que sustentamos
nós somos flores de existência efêmera
e – estátuas para a vida e para a morte –
nos deram olhos humanos para o pranto!

 

Do livro CADERNO DE ELEGIAS, 1954.

   

 

Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

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Yêda Schmaltz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido

Santo Souza



Opus 8

 

de auroras,
noites
e sereias


Jogo os dados no mar, como quem joga
a sorte das estrelas ou do vento,
e fico a embaralhar as ondas, como
o lúcido hierofante que desvenda
 


nas cartas o destino dos mortais.
Não sei qual é a carta-chave, mas
capto o sentido exato e a voz de quem
profere a frase mágica de tudo.
 


E se há no fundo náufragos que vão
com dedos ágeis folheando páginas
de noites e de auroras impossíveis,
 


na superfície há sempre olhos profanos
de peixes e sereias, traduzindo
o jogo de meus dedos sobre o mar.

 

Do livro CONCERTO E ARQUITETURA , 1974

   

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), L'Innocence

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César Leal