Adriana Patrícia de Souza


 

Soares Feitosa,

Só pode ser vc o autor de uma poesia que se inicia mais ou menos assim: "Desconfio que habito sobre meus dentes..." Se for vc, me passe mais poesias suas. Sou uma apaixonada por poesia e quando li a sua senti um calafrio de prazer.

Eu não seria capaz de escrever algo assim, mas me identifiquei com suas palavras.

Vou ficar esperando seu retorno.

Abraços

Adriana P Souza

Ruy Vasconcelos


 

 

SF

 

o dístico inicial de seu poema 'habitação' ("nem sei dizer onde moro exatamente/ desconfio que habito dentroRuy Vasconcelos de meus dentes") foi uma das imagens mais bem apanhadas que li nos últimos tempos. uma beleza.

também pela sonoridade (como todos esses "ds"  e "ts" aliterando-se).

agora, a concepção que rege todo o poema - o corpo como casa ou templo - é bem interessante. e pela esteriotipia que põem em cheque já a partir desse soberbo dístico.

e quem somos nós para acharmos os limites precisos entre o que somos e o que deixamos de ser? 

falo em limites precisos, mesmo. fronteiras bem demarcadas. e desconfio que às vezes moramos fora de nossos dentes. em comunhão com lua ou mulher.

afinal, o corpo é mais que uma mala, um jarro. ou algo que a gente pode rebocar daqui pra ali. ou mesmo despachar na alfândega dos sonhos. tão-só "morada do espírito".  sorte de repositório, cisterna.  

mas, claro, é nele onde  inaugura o bom senso, a pureza dalma. e possui o olho, esse milagre. essa janela mais porta ("o sol entra pela porta/ e o luar pela janela"), como diz certo refrãozinho de nossa terra --- talvez trazido de trás-os-montes.

parabéns pelo poema.

ruy

Lau Siqueira


 

SF,

O GUARDADOR DAS AURORAS
 

Lanço meu olhar canibal sobre sua "Habitação", caroLau Siqueira amigo, querendo suprir as ausências nutricionais da minha alma com versos hermanos de Femina e Salomão. Versos que habitam o espetáculo portentoso de medir cada palmo, palmilhar cada metro... rosnar e surpreender os próprios sentidos. 

Lembro Rilke, Pessoa... não, não! Lembro as Odisséias, as Ilíadas - novamente, como em  Salomão. Qual nada... sinto-me mergulhar no desconhecido. Diante da vigilância da aurora, sinto-me ainda prosseguir em silêncio após o último verso.

"Habitação" - esse poema dito entre os dentes começa e termina na expressão mais profunda do seu tear poético que, guardado por 50 anos, teve tempo suficiente de burilar-se para conduzir a obra e o artista da palavra que você é, no rumo do eterno. 

Isso é um segredo que só a poesia revela quando encontrada nas suas cavernas, em escaramuças intelectuais e sensitivas das mais distantes. E você encontrou-a, caro poeta!

Desvendou mais uma vez o segredo, revelando a poesia em versos pincelados com avidez de pássaro e com a plasticidade de todos os descansos da retina. 

Cumprir sua "morada" é partilhar com as caravanas de anjos e duendes perfilados num horizonte que nos revela todos os orientes e ocidentes. Mas, ao mesmo tempo,  se faz universal demais para ser medido, tocado, urdido... a beleza desse seu novo filho comove por sucção, ao que parece. Sou imediatamente absorvido. Feliz pelo gozo estético. E diante da beleza, meu  caro Chico, apenas respiro fundo. Recebo (faço questão)  todos os seus átomos e todas as  alegorias que me permitem sonhar e cavalgar nessa égua chamada distância para torná-la, a cada instante o meu próprio habitat. 

 Grande abraço do seu amigo
           Lau Siqueira

 

 

 

 

 

 

Maria Alice Vila Fabião


Navegam os meus olhos - a reboque o coração, que sempre teima em deixar-se arrastar nestas viagens -  através do desconhecido, do que se oculta para além dos dentes. 

