Soares Feitosa, Só pode ser vc o autor de uma poesia que se inicia mais ou menos assim: "Desconfio que habito sobre meus dentes..." Se for vc, me passe mais poesias suas. Sou uma apaixonada por poesia e quando li a sua senti um calafrio de prazer. Eu não seria capaz de escrever algo assim, mas me identifiquei com suas palavras. Vou ficar esperando seu retorno. Abraços Adriana P Souza |
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SF
o
dístico inicial de seu poema 'habitação' ("nem sei
dizer onde moro exatamente/ desconfio que habito dentro também pela sonoridade (como todos esses "ds" e "ts" aliterando-se). agora, a concepção que rege todo o poema - o corpo como casa ou templo - é bem interessante. e pela esteriotipia que põem em cheque já a partir desse soberbo dístico. e quem somos nós para acharmos os limites precisos entre o que somos e o que deixamos de ser? falo em limites precisos, mesmo. fronteiras bem demarcadas. e desconfio que às vezes moramos fora de nossos dentes. em comunhão com lua ou mulher. afinal, o corpo é mais que uma mala, um jarro. ou algo que a gente pode rebocar daqui pra ali. ou mesmo despachar na alfândega dos sonhos. tão-só "morada do espírito". sorte de repositório, cisterna. mas, claro, é nele onde inaugura o bom senso, a pureza dalma. e possui o olho, esse milagre. essa janela mais porta ("o sol entra pela porta/ e o luar pela janela"), como diz certo refrãozinho de nossa terra --- talvez trazido de trás-os-montes. parabéns pelo poema. ruy |
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SF,
O GUARDADOR DAS AURORAS
Lanço meu olhar canibal sobre sua "Habitação", caro Lembro Rilke, Pessoa... não, não! Lembro as Odisséias, as Ilíadas - novamente, como em Salomão. Qual nada... sinto-me mergulhar no desconhecido. Diante da vigilância da aurora, sinto-me ainda prosseguir em silêncio após o último verso. "Habitação" - esse poema dito entre os dentes começa e termina na expressão mais profunda do seu tear poético que, guardado por 50 anos, teve tempo suficiente de burilar-se para conduzir a obra e o artista da palavra que você é, no rumo do eterno. Isso é um segredo que só a poesia revela quando encontrada nas suas cavernas, em escaramuças intelectuais e sensitivas das mais distantes. E você encontrou-a, caro poeta! Desvendou mais uma vez o segredo, revelando a poesia em versos pincelados com avidez de pássaro e com a plasticidade de todos os descansos da retina. Cumprir sua "morada" é partilhar com as caravanas de anjos e duendes perfilados num horizonte que nos revela todos os orientes e ocidentes. Mas, ao mesmo tempo, se faz universal demais para ser medido, tocado, urdido... a beleza desse seu novo filho comove por sucção, ao que parece. Sou imediatamente absorvido. Feliz pelo gozo estético. E diante da beleza, meu caro Chico, apenas respiro fundo. Recebo (faço questão) todos os seus átomos e todas as alegorias que me permitem sonhar e cavalgar nessa égua chamada distância para torná-la, a cada instante o meu próprio habitat.
Grande abraço do seu amigo
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Navegam os meus olhos - a reboque o coração, que sempre teima em deixar-se arrastar nestas viagens - através do desconhecido, do que se oculta para além dos dentes. A ferocidade!!! Como ir mais além na leitura, perante a ameaça de sermos destroçados no simples acesso ao mais recôndito da habitação do Ser? Venho de ausências - onde, em vão, busco a ausência definitiva. Por que não entrar, ultrapassar, então, autocida, essa barreira de agressividade defensiva? A partir daqui, SF, devia eu própria erguer todas as minhas barreiras, regressar ao escaninho mais oculto de mim mesma e silenciar - proteger-me, contra a força do vórtice que me arrasta, rompendo-me, despedaçando-me, de aresta em aresta, paradoxalmente suaves, todas, terrível e dolorosamente suaves, todas! Por que me tremeu o coração à vista dos dentes-garra, ameaçadores, do Homem-fera, devorador - Lado 7, Talvez outro Salmo: "...cheguei para tomar/ e tomei,/ com toda a ânsia, e tomei, / comi e comi; bebi e bebi; gritei e gritei:pecado raiz /..../qu'eu sempre quis mais, de jamais chegar: a GULA." ? Os dentes... Quão mais perigoso, e doloroso, no entanto, este mergulhar abrupto do outro-lado, na penugem dos canários, onde a metamorfose se processa, na viagem pelos sentidos, de Homem-dentes, Homem-Homem, em Mulher- Fêmea, Mulher-Mãe!!!
