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Vito Cesar Fontana

Poussin, Rebecca at the Well

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 

 

Da Vinci, Homem vitruviano

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), L'Innocence

 

 

 

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

Vito César Fontana



Casa


Quero uma casa que, aberta, se adentre
Janelas expostas, com plantas pendentes,

Varanda seleta, cadeiras de vime,
com vasos de flores e redes modestas,

Paredes marcadas com fotos e quadros,
de coisas vividas,
dizendo que o tempo não anda vazio

Correr corredores, igual a menino,
amar mil amores, nos quartos baldios,
e algumas estórias para poder lembrar....

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

 

Vito César Fontana


 

Lembrando Pessoa


Ainda lembro o dia sim, que não.
Penso ser, então, aquele que não era,
no dia que não veio,
E, por ser tão grande o ali do meu momento,
percebi-me no aqui de uma vida que era a minha.
Ah! que tolo pensamento esse,
que não era...
sonhando sem sonhar, absolutamente,
encontrei-me em pesadelos que não via,
os soluços e lagrimas, que não eram minhas
(mas de bela atitude, se bem me lembro)

E lembro,
Lembro bem do dia que, tomado de malicias,
copiei febris mil e um sonetos,
de poetas que nem mesmo lia...

Encontrei-me a beira de um dueto,
de enorme dor e hipocrisia...

E se vão tantos anos, que nem tantos,
a querer criar tais poesias,
tão