A ferocidade!!! Como ir mais além na leitura, perante a ameaça de sermos destroçados no simples acesso ao mais recôndito da habitação do Ser?

Venho de ausências - onde, em vão, busco a ausência definitiva. Por que não entrar, ultrapassar, então, autocida, essa barreira de agressividade defensiva? 

A partir daqui, SF, devia eu própria erguer todas as minhas  barreiras, regressar ao escaninho mais oculto de mim mesma e silenciar - proteger-me, contra a força do vórtice que me arrasta, rompendo-me, despedaçando-me, de aresta em aresta, paradoxalmente suaves, todas, terrível e dolorosamente suaves, todas! 

Por que me tremeu o coração à vista dos dentes-garra, ameaçadores, do Homem-fera, devorador - Lado 7, Talvez outro Salmo: "...cheguei para tomar/ e tomei,/ com toda a ânsia, e tomei, / comi e comi; bebi e bebi; gritei e gritei:pecado raiz /..../qu'eu sempre quis mais, de jamais chegar: a GULA." ? Os dentes... 

Quão mais perigoso, e doloroso, no entanto, este mergulhar abrupto do outro-lado, na penugem dos canários, onde a metamorfose se processa, na viagem pelos sentidos, de Homem-dentes, Homem-Homem, em Mulher- Fêmea, Mulher-Mãe!!! 

Dói mais, mas muito mais, ficar a saber, no ritmo acelerado dessa viagem - já lhe disse quão importante para mim é o ritmo, dimensão que envolve corpo e espírito, mas corpo também, ou sobretudo -, da existência, algures, por trás dos dentes-garras, da indecisa ambivalência da mão, da existência desse regaço  materno e maternal. Como dói saber que ele existe!  

"Um dia morei sobre o peito de minhas mães,
branca e preta, as mães,
(todas verdadeiras)
na mesma medida, agora, assim,
minha banda-fêmea
te regaça:

desta vez,
"mulher",
sou tua "mãe"..."

Volto a "Balançando Devagarinho" - há sempre um regresso a "Balançando Devagarinho".

A ambiguidade, "ambi-valência",  de ", mulher," - vocativo+ auto-afirmação?  Assim a leio, no meu capricho habitual de ler o que quero, como quero.

SF, quero chegar ao fim, rápido - que me sinto arrastada pela torrente, ondulada e frenética, desta psique/habitação hermafrodita: "te esbalda na cavilha deste peito-pulso" - diz, homem. Que de mais masculino que um peito-pulso, cavilha de peito largo, símbolo, no homem, da força-protectora correspondente à suavidade-protectora de um regaço de mãe?

Habito agora apenas esta minha mão; 
sou apenas esta mão:
.... 
mão, o calor de tuas sedas.
  ....
E se dormires
recobrirei respeitosamente a tua 
nudez...

que da aurora,
vigilante
eu tomo conta.

Ula a ferocidade?

Entre o mais puro erotismo e a pureza mais pura, é onde você habita, ondulante, no topo da vaga, na profundeza do sorvedouro, na quietura da água límpida, turbilhão andrógino que nos arrasta, indefesos para abismos ignorados. 

É consigo ou comigo mesma que estou zangada? Deve ser comigo mesma, SF — porque sempre é comigo mesma que me zango, com esta incapacidade de resistir e dizer apenas: "Muito obrigada, SF, por ter escrito mais um poema em que há todas as coisas de que gosto...", calando a minha fúria pelo turbilhão em que me lançou, arrancando-me à ausência voluntária; calando a minha fúria pela incapacidade de racionalizar o que sinto no seu poema, em palavras bem medidas, idas buscar a modernos e bem pensados compêndios de crítica literária. 

Assim...? Que dizer?

É nas profundezas de mim mesma que o sinto, o seu poema. O reino da ausência de palavras. Após a minha tentativa frustrada de as procurar, algumas horas depois de ter iniciado a busca, vários telefonemas, duas visitas,  um almoço, pelo meio, creio que só no abismo do inconsciente de ambos haveria possibilidade de comunicação.

