Francisco Miguel de Moura
Quadra anatômica
Sobre linda, minha tia
era mesmo uma tiazinha!
Duas amêndoas nos olhos,
os seios – amendoazinhas.
Idade? Dez a catorze,
não me lembro e nem precisa,
a mesma do seu sobrinho.
Só recordo que ela tinha
um rosto branco e vermelho
e uma curta blusinha.
Brincávamos no arvoredo,
vezes descendo e subindo,
ela na frente, eu atrás,
estava sempre sorrindo.
Boa tia, infância minha!
Mas um dia ela morreu,
não devia ter morrido.
Antes velha encarquilhada
que este peso em meu sentido.
Infância e tia – perdidos
que eu só devia enterrar
na marca do seu umbigo,
na ternura dos seus seios...
– Nas pregas do seu vestido.
Do tempo não me esquecer!
Assim, fiz minha cantiga
cantada na moda antiga
pra meu sonho não morrer.
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