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Bernadette Lyra

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium
Poesia:

Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Alguma notícia da autora:

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), L'Innocence William Bouguereau (French, 1825-1905), João Batista

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Bernadette Lyra


 

Bio-bibliografia


Maria Bernadette Cunha de Lyra nasceu no municipio de Conceição da Barra, no Estado do Espírito Santo, em 21/10/1938, filha de Álvaro Lyra e de Maria das Dores Lyra.

Licenciada em Letras pela UFES doutora em Artes/Cinema, ECA/USP. Pós-doutora pela Universidade René Descartes, Sorbonne - França, 1989. Escritora e professora universitária nas áreas de literatura e cinema. Foi Secretária de Cultura no Espírito Santo. Tem trabalhos publicados em revistas e jornais de todo o país.


Obras:

  • As Contas no Canto (contos), 1981
  • O Jardim das Delícias (contos), 1983
  • Corações de Cristal ou A Vida secreta das Enceradeiras (contos), 1984
  • Aqui começa a dança (novela), 1985
  • A Panelinha de Breu (romance) Ed. Estação Liberdade, recriação parodística da lenda capixaba surgida a partir da história de Maria Ortiz, 1992
  • Memória das Ruínas de Creta, 1997
  • Tormentos Ocasionais, 1998
  • Tradução de Aden, Arábia, de Paul Nizan
  • A Nave Extraviada (não-ficção), 1995
  • O Parque das Felicidades (contos), 2009
  • A Capitoa (romance). 2014.
  • Fotogramas do Brasil; As chanchadas ( não-ficção) 2014.
  • Água Salobra (crônicas) 2017.
  • O Jogo dos Filme (não-ficção) 2018.
  • Ulpiana (romance) 2019.
  • Guananira (crônicas) 2019.



FONTE: Antologia de Escritoras Capixabas, de Francisco Aurélio Ribeiro - 1998
Coletânea "Escritos de Vitória" 2 - Contos e 10 - Escolas, da Secretaria de Cultura e Esporte da PMV - 1993.

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Bernadette Lyra


 

FRATERNIDADE


Há quem venha como eu por estranhos caminhos
Há quem voe como eu por estranhos espaços
Há quem ande nas asas do vento
e quem suba mais alto
que o vôo mais alto
dos pássaros.

Repartir-se mais simples que o pão
dar-se lhano qual água
estendidas mãos magras tocar como quem colhe
um fruto
há quem saiba.

Nos descantos
da morte
acalanto
há quem cante.

Há quem vague como eu. Por desertos
navegue.
Quem se perca
por poucas doçuras. Desatinos
quem faça.
As amarras da terra, talvez, há quem parta.

Todo tédio do mundo
há quem desça até o fundo.

Há quem traga
também, como eu,
enterrado nos ossos
este humano cansaço.

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Venus Presenting  Arms to Aeneas

 

 

 

 

 

Bernadette Lyra


 

POSSE


Ainda noite
chega-me à cama
a poesia.
Tange-me a veia
prende meus dedos
sobe-me ao ventre.
Destranço as pálpebras
no rosto espanto
ponho, de pó.
Todos os dias, ainda noite, destranço as pálpebras.
Cola-se ao corpo
tonto de sono
a poesia.
Desnuda o ombro
adere à pele
busca-me a anca
cose seu dente
na carne. E o dia
no espelho côncavo
se delineia.

- Deixa-me os ossos
rogo e suplico.

Rói-me o esqueleto
morde meus dedos
arranca a pele
suga-me a veia
fere-me a anca
rasga meu ventre
devora a carne
atinge o cerne
a poesia
enquanto o dia
no espelho côncavo
se delineia.

 

Poussin, Venus Presenting  Arms to Aeneas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jacques-Louis David (França, 1748-1825), A morte de Sócrates

 

 

 

 

 

Bernadette Lyra


 

VIAGEM


Pelos meus dedos molhados
escorrem largos oceanos.
Pelos meus dedos azuis
desfilam navios esquálidos.
Meus dedos estão cansados
por isto, já nem se fecham:
portos vagos abrem-se e deixam
partirem todos os sonhos.

Os sonhos vão como mortos
em seus esquifes marinhos
nos corpos sem consistência
pousam anêmonas. Os rostos
entre rochedos opostos
desaparecem. Mistério
exibe-se em ar grave e sério
à terra do esquecimento.
Restos de brumas aladas
perpassam na maresia.
Minhas mãos já não sustentam
quilhas contra as águas claras.
Cantam na vela enfunada
ventos de todo quadrante
por mais que busquem o horizonte
o infinito os afasta.

- Sou como viageiro estranho
por mais que busque e navegue
do infinito o talvegue
jamais reencontro os sonhos.

 

Jacques-Louis David (França, 1748-1825), A morte de Sócrates

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bernadette Lyra


 

AEROPORTO


Redemoinha
preso o vento
- o vento ou o pensamento?
nas asas de prata e sol.
Surdamente
zune o vento
- o vento ou o pensamento
na torre de ferro e sol.

Desliza
veloz o vento
- o vento ou o pensamento?
na pista de asfalto e sol.

Parte o pássaro
ao vento.
Partido
o pensamento
quem fica
parte
de quem
partindo
assim se
reparte
pensamento
vento
sol.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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(05.06.2023)