Alceu Brito Correa

O poema
 

a Mário Quintana
a Manuel Bandeira
a Fernando Pessoa

 

Quem és tu?
_ Eu?, sou a ânsia de saber quem sou;
o esgar de minha boca
não é meu.
Herdei não sei bem de quem.


_ Eu?, vim com a chuva de Stroncio,
sou a Rosa de Hiroshima,
vermelha e fatal.


Quem és tu, afinal?
_ Eu?, não tenho face,
uso essa estranha máscara,
mais verdadeira e real
do que minha própria face,
se a tivesse...
 

Início desta página

Alceu Brito Correa

Arte sã

 

a paleta do pintor, confusa, inquieta,
   multicolorida, é quase mais bela
        do que a pintada na tela

             Mário Quintana

 

teu rosto mimoso
tem as cores do espanto
e do encantamento


teus olhos têm um brilho
próprio


és tão bela assim
sem qualquer maquilagem...
 

Início desta página

Alceu Brito Correa

World Trade Center
   Set - 11 – 2001


... e as árvores de concreto
ruíram em bolas de ódio
e de espessa descrença


o horror de mim e o de todos
fez pensar em um certo
cansaço de Deus...
 

Início desta página

Alceu Brito Correa

2001, reveillon


rompeu o dia, taças de champanhe,
fogos, festas, ano novo
no céu, estrelas parecem
não se emocionar
algumas descem e se
espraiam na água funda
da piscina sem se incomodarem
com os rojões, foguetes, espiralinhas


crianças já foram dormir, cansadas
algumas pessoas queridas
não puderam esperar mais
e dormem profundamente há tempos


uma lágrima em um rosto
denuncia uma saudade


pessoas se abraçam felizes
brindando algo novo e incerto
falando alto, cantando
as crianças até podem acordar
e perceber que todos estarão algum dia
também dormindo profundamente
em outras noites como esta.
 

Início desta página

Alceu Brito Correa

Astúcia


o Sol nascente
da à raposa enorme sombra
comprida, talvez mais faminta
a seus olhos madrugadores,
fazendo com que pense em um boi
para almoçar, quando, quem sabe,
para saciar sua fome
um rato haveria de lhe bastar.
 

Início desta página

Alceu Brito Correa

Criança esperança 2


roupa posta ao sol
balouça no varal


criança esquálida
brinca no chão batido
suja, andrajosa
come da terra o seco torrão


a mãe mira o horizonte
sempre igual
com olhos sem expressão


“_ mamãe, mamãe, quando eu
crescer vou ser que nem
você?!”
 

Início desta página

Alceu Brito Correa

Criança esperança 3


sob os olhos, dois riscos
descem rosto abaixo


o pai preso, o irmão morto
a mãe grita espavorida:
“_ o quê será da minha vida?!!”


(o menino triste sequer
percebe a dor intensa
em seu estômago vazio...)
 

Início desta página

Alceu Brito Correa

Criança esperança 4


“_ minha filha não tem pai,

mas tem padrinho;

na rua é de respeito:

ganha cesta básica!”
 

Início desta página

Alceu Brito Correa

Cristais


glórias alcançadas ontem
não dão a medida
exata de um homem
assim como as de hoje
podem não ter significado se
ele nada mais almejar
na vida
 

Início desta página