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Júnior Bonfim

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Jornal do Conto
 

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Fortuna:


 
Micheliny Verunschk

Alguma notícia do(a) autor(a):

 

William Blake (British, 1757-1827), Christ in the Sepulchre, Guarded by Angels

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caravagio, Tentação de São Tomé, detalhe

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A menina afegã

Juarez Leitão

 


 

Nos meus tempos de pré-adolescente, nos anos 60, através dos microfones da Rádio Educadora de Crateús, recém-inaugurada, dois cronistas da Ribeira do Poti se faziam ouvir, pela população embevecida. As crônicas eram lidas à noitinha (não lembro se pelos próprios autores ou pela voz do locutor Rodrigues Vale) e despertavam atenção respeitosa e comentários de aprovação. Nas casas e nas praças cessava o burburinho das conversas e se criava o clima favorável para escutar o relatório das reminiscências do Ferreirinha e a opinião conceitual e filosófica do professor Luiz Bezerra sobre os acontecimentos contemporâneos. Os dois intelectuais se completavam no seu afazer literário: um restaurando a memória da cidade e o outro comentando o presente.

A vida depois seguiu seu curso no processo vertiginoso e dinâmico que marca a história, levando de roldão coisas, gestos e pessoas e, com certeza, a antiga capacidade de se escutar com atenção e serenidade a leitura de crônicas.

Os sobreviventes lastimavam que as novas gerações, premidas pela velocidade dos meios de comunicação e o pragmatismo explícito, talvez não fossem capazes de gerar um cronista nos moldes daqueles que embalavam a Crateús singela doutros tempos. Um bom cronista, observador do circundante, que registrasse o cotidiano, opinando com lucidez e traduzindo o sentimento comunitário, além de, no resgate da tradição, pugnar pelo que foi construído pelos antepassados e por outros temas de importância capital, como a preservação ambiental.

Agora sabemos que o mesmo barro que gerou o poeta José Coriolano (o épico autor de “O Touro Fusco”) e o sociólogo Abelardo Montenegro (“Fanáticos e Cangaceiros”) ainda tem a força germinativa de produzir um escritor do quilate de JÚNIOR BONFIM, representante credenciado da melhor cepa dos homens de letras do Ceará atual.  

Este livro, “AMORES E CLAMORES DA CIDADE”, reunindo a ativa participação do autor na imprensa regional, torna eterno o que poderia se perder pela própria condição fugaz das publicações de jornal, levando, assim, para os leitores do futuro, sua arguta e instigante observação da vida e das atitudes deste nosso tempo. 

A obra obedece a uma divisão temática num arco de assuntos que englobam, na primeira parte, suas admirações (AMORES) e, na segunda, as denúncias contra o que lhe parece descabido, injusto ou desonesto (CLAMORES).

Confesso que me atraíram, de modo especial, os capítulos em que trata das personalidades que lhe encantaram, figuras do clero, os artistas, os boêmios, as professoras do Curso Primário, os intelectuais, as reservas morais da cidade. Muitos dos personagens homenageados estão também no meu altar, em que brilham de modo mais intenso Dom Fragoso e o historiador Ferreirinha.

Apesar da diversidade dos assuntos, cada crônica compõe a parcela oportuna e precisa dos elementos objetivos que dão unidade ao livro. O comentarista é o mesmo, altruísta, denunciador, romântico, sonhador, politicamente engajado, lotado de audácia cívica.

Escreve para todos os paladares, com texto enxuto e desenvolto, defendendo com a força de sua consciência os valores nativos, a cultura popular, a religião, a natureza, a mitologia ancestral, mostrando em tudo o impacto da história sobre o indivíduo e encetando uma campanha altiva contra a fúria assassina dos vândalos que destroem o meio ambiente em nome do progresso e de outras mesquinhas desculpas da ambição humana.

Existe em JÚNIOR BONFIM um sentido especial de perceber o mundo, um olho atento que vislumbra e absolve o trivial para dele retirar lições e construir o seu discurso ético.

Tem pleno domínio sobre os elementos que utiliza nessa verificação pertinente dos modos e costumes da terra natal. Não abre mão do que adota como a sua verdade e nisso às vezes é duro. Entretanto consegue seguir o verso de Ernesto Che Guevara, que embalou a Geração Anos 60, aquele que dizia que era preciso endurecer sem perder a ternura jamais. Por isso o vitupério mais ácido pode vir como um verso ou num sonoroso período de prosa poética, dizendo bonito e com graça o que poderia ser um insulto banal.

É leve e talentoso, como aqueles que conseguem produzir a melhor literatura, sem esnobismo semântico ou erudição gratuita. A arquitetura de suas crônicas segue a correnteza natural de sua emoção, nos levando também para as praças antigas, as tardes remansosas e as águas cristalinas da saudade que banharam no Poti várias safras de crateuenses.

O autor vem de outras experiências literárias, não sendo, portanto, um estreante. Mas é de se notar que, cada vez mais, seu texto se garante como o fruto maduro que nos traz o prazer gustativo desde a primeira mordida.

Posto, assim, sobre a nossa mesa, como um manjar tentador, “AMORES E CLAMORES DA CIDADE” nos induz à degustação.

Atendamos ao convite que nos faz este magnífico projeto editorial, porque, como poucas vezes acontece, neste livro estão juntos talento e autenticidade.

