Alceu Brito Correa
In illo tempore
sempre o distante batuque igual,
harmonia duvidosa na minha descompassada memória
não vejo mais columbinas nem pierrôs;
algumas mulheres com os peitos nus,
sacodem as minhas vontades,
esbugalham os meus olhos em verdadeira
tortura chinesa,
virtual beleza na telinha,
deixa-me ainda mais nervoso e agitado,
rolo-me na cama insone e cansado.
trouxe-lhe de longe o doce dos tempos
felizes, olhares de antanho pousaram
eróticos, pensamentos fugazes, outrora
proibidos, retornaram à terra natal como a tentar
realizá-los naquele momento de quase sonho
tocou-lhe o fundo de sua síndrome neurótica
(isso jamais pudera fazê-lo acordado)
cerrou as pálpebras trêmulas sem procurar esconder
as palpitações de antigamente.
riscos incertos no chão do quintal
1, 2, 3...céu de amarelinhas,
noites de São João, de São Pedro,
depois de Santo Antônio,
evangelhos enfumaçados de distante
lembrança ainda tão forte
viu Soraia pulando em uma perna só,
abaixando para pegar a pedrinha...
(quase se via sua calcinha)
noite alta, sorrateiras recordações
hoje não quer quentão, nem pamonha
com queijo, quer Tereza da Zezé,
jovem bonita e sem vergonha.
o bar da esquina ainda está aberto;
vazio de todo, servindo ilusão
para quem vive sem sonhos sonhando
em vão esperando o amanhã tão tarde
o Sol nascendo, ferindo os olhos vermelhos
do ontem acordado pessoas apressadas
já vão trabalhar sonhando em descansar.
beatas rezam no primeiro minuto da igreja
aberta a alma clama por calor humano,
o sono não deixa o sonho cair na realidade
desconhecida do dia de hoje;
quantos passados se passaram numa noite
sem frio, sem calor, sem amor, sem amar
a moça na janela não sabe dizer o tempo
ou se todos passamos em vão...
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