Estenda o seu dedo: eu serei ET (lembra-se daquele simpático alienígena, vindo, como eu, de outra galáxia?), e também eu estenderei um dedo breve: um toque leve e as palavras serão inúteis. 

Assumindo as maneiras de cá, diria apenas: e se pusesse uma vírgula a seguir a "pausadamente..."? Alargaria ainda mais a respiração desse pausadamente...  [Alícia, pronto, botei a vírgula. SF]

Que, por agora, regresso, pausadamente, ao Nada, que "me deshabita". Talvez uma viagem às origens: concerto no Instituto Cervantes: Guitarra espanhola - Turina, Torroba, ... Por que não me deixar cair num "infinito ontem"? 

Um grande abraço - pelo Habitação!

Alicia
 

Lisboa 08.02.1999

 

 

 

Miguel Sanches Neto


Prezado Soares Feitosa

Belo poema. Os temas da habitação e do envolvimentoMiguel Sanches Neto, 2002 erótico receberam um interessante contorno poético. E você escreve sem pagar aluguel aos que se julgam donos das habitações literárias. E isso é bonito, é necessário.

Forte abraço do

Miguel Sanches

 

 

 

Maria Maia


 

Poesia do despadaçamento

 

Poesia do despedaçamento, feita sob a herança de Dioniso - o deus duplamente nascido - e da dualidade fundamental que tal deus promove: sátiro e bacante,Maria Maia masculino e feminino, beleza e fealdade, crueldade e leveza, regaço e perdição. Esta é uma tragédia dos tempos pré-pós-modernos.

O ato amoroso é a habitação do humano. É dali que ele parte, sobrevive e se oferece em sacrifício para apaziguar os deuses, numa época em que milhares de humanos matam um deus a cada dia. O corpo despedaçado pelos dentes das bacantes  em mãos, dorso, cabelo, peito, pulso e alma procura se restaurar no amor.

"Sempre o mesmo acerca do mesmo", advertia o grande Eudoro de Sousa, quando se tratava da tragédia. Gestada em tempos imemoriais para purificar o homem da hamartia (pecado original forjado no deicídio original - morte da divindade representada pela subida do homem do estado de natureza para o estado de cultura ). E SF canta com sua pena-dentada a tragédia desta busca do desejo que não objeta em nenhum lugar. Que passeia pelos fragmentos do corpo da palavra  com horror e amor. Que despreza a distinção  masculino x feminino - porque sabe que no ato amoroso esta dualidade se desfaz. 

Os olhos se detêm na complementaridade deste horizonte que  encandeia. "Pelo ouvido porém" se apresenta o canto e SF se faz sereia. O homem ainda tem pelo menos a possibilidade de se deixar atravessar pelo  canto da sereia. Canto que o desvia da ferocidade do narcisismo e o conduz para o mar do amor. Mar onde o eu, este tirano, "como corpo morto,  cai". Mar onde o eu se desfaz no outro, reinaugurando eternamente a  vida. Mar que se confunde com o sertão, onde habitam as deusas mães, generosas nutrizes, que, vigilantes, sempre tomam conta da aurora da criação.
 

Maria Maia

10/02/99

 

 

 

Mirna Gleich


 

SF, teu poema tem um movimento que mescla o suave com o sensual, num verdadeiro bailado de energia e doçura.

Além do mais: que gostoso esse sentir maior! E poder/saber expressá-lo com tal serena melodia. Habitará no esconderijo de meus guardados especiais. 

Mirna Gleich

 

 

 

 

Maria Azenha


Meu Querido Poeta! 

Tudo aquilo que é divino 
Não tem varinha de condão, 
Pois ser Deus é ser menino 
Sem latim no coração! 
  Maria Azenha

Adorei seu Poema. 
Abraço, 
maria azenha

 

 

 

 

Daniela Maiumi Ushizima  


<dani@if.sc.usp.br>

Feitosa 

Muito melodiosa, cheia de ternura e calmaria. Como se contasse a história de um mundo onde tudo se transforma, sem contemplação da perda, mas o deslumbre da eterna mutação, algo tão inerente ao nosso universo... embora não olhemos sempre por esse prisma.

