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Everaldo Moreira Veras 

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John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia :


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Alguma notícia do autor:

  • Bio - Bibliografia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bronzino, Vênus e Cupido

 

Ticiano, O amor sagrafo e o profano, detalhe

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ingres, 1780-1867, La Grande Odalisque

Everaldo Moreira Veras


 

Possessão


Me lembro quando tua mão pousou sobre minha mão.
O quarto, no escuro, tinha sido a cela escolhida.
A madrugada branca nos disse
que nunca mais o dia raiava.
Aí,
te apertei contra mim,
o lençol quente nos uniu.
Na rua, a luz do poste marcava, no chão,
a hora estranha de esquecer a fuga.
Baixinho murmurei o teu segredo
e a voz era doce mentira de amor.
Então,
entrei no teu corpo virgem
a tua alma me possui depois,
quase chuvamente mulher.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

Everaldo Moreira Veras



Moinho


Todos os dias me suicido,
invento dores e palavras absurdas,
é a fórmula que escolhi para me multiplicar.
Começo quando começa o dia,
estou eu sempre me recomeçando.
Faço assim porque tenho pressa,
pode ser que eu morra
antes do fim do mundo.
Além do mais,
a noite não espera
e guardo muito cuidado com ela porque,
no seu silêncio extremo,
está a perdição que me alimenta.
Percorro os caminhos como um navio,
desses que carregam fantasmas.
Vou repartindo o tempo,
ora estou na luz,
ora no escuro maior.
É assim a contradição que estabeleço
para que ninguém me encontre
nem tampouco imite o meu sofrer.
Escondo,
dentro de mim,
no peito,
um moinho.
No centro dele sou duro como ferro.

   

 

Titian, Noli me tangere

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Mário Pontes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caravagio, Tentação de São Tomé, detalhe

Everaldo Moreira Veras


 

Descer


A noite foi toda de desordem.
Tu sangravas o suor sedento
que vinha das entranhas de mim.
E a boca engolia o beijo
como se isso fosse o último adeus.
Os seios ardiam (pudins de morango)
e eu os devorei ansiosamente homem
temendo chegar a madrugada.
Percorri teu corpo quase em chamas
minha cabeça parecia um rolo compressor.
E fui descendo
                           descendo
                           descendo
até enlouquecer na entrada daquele túnel vivo.


Nunca, nunca um homem desceu tanto!

   

 

Caravagio, Extase de São Francisco

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Lilian Mail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion, detail

Everaldo Moreira Veras



Estranhas Formas


O zumbido me atormenta
já cresceu tanto que me engravidou.
De onde vem?
Por que me persegue?
Sei que não sei
mas sei
         que é regular
         singular
como a máquina fabricando o demônio de três pernas.
Esta ressonância equilibrada
me confunde:
          a espada de fogo me aponta
          direções opostas e complicadas.
Se corro — a repetição me busca.
Se paro — a desigualdade me ofusca.
Tenho dois ouvidos incompletos.
Por um entra a disciplina
da razão calma e delicada.
Por outro o desconexo, triste grito,
em ritmo de
eu-tu-ele-nós-vós-eles.

   

 

Ticiano, Flora

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Rodrigo Marques, ago/2003