Vito César Fontana
Poeta
Queres ser poeta?
Talvez um intelectual de vanguarda,
quem sabe um artista de tintas e telas,
fazendo rabiscos ao modo Picasso?
... um idolatra de preceitos pré-socrático,
desses que levam a reuniões super-secretas,
trazendo no colete conceitos pisados,
para pretexto do gole rasgado,
da cheirada marota,
de coisas afins?
Ou quem sabe a tua timidez,
polida na pedra pume dos contextos,
te informe que e bonito e da assunto,
para mocinhas modernas,
que se impressionam e te desejam,
no tardio das noites festivas?
Quem sabe te chutaram, já bêbado,
da roda de samba, do jogo de cartas,
do papo gostoso da turma da esquina,
porque eras um chato?
Quem sabe a mulher, que não te amava,
feriu o teu peito, te negou o beijo,
se deu ao amigo?
... queres ser poeta...
e consumir literaturas, todos os grandes,
e com eles, dizer coisas novas a cada momento...
... quem sabe não tinhas palavra nenhuma na ponta da [língua,
na hora em que o medo te apertava a garganta,
e secava o teu lábio,
e cegava o teu cérebro,
e tolhia o teu gozo?
Porque ser poeta?
Teu carro te veste,
Teu livro te fala,
Teu teto te cobre,
e andas de terno e gravata,
no circo do dia!...
A pasta te esconde...
A TV te guia...
Quem sabe, no escuro do escuro da noite,
Entre teus lençóis de cetim,
antes de sonhar um sonho,
Teus cartões te esfolem,
a gravata te açoite,
tua pasta te coma,
e a TV te persiga?
... e queres ser poeta...
Talvez bem pense que basta ouvir as estrelas,
e formar as imagens num jogo de espelhos,
de caleidoscópio,
ou ter a alma intocada,
guardando justiça e beleza no fundo do peito...
Para ser poeta e necessário o vicio da vida,
confessar ter vivido,
ser mentiroso,
covarde e ladrão,
não ter sérios princípios,
ou perplexidades,
estar fora do jogo e dentro também,
levantar e cair,
trair o amigo,
lutar uma guerra,
perder a noção do absurdo,
de tudo aquilo que seja o NÃO.
Queres ser poeta?
... tu es poesia...
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