Daniela

 

 

 

 

Vito Cesar Fontana


Soares

Se bem nem conheço o todo de tudo que você escreveu, caro amigo, já esta tua HABITAÇÃO me bastariaVito Cesar Fontana para que eu soubesse quem tu és. Estou cheio de segundas pessoas para dizer direito aquilo que sei sobre o que nem sei, mas sinto. O poema-víscera habita mundi. Meandros de nós todos, apocalipse do uno, gênesis do si mesmo, reverbero de espelhos espalhados no tosco dos olhares, minimalização maximizada do encontro da palavra e da imagem num quadro de Dali. 

Penso que ler esse poema não o é. É um poema de se ver, palpável, sentido no colo e acalentado... é um poema-ser, com suas caras, lágrimas, bocas, intestinos, rebinbocando na parafuseta do juízo mais do que perfeito. E tu sofres, poeta, na feitura, no arremate, no afino, no jorro... Um poema desses não foi pensado, foi expulso, vomitado de orgasmo pleno, daqueles que doem nos ovos.

Vito

 

 

 

Iosito Aguiar


HABITAÇÃO de Soares Feitosa

 

Pois é, meu coroné, como se diz lá no Alto Sertão baiano de onde venho: “Quano chega o tempo deIosito Aguiar fuloramento, o mió mermo é pará, ficá oiano as fulô, sentino os cheiros e deixano aquela beleza toda abarcá o coração da gente, o isprito e os pensamento. Num carece ispricá nada não. É só ficá no senti”. 

A habitação do poeta fica num sítio de 5ª dimensão, a que só os deuses e uns poucos eleitos têm acesso.

Então o poeta é uma espécie de Deus?

Home, se desde que Linos inventou as letras a poesia vem resistindo, por alguma razão é, não é? O poeta é um mago tão porreta que até em mulher pode se transformar. Em verdade, a mulher sempre fez parte da natureza do homem. Sempre esteve dentro dele. A maioria dos homens não sabem disso. Os poetas o sabem. Daí dá pra entender o obnubilamento da dona Maria Alice Vila Fabião. Ela viu-se surpreendida por uma faceta quase desconhecida do poeta, que desnuda o grande segredo da mulher, O segredo da geração.

O poeta gerou. E daí?

O cumpade Roseno tem razão quando diz ter sido muito bom, o poeta ter-se voltado para os versos depois dos 50. O intelectualismo – esse estrupício do “Scholar” – felizmente não teve tempo, nem chance de contaminar a cacimba de 5ª dimensão onde bebe o poeta. Assim, no caldeirão daquela cacimba, vemo-lo misturar elementos variadíssimos, que resultam numa poesia desconcertante para a pessoa comum.

Como definir aquela poesia?

Antônio Massa tocou o cerne da coisa quando falou de Salomão.

É isso. O infinito não existe na nossa realidade porque ao homem (comum) não foi concedido tempo auficiente para contar a eternidade. Mas aos poetas,  aos iluminados e aos JIVAS (homem perfeito após a evolução pelas sete rondas de vida), com acesso à 5ª dimensão foram permitido compreensão e domínio do infinito. Então, se se é poeta não é preciso ficar em silêncio ante o calidoscópio de emoções que o poema HABITAÇÃO desperta. Ocorre-me revelar um tete-a-tete que tive com as musas Erato (da poesia lírica) e Calíope (da poesia heróica). Elas me contaram  que da união entre Urano e Gaia nasceram os titãs e as titanides, seres divinos e portadores de forças elementais. E que de todos os titãs, o mais importante para o desenvolvimento do mundo foi Cronos, o mais jovem de todos, o senhor do tempo e que engendrou os Olimpianos que, como você deve saber, são os deuses, os poetas e os Jivas. Por desentendimentos que só a divindade explica, Cronos matou seu pai Urano, encarcerou os irmãos todos nas trevas infernais mas deu prosseguimento às obras paternas. Gaia se indispôs com ele e predisse sua morte por um de seus filhos. O maluco, então, passou a comer a própria prole. Réa, sua mulher, e que estava de novo grávida, procurou a sogra e pediu proteção para salvar o filho que estava por nascer. Gaia escondeu-a na ilha de Creta onde teve Zeus, que cresceu sob a proteção da mãe e da avó. Zeus destronou Cronos, obrigando-o a devolver todos os seus irmãos que ele havia devorado.