 


 

 

 

 

 

 
Benedicto Ferri de Barros

Início desta página

Dora Ferreira da Silva

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jornal de Poesia, editor Soares Feitosa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Blake, Death on a Pale Horse

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Victor Mikhailovich Vasnetsov, Rússia, 1848-1926, The Knight at the Crossroads

 

 

 

 

Júior Bonfim


 

 

EU SOU

 

Um pássaro - que tem o sol como meta

Um apaixonado barco - em mares de aventura

Um homem sério - com o coração de poeta

Uma sonhadora abelha - que só busca doçura!

 

Nos olhos tristes - a infinita alegria

No peito uma estrela - de invisível brilho

Namorado da paz - torcedor da rebeldia

Amante das pétalas - do sorriso filho.

 

Bandeira de incêndio - horizontal canção

Um monte calmo - com tendências de vulcão

Um marinheiro - que distribui beijos de adeus.

 

Uma árvore - perfumada de emoção

Um grande ateu - que tem muita fé em Deus

E que por tranquilidade - só tem a agitação!

 

 

 

 

 

TARDE URBANA

 

Tarde urbana, extensão harmoniosa,

Quanta bondade eu queria possuir

Para estender-me sobre o pomar

De teu largo peito silencioso.

 

Deixa que venha e passe, Tarde Mansa,

Dentro da casa do meu sonho,

Toda clareza sem medida,

Toda a prática mal pensada,

Todos os passos feitos de infância,

Todos os vôos cheios de azul,

Todos os destinos que tiveram

Por pétala somente o Pão,

Por rumo apenas a Liberdade.

 

Traz a mim, Quadro Cristalino,

Terra Dura, Barro de Afeto,

Os castigos que mais te doeram,

As visitas que mais te alegraram,

Tuas reconstruções mais felizes,

A brasa que mais te ardeu

Durante o Fogo do Combate

E a música que aprendeste

Da Bandeira Vitoriosa!

 

Dá-me, ó Pensativa Tarde Calma,

De água secreta e sino parado,

Que sentes o peso do Dia

E sabes a espera da Noite,

A borboleta de Luz sobre o leito,

O horizonte que ninguém imaginou,

A ponte invisível que liga

O morro dos lábios da União

Ao coração da estrada da Amizade.

 

Que na minha contemplação

Estejam presentes o estouro distante,

Os raios áureos do teu ocaso,

A flor germinal, a rosa organizada,

O sol que banha as palmeiras,

As folhas que conspiram escondidas,

As pedras que se plantam nos rios,

O dínamo que movimenta os seres,

O edifício construído na areia

Mas que eu possa sentir, sobretudo,

O humano sorriso ... sobre tudo.

 

Árvore Pura, Tarde Urbana,

Vivei em mim e sobreviverei

Á minha própria morte,

Cantai para mim e caminharei

Com a estrofe mais bela da Terra,

Subi comigo e voarei

Pelos espaços da alegria perene,

Oferece-me tua Paz nua e terei

Um amor mais amplo que o infinito!

  

 

 

 

 

CONTRAPONTO

 

Quando amanheço

Me esqueço

Do teu olhar travesso

E me reconheço.

 

Te obedeço

E permaneço

No teu berço.

 

Talvez o amor,

Tempo conjugado,

Verbo destemido,

Verso prolatado,

Tenha me tocado.

 

Talvez o pão ou o pano

Tenham me algemado.

 

Talvez na ex-quina

Ou mesmo na quina da esquina

Tenha me encontrado.

 

Porque não peço nem meço

A espessura do verso

Me despeço e me disperso

No teu corpo, meu universo.

 

Não, não impeço. Atravesso.

Eis aí meu reverso.

 

Tal qual um touro

A pele douro

E faço do meu couro

Tua mina de ouro.

 

E morro... mouro.

 

 

 

NO DIA DOS NAMORADOS

 

 

Menina, eu quero te namorar:

Na mora do amor te amar!

Como quem está exilado do tempo,

Como quem escuta uma sombra perdida,

Como quem hipnotiza os ponteiros do relógio...

Quero na mora do amor te amar!

 

 

Menina, eu quero te namorar:

Ir com a boca à Roma do amor te olhar!

Como um pássaro que não conhece limites,

Como um viajante que a tudo percorre

Sem nunca sair do lugar...

E com a boca ir à Roma do amor te olhar!

 

 

Menina, eu quero te namorar!

Com o mar do amor te abraçar!

Como quem ausculta o infinito,

Como quem abarca com todos os braços

O inumerável corpo da simplicidade...

Pois com o mar do amor quero te abraçar!

 

 

Menina, eu quero te namorar:

Com a romã do amor te beijar!

Como quem faz do encontro dos lábios

Uma indizível pesquisa fluvial...

Com a romã do amor vou te beijar!

 

 

Menina, eu quero te namorar:

O maior ramo de amor te ofertar!

Como quem leva oferendas de luz ao altar,

Como quem abre as linhas da mão

E indica o mapa ardente da ternura’

Para o maior ramo de flor te ofertar!

 

 

Menina, eu quero te namorar:

Na mora do amor te amar,

Ir com a boca à Roma do amor te olhar,

Com o mar do amor te abraçar,

Com a romã de amor teus lábios beijar,

O maior ramo de amor te ofertar.

 

 

Ora, menina, eu namoro te amar!

 

Ou, melhor, eu amo te namorar!

 

 

 

 

 
Manoel de Barros

Início desta página

Ana Guimarães

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

WebDesign Soares Feitosa

Maura Barros de Carvalho, Tentativa de retrato da alma do poeta

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2.11.2009