Dói mais, mas muito mais, ficar a saber, no ritmo acelerado dessa
viagem - já lhe disse quão importante para mim é o
ritmo, dimensão que envolve corpo e espírito, mas corpo também,
ou sobretudo -, da existência, algures, por trás dos dentes-garras,
da indecisa ambivalência da mão, da existência desse
regaço materno e maternal. Como dói saber que ele existe!
desta
vez,
A ambiguidade, "ambi-valência", de ", mulher," - vocativo+ auto-afirmação? Assim a leio, no meu capricho habitual de ler o que quero, como quero.
SF, quero chegar ao fim, rápido - que me sinto arrastada pela torrente,
ondulada e frenética, desta psique/habitação hermafrodita:
"te esbalda na cavilha deste peito-pulso" - diz, homem. Que de mais masculino
que um peito-pulso, cavilha de peito largo, símbolo, no homem, da
força-protectora correspondente à suavidade-protectora de
um regaço de mãe?
que
da aurora,
Entre o mais puro erotismo e a pureza mais pura, é onde você habita, ondulante, no topo da vaga, na profundeza do sorvedouro, na quietura da água límpida, turbilhão andrógino que nos arrasta, indefesos para abismos ignorados. É consigo ou comigo mesma que estou zangada? Deve ser comigo mesma, SF — porque sempre é comigo mesma que me zango, com esta incapacidade de resistir e dizer apenas: "Muito obrigada, SF, por ter escrito mais um poema em que há todas as coisas de que gosto...", calando a minha fúria pelo turbilhão em que me lançou, arrancando-me à ausência voluntária; calando a minha fúria pela incapacidade de racionalizar o que sinto no seu poema, em palavras bem medidas, idas buscar a modernos e bem pensados compêndios de crítica literária. Assim...? Que dizer? É nas profundezas de mim mesma que o sinto, o seu poema. O reino da ausência de palavras. Após a minha tentativa frustrada de as procurar, algumas horas depois de ter iniciado a busca, vários telefonemas, duas visitas, um almoço, pelo meio, creio que só no abismo do inconsciente de ambos haveria possibilidade de comunicação. Estenda o seu dedo: eu serei ET (lembra-se daquele simpático alienígena, vindo, como eu, de outra galáxia?), e também eu estenderei um dedo breve: um toque leve e as palavras serão inúteis. Assumindo as maneiras de cá, diria apenas: e se pusesse uma vírgula a seguir a "pausadamente..."? Alargaria ainda mais a respiração desse pausadamente... [Alícia, pronto, botei a vírgula. SF] Que, por agora, regresso, pausadamente, ao Nada, que "me deshabita". Talvez uma viagem às origens: concerto no Instituto Cervantes: Guitarra espanhola - Turina, Torroba, ... Por que não me deixar cair num "infinito ontem"? Um grande abraço - pelo Habitação!
Alicia
Lisboa 08.02.1999
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Prezado Soares Feitosa
Belo
poema. Os temas da habitação e do envolvimento Forte abraço do Miguel Sanches
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Poesia do despadaçamento
Poesia do despedaçamento, feita sob a herança de Dioniso
- o deus duplamente nascido - e da dualidade fundamental que tal deus promove: sátiro e bacante, O ato amoroso é a habitação do humano. É dali que ele parte, sobrevive e se oferece em sacrifício para apaziguar os deuses, numa época em que milhares de humanos matam um deus a cada dia. O corpo despedaçado pelos dentes das bacantes em mãos, dorso, cabelo, peito, pulso e alma procura se restaurar no amor. "Sempre o mesmo acerca do mesmo", advertia o grande Eudoro de Sousa, quando se tratava da tragédia. Gestada em tempos imemoriais para purificar o homem da hamartia (pecado original forjado no deicídio original - morte da divindade representada pela subida do homem do estado de natureza para o estado de cultura ). E SF canta com sua pena-dentada a tragédia desta busca do desejo que não objeta em nenhum lugar. Que passeia pelos fragmentos do corpo da palavra com horror e amor. Que despreza a distinção masculino x feminino - porque sabe que no ato amoroso esta dualidade se desfaz.