Como todo Deus, Zeus cometeu atos imprudentes e impulsivos. Era um insaciável. Casou-se muitas vezes, inclusive, com sua irmã Demeter, que lhe deu uma filha de nome Perséfone e que possui a lenda mais bela e comovente de todo o panteão  helênico.

Eu queria mesmo era falar um pouquinho de Diônisos, outro filho de Zeus com Semele e tão querido do véio Gerardo. Ele personifica os potenciais da videira e do vinho. Sua mãe, Semele, foi a grande amada de Zeus e, por isso mesmo, vítima da perseguição e fofocas das irmãs. É... lá entre os deuses também havia disso. Por causa dessa fofocagem, Zeus teve de aparecer em todo seu esplendor para Semele. Ela não agüentou o impacto e morreu, estando grávida de Diônisos. Para salvar a criança que ainda não havia nascido, Zeus a tomou e costurou na própria coxa até que se desenvolvesse e pudesse nascer.

Diônisos nasceu e foi criado escondido, embora sempre perseguido por sua tia Hera, que o enlouqueceu quando adulto. O coitado girou, girou e foi bater com os costados na Frígia onde foi acolhido por Cibele (a mãe dos deuses) que o curou e purificou, para que ele pudesse viver sua glória divina.

Diônisos andava sempre com o “Kantharos” na mão e esse era o seu emblema. Era um mulherengo arretado e até dizem que, é pela ligação com Diônisos que os poetas tanto apreciam um copo, música de corda e sopro e, sobretudo, um rabo de saia.

O segredo dos dentes que rasgam  e esmagam para alimentar-nos, a maciez da penugem dos pássaros, a perfeição da curva do dorso do gato; a capacidade de ver e escutar e, fundamentalmente, de saber. Saber!!! É isso, meu coroné! Ponto, oras...

Iosito

 

 

 

Eloí Elisabet Bocheco


 

Habitação, de Soares FeitosaEloí Elisabeet Bocheco

Esse poema é puro espanto. O que verte de água desse seu texto! Quem vem beber, volta; ou de saudade da água fresquinha, ou de ânsia de decifração.

Eloí

 

 

 

Gláucia Lemos


 

Habitação tem, no seu delicado lirismo, um sabor doirado de uma coisa que há muito tempo não  me tenho concedido  colher da vida. Ou não tenho sabido colhê-lo, se o encontro. O gosto de quem conheceu  as muitas moradas dos sentidos ao longo das pequenas/grandes alegriasGlaucia Lemos prazerosas; do suave ao tato, do enternecedor à  audição, do deslumbrante à visão, até o achado definitivo daquele pouso-alumbramento-por-inteiro, aquele  único que só quando se merece a graça de  alcançá-lo, se reconhece. 

       Aquele que esperamos - ou que nos espera - sem que mera  premonição nos adiante onde , em que morada, em que sítio, em que local, em que olhar, em que corpo, em que alma, o encontraremos. Repousa na cavilha do meu peito. Na doação desse peito, na entrega desse eu-tua, define-se a habitação  que  em oferecer repouso  está a recebê-lo e em se fazer doação, aprofunda sua âncora. 

       Ouço sempre uma canção da MPB, não sei o autor, na  qual, sem rodeios, com a simplicidade sábia dos simples, se repete o que todos sentem, mas poucos disso se apercebem: não se pode ser feliz se não for por amor. Se não se logra  o encontro com esse porto definitivo - ou que definitivo não seja - do qual se possa dizer:aqui é o meu lugar. Mesmo que o diga sem a refinada sensibilidade do autor de Habitação.

Gláucia Lemos

 

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Gláucia Lemos

 

 

 

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