Adalgisa Nery
Biografia:
O nome da poeta
Adalgisa Nery (1905-1980) deve soar, para a maioria dos leitores
como desconhecido. Mais ainda: mesmo quem tem informaçãoo sobre o
nome dela pouco sabe sobre seu trabalho.
Adalgisa Maria
Feliciana Noel Cancela Ferreira, nome de batismo de Adalgisa Nery,
foi poeta, jornalista, prosadora e política. Nasceu no Rio de
Janeiro, filha de um funcionário municipal. Órfâ de mãe desde os 8
anos, estudou como interna num colégio de freiras. Aos 16 anos,
casou-se com o pintor paraense Ismael Nery, um dos precursores do
modernismo. O casamento durou até a morte de Ismael, em 1934. A
relação foi conflituosa e até violenta. O casal teve sete filhos,
dos quais sobreviveram apenas dois.
Viúva, e
obrigada a trabalhar para sustentar os filhos, Adalgisa lançou seu
primeiro livro, Poemas, em 1937. Três anos depois, casou-se com o
diretor do temível Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP,
criado pelo ditador Getúlio Vargas em 1939 para difundir as ideias
autoritárias do Estado Novo. O casamento durou treze anos. Nesse
período, Adalgisa viajou pelo mundo em missão diplomática,
acompanhando o marido,
Separada,
abandonou a literatura e passou a dedicar-se ao jornalismo. Também
adotou a política. Foi deputada três vezes pela legenda do Partido
Socialista Brasileiro. Depois do golpe militar de 1964, passou ao
MDB e foi cassada em 1969.
Seus últimos
anos foram melancólicos. Nos anos 70, viveu de favor, durante algum
tempo, numa casa do apresentador de televisão Flávio Cavalcanti, em
Petrópolis (RJ). Escreveu ainda seis livros -- entre os quais dois
de poesia. É dessa época o romance Neblina (1972), dedicado a Flávio
Cavalcanti. Essa dedicatória, certamente ditada pela gratidão, pegou
mal na difícil conjuntura política da época. Cavalcanti era tido
como dedo-duro nos meios de comunicação.
Em 1976,
Adalgisa recolheu-se a uma clínica para idosos, no Rio. Um ano
depois, sofreu um acidente vascular que a deixou hemiplégica. Morreu
em 1980.
Autora de
poemas, contos, crônicas e romances, Adalgisa teve seus dias de
glória. Viúva aos 29 anos e dona de um perfil de mulher fatal,
consta que ela destroçava corações. "Acho que todos nós a amávamos,
mesmo sem saber que se tratava de amor", escreveu Carlos Drummond de
Andrade após a morte dela. Também se sabe que o poeta Murilo Mendes
foi perdidamente apaixonado por Adalgisa. Chegou-se até a sugerir
(não há provas) que ela fora amante do ditador Vargas.
Não conheço a
prosa da autora. Tive a oportunidade de ler sua poesia quase
completa, que está no volume Mundos Oscilantes, publicada pela José
Olympio em 1962. Escrevi "quase completa", porque ela ainda produziu
bastante depois dessa data. De todo modo, Mundos Oscilantes contém
seis livros (1937-1962), o essencial da obra poética de Adalgisa.
Talvez por causa
de sua trajetória pessoal, marcada desde cedo pelo sofrimento,
Adalgisa produziu uma poesia em que predominam os tons cinzentos.
Mesmo quando ela proclama amores incondicionais, há sempre uma
fragilidade de nuvem, uma busca de transcendência.
Quando li Mundos
Oscilantes, fiz a seguinte anotação: "Uma poesia que parece
eternamente ancorada no cais da solidão, do desalento, da morte. Nas
mais de 300 páginas desse livro, não se encontra um só poema de
clima um pouco mais solar ou mesmo cujo tema se volte para coisas
mais concretas, fora da trilogia solidão, desalento, morte. O tom,
às vezes, beira o apocalíptico".
Talvez por causa
dessas características, o volume se torne meio cansativo pela
uniformidade. Também na forma dos poemas há uma certa inflexão
monocórdica. Em versos livres, sempre iniciados por maiúsculas,
todos os textos têm apenas um bloco. Não há estrofes.
Um abraço, e até
a próxima.
Biografia escrita por
Carlos Machado
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