Os olhos se detêm na complementaridade deste horizonte que
encandeia. "Pelo ouvido porém" se apresenta o canto e SF se faz
sereia. O homem ainda tem pelo menos a possibilidade de se deixar atravessar
pelo canto da sereia. Canto que o desvia da ferocidade do narcisismo
e o conduz para o mar do amor. Mar onde o eu, este tirano, "como corpo
morto, cai". Mar onde o eu se desfaz no outro, reinaugurando eternamente
a vida. Mar que se confunde com o sertão, onde habitam as
deusas mães, generosas nutrizes, que, vigilantes, sempre tomam conta
da aurora da criação.
Maria Maia 10/02/99
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SF, teu poema tem um movimento que mescla o suave com o sensual, num verdadeiro bailado de energia e doçura. Além do mais: que gostoso esse sentir maior! E poder/saber expressá-lo com tal serena melodia. Habitará no esconderijo de meus guardados especiais.
Mirna Gleich
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Meu Querido Poeta! Tudo aquilo que é
divino
Adorei seu Poema.
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Feitosa Muito melodiosa, cheia de ternura e calmaria. Como se contasse a história de um mundo onde tudo se transforma, sem contemplação da perda, mas o deslumbre da eterna mutação, algo tão inerente ao nosso universo... embora não olhemos sempre por esse prisma.
Daniela
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Soares
Se bem nem
conheço o todo de tudo que você escreveu, caro amigo, já esta
tua HABITAÇÃO me bastaria Penso que ler esse poema não o é. É um poema de se ver, palpável, sentido no colo e acalentado... é um poema-ser, com suas caras, lágrimas, bocas, intestinos, rebinbocando na parafuseta do juízo mais do que perfeito. E tu sofres, poeta, na feitura, no arremate, no afino, no jorro... Um poema desses não foi pensado, foi expulso, vomitado de orgasmo pleno, daqueles que doem nos ovos.
Vito
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HABITAÇÃO de Soares Feitosa
Pois é, meu coroné, como se diz lá no Alto Sertão baiano de onde venho: “Quano chega o tempo de ![]() A habitação do poeta fica num sítio de 5ª dimensão, a que só os deuses e uns poucos eleitos têm acesso. Então o poeta é uma espécie de Deus? Home, se desde que Linos inventou as letras a poesia vem resistindo, por alguma razão é, não é? O poeta é um mago tão porreta que até em mulher pode se transformar. Em verdade, a mulher sempre fez parte da natureza do homem. Sempre esteve dentro dele. A maioria dos homens não sabem disso. Os poetas o sabem. Daí dá pra entender o obnubilamento da dona Maria Alice Vila Fabião. Ela viu-se surpreendida por uma faceta quase desconhecida do poeta, que desnuda o grande segredo da mulher, O segredo da geração. O poeta gerou. E daí? O cumpade Roseno tem razão quando diz ter sido muito bom, o poeta ter-se voltado para os versos depois dos 50. O intelectualismo – esse estrupício do “Scholar” – felizmente não teve tempo, nem chance de contaminar a cacimba de 5ª dimensão onde bebe o poeta. Assim, no caldeirão daquela cacimba, vemo-lo misturar elementos variadíssimos, que resultam numa poesia desconcertante para a pessoa comum. Como definir aquela poesia? Antônio Massa tocou o cerne da coisa quando falou de Salomão. É isso. O infinito não existe na nossa realidade porque ao homem (comum) não foi concedido tempo auficiente para contar a eternidade. Mas aos poetas, aos iluminados e aos JIVAS (homem perfeito após a evolução pelas sete rondas de vida), com acesso à 5ª dimensão foram permitido compreensão e domínio do infinito. Então, se se é poeta não é preciso ficar em silêncio ante o calidoscópio de emoções que o poema HABITAÇÃO desperta. Ocorre-me revelar um tete-a-tete que tive com as musas Erato (da poesia lírica) e Calíope (da poesia heróica). Elas me contaram que da união entre Urano e Gaia nasceram os titãs e as titanides, seres divinos e portadores de