Bruno Miquelino


 

Onde tu estás?


Ainda te sinto juntinho de mim
Como se o tempo tivesse parado e
Tudo jamais houvesse tido um fim
Ainda te sinto bem aqui ao meu lado e
Queria que a realidade fosse assim
 

Ainda sinto o teu gosto dulçoroso
Incrustado à minha boca, esperando
Para sentir contigo o antigo gozo.
Oh! meu amor, eu vou rever-te quando?
 

Ainda sinto em meu corpo teu perfume
Se exalando calmo por cada poro e
de teu belo nome ainda tenho ciúme.
Volte meu amor. Tu sabes que te adoro!
 

Ainda sinto minha mão em teu cabelo
afagando tuas soberbas madeixas
que a esse mimo imploram pra recebê-lo.
Oh! meu amor, por que tu sempre me deixas?
 

Ainda sinto de tua boca o bom sabor e
meus olhos ainda vêem-te indo embora
querendo seu olhar em ti outra vez pôr
e mesmo tendo eu te visto há só uma hora.
eu já sinto saudades de ti, meu amor!
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Bruno Miquelino


 

Volúpia


Eu quero beijar tua boca fervente!
Sim, sem pudor, delongas ou frescuras
sem amor ou vínculos entre a gente
só essa boa vontade, das mais impuras
de unir os nossos corpos loucamente!
 

Quero perder-me em teu impudico sabor
e sem ter que me preocupar com nada
clamar alto por teu pertinaz fervor e
lamber e morder tua pele abrasada.
 

Quero beber do mel da tua saliva e
ao céu ascender a nossa libido
sem ter a distância cruel que nos priva
só esse desejo ardente e proibido.
 

Eu quero poder sentir teu cheiro
verter esse desejo que me invade
após descer pelo teu corpo inteiro
mordendo cada parte com vontade
 

E dar-te inúmeros beijos sem parar
Só pra mostrar-te o quanto te cobiço e
Quero-te na cama como meu par,
Louco por esse lascivo feitiço
Que eu gostaria apenas de poder provar.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bruno Miquelino


 

Amor moléstia


Eu não sei se isso é uma loucura,
ou é uma rara moléstia minha
mas, deliro por ti, criatura e
meu coração tolo definha
pois precisa de tua ternura
 

Eu passo horas que nem um bobo
Sonhando com os lábios teus.
Tornar-me-ia um animal; um lobo
Só pra tê-los junto dos meus
 

Fico a cheirar durante dias
Minhas vestes com teu perfume e
junto de minhas fiéis poesias
meu afeto por ti chega ao cume
 

Consumo-me nesse flagelo
e a cada delíquio te vejo.
A face perfeita do belo
que me desperta esse desejo!
 

Eu não sei se algo me aconteceu
Pois sempre me pego olhando a esmo,
e não sei se maluco estou eu.
Mas sei que eu não sou mais o mesmo
Pois agora sou todo teu.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bruno Miquelino


 

Eu


Eu sou um cara feliz, vivo!
Tenho a ti, que sempre quis
Sou belo, sagaz, criativo.
Porque então eu não seria feliz
se esse é o meu eterno objetivo?
 

Eu tenho ótimos amigos
que estão comigo ao meu lado
Sempre a vencer os perigos
deste mundo não explorado
 

Eu tenho saúde, paz
e ti, minha boa mulher.
Tenho a tua boca voraz.
O que mais um homem quer?
 

Eu tenho em mim, boa poesia
que flameja sem vão pudor.
Não tenho a mente vazia
e tenho do meu lado, o amor.
 

Mas sei que não sou perfeito
e sou feliz mesmo assim
pois tenho vida em meu peito
e teu amor dentro de mim.
Eu sou feliz, não tem jeito!
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

Bruno Miquelino


 

Dona Morte


Dona Morte de sua longínqua habitação,
vem até aqui, até lá, até o mais ermo lugar
pra parar nossa mente, nosso coração,
tirar nossa aptidão de sonhar, de versar
e nos levar pr’onde todos conhecerão
 

Ela é o medo da vida e a vida dos medos.
Sempre esperada, mas chega inesperada
levando cada ser, e sorrisos ledos
sem avisos e sem segredos. Sem nada!
 

Dona Morte é o corpo lívido e desnudo
que deixa o poeta mudo e leva sua altivez,
sendo talvez, o começo ou fim de tudo
quando sem apreço for a nossa vez.
 

Porém, que ela faça seu fim, então, brando e
bem antes dos que estão em seu coração.
Pois muito pior que a incerteza de quando
é o receio de se morrer cheio de aflição,
depois de ver seus amigos se acabando!
 

 

 

 

 

 

18/07/2005