Adelaide Lessa
Quando deus mãe
se faz gata
Não sei o que é mais bonito,
se Teus olhos, se Teu pêlo,
se Teu rabo, Tuas garras,
Teu focinho, Tua mímica,
às vezes, maquiavélica.
Reparo quanto és
flexível,
relaxante, estouvada,
altiva, ferina, tépida,
fiel, macia, secreta,
às vezes, mefistofélica.
Tens o poder de
arranhar,
lamber, dar cria, miar,
escapulir, ronronar
(descansar, deusa de OHM,
em tom de céu infinito).
Não sei o que é mais bonito.
Um casual
companheiro,
uma lúdica ninhada,
— o leite nas tetas, livre,
serve órfão e adotivo —
generosa mãe bichana,
predileta de Sant'Ana,
conheço Tuas sete
vidas,
sete fôlegos de gata,
de quem leva bordoada,
lata cheia de cerveja,
os tiros de um trinta-e-oito,
sobe muro e limoeiro,
salta em telhado de vidro,
raspa cacos de garrafa,
enfrenta cão perdigueiro,
e da antena parabólica
— viva!
cai de pé
para correr.
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