forças elementais. E que de todos os titãs, o mais importante para o desenvolvimento do mundo foi Cronos, o mais jovem de todos, o senhor do tempo e que engendrou os Olimpianos que, como você deve saber, são os deuses, os poetas e os Jivas. Por desentendimentos que só a divindade explica, Cronos matou seu pai Urano, encarcerou os irmãos todos nas trevas infernais mas deu prosseguimento às obras paternas. Gaia se indispôs com ele e predisse sua morte por um de seus filhos. O maluco, então, passou a comer a própria prole. Réa, sua mulher, e que estava de novo grávida, procurou a sogra e pediu proteção para salvar o filho que estava por nascer. Gaia escondeu-a na ilha de Creta onde teve Zeus, que cresceu sob a proteção da mãe e da avó. Zeus destronou Cronos, obrigando-o a devolver todos os seus irmãos que ele havia devorado. Como todo Deus, Zeus cometeu atos imprudentes e impulsivos. Era um insaciável. Casou-se muitas vezes, inclusive, com sua irmã Demeter, que lhe deu uma filha de nome Perséfone e que possui a lenda mais bela e comovente de todo o panteão helênico. Eu queria mesmo era falar um pouquinho de Diônisos, outro filho de Zeus com Semele e tão querido do véio Gerardo. Ele personifica os potenciais da videira e do vinho. Sua mãe, Semele, foi a grande amada de Zeus e, por isso mesmo, vítima da perseguição e fofocas das irmãs. É... lá entre os deuses também havia disso. Por causa dessa fofocagem, Zeus teve de aparecer em todo seu esplendor para Semele. Ela não agüentou o impacto e morreu, estando grávida de Diônisos. Para salvar a criança que ainda não havia nascido, Zeus a tomou e costurou na própria coxa até que se desenvolvesse e pudesse nascer. Diônisos nasceu e foi criado escondido, embora sempre perseguido por sua tia Hera, que o enlouqueceu quando adulto. O coitado girou, girou e foi bater com os costados na Frígia onde foi acolhido por Cibele (a mãe dos deuses) que o curou e purificou, para que ele pudesse viver sua glória divina. Diônisos andava sempre com o “Kantharos” na mão e esse era o seu emblema. Era um mulherengo arretado e até dizem que, é pela ligação com Diônisos que os poetas tanto apreciam um copo, música de corda e sopro e, sobretudo, um rabo de saia. O segredo dos dentes que rasgam e esmagam para alimentar-nos, a maciez da penugem dos pássaros, a perfeição da curva do dorso do gato; a capacidade de ver e escutar e, fundamentalmente, de saber. Saber!!! É isso, meu coroné! Ponto, oras...
Iosito
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Habitação, de Soares Feitosa ![]() Esse poema é puro espanto. O que verte de água desse seu texto! Quem vem beber, volta; ou de saudade da água fresquinha, ou de ânsia de decifração.
Eloí
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Habitação
tem, no seu delicado lirismo, um sabor doirado de uma coisa que
há muito tempo não me tenho concedido colher da
vida. Ou não tenho sabido colhê-lo, se o encontro.
O gosto de quem conheceu as muitas moradas dos sentidos ao longo
das pequenas/grandes alegrias Aquele que esperamos - ou que nos espera - sem que mera premonição nos adiante onde , em que morada, em que sítio, em que local, em que olhar, em que corpo, em que alma, o encontraremos. Repousa na cavilha do meu peito. Na doação desse peito, na entrega desse eu-tua, define-se a habitação que em oferecer repouso está a recebê-lo e em se fazer doação, aprofunda sua âncora. Ouço sempre uma canção da MPB, não sei o autor, na qual, sem rodeios, com a simplicidade sábia dos simples, se repete o que todos sentem, mas poucos disso se apercebem: não se pode ser feliz se não for por amor. Se não se logra o encontro com esse porto definitivo - ou que definitivo não seja - do qual se possa dizer:aqui é o meu lugar. Mesmo que o diga sem a refinada sensibilidade do autor de Habitação. Gláucia Lemos
Gláucia Lemos
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