Sosígenes Costa
Uma jóia da renascença
João Toco, venha cá.
Venha cá, toco de pau.
João Toco, negro!
Faça favor, cavalheiro, venha cá.
Tenho uma coisa para você Toquinho.
Para você levar à sua senhora.
Olhe, eu estava aqui mesmo,
nesta casa dos marimbondos
esperando que você passasse com essa Fon-Fon na mão,
para você me levar um recado para a tua patroa,
para a tua senhora, para a tua iaiá,
para a feroz inimiga dos marimbondos,
para aquela morcega,
para aquela morde e assopra
que subiu na política
e está naquele assanhamento,
tocando foguete de assovio,
porque vai mamar na vaca leiteira
e se esquece que amanhã pode voltar a ficar de baixo
e com rabo entre as pernas.
Olhe, você diga à grande dama
que quando mandar você, toco de pau,
fazer o facho bem grande, bem grande, bem grande,
para queimar a casa dos marimbondos,
para queimar os marimbondos,
todos os marimbondos, todos os marimbondos,
os marimbondos que perderam e estão debaixo,
mas que conservam o brio e a vergonha,
mande queimar somente as fêmeas dos marimbondos
e fique com os machos para ela.
Vá, toco de pau, e me leve o recado
desta guelfa àquela gibelina.
Me leve este recado florentino.
Me leve este recado da Toscana.
Me leve esta jóia de Celini.
Porque de fato quem está aqui na grade
do portão desta casa de Belmonte,
em plena Renascença italiana,
mandando este recado à adversária,
já não é a mulher do ex-intendente,
mas a Incomparável de Veneza e de Verona,
a Magnífica de Ravena e da Toscana.
(1940)
In: Obra Poética (1958)
|