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Daniel Glaydson


 

Madrugada de Antero


Tu que dormes, espírito sereno,
com irmão do amigo, sonho incontido
Cenas escondidas num baú reprimido
Vês como teu mistério é pequeno

Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
vem limpar a massa infecta de teus dentes
Fazer com o caos de cerdas rangentes
transbordar da gengiva sangue moreno

Escuta! é a grande voz das multidões!
A ver a luz após noites de danações...
Nada dizem, somente a cadela late

Ergue-te, pois, Soldado do Futuro!
Tu nada combates, vives num monturo,
tentando se suicidar com chocolate.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caravagio, Êxtase de São Francisco

 

 

 

 

 

Daniel Glaydson



RG

 

sensível

revestido pela armadura         da maturidade

                                         e do artístico

                                         (saberá ele que

                                         nada disso é útil?)

sério

perdido sob a dúvida              do amor

                                         e do ódio

                                         (saberá ele que

                                         nada disso é real?)

disposto

preso na armadilha                 do dinheiro

                                          e do prazer

                                          (saberá ele que

                                          tudo isso

                                          é nada disso?)

 

 

 

 

Bernini_Apollo_and_Daphne_detail

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Aricy Curvello

 

 

 

 

 

 

 

 

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat

 

 

 

 

 

Daniel Glaydson


 

Pão de Alho Teen


Conjunto vital retido renegado retraído
parede libidinal tão vazia
Cigarro alcoólico descompassado descontraído derrogado
lâmpada de censura objetal

alvo da briga do outro do fraterno
na rua cheguei em casa
a distância dos complexos da família
não arde – faz gozar
quem revolta a ilusão do revoltado
– gênese de sangue da mesma altura

Perturbadora histeria que ninguém vê
desastre novo ser sentimento escroto na lágrima inexistente
falando de vivo pó ainda ou não matéria depressiva
a fragilidade de saber a porra do cotidiano mais castrado pelos trilhos

e o apito fumegante

gozos fálicos de festivais repetitivos
– não quero ser gostoso, quero ser cult
o meio-fio de vinho mal-degustado

Nada aparenta doer quando transborda para dentro

 

 

 

Inocência, foto de Marcus Prado

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José Carlos A. Brito

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Memories, detail

 

 

 

 

 

Daniel Glaydson


 

Foucaultiana


no princípio eram todos
– pervertidos, profanos, pobres, loucos –
ao cárcere recolhidos

Admitido que a perversão é do homem
livres os perversos
Admitido que a profanação é do homem
livres os profanos
Admitido que a pobreza é do homem
livres os pobres

admito que é falsa tal liberdade
Mas é chegada a minha vez

 

 

 

Psi, a penúltima

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Renata Palottini

 

 

 

 

 

 

 

 

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

 

 

 

 

Daniel Glaydson


 

Elefante


a possibilidade da impossibilidade
de existência para algo mais
além das aparências e do aparente

lemos para saber que não há
verdade alguma
para ser lida

E nos desavéssamos de mentiras verdadeiras.

 

 

 

Albrecht Dürer, Head of an apostle looking upward

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Maria da Paz Ribeiro Dantas

 

 

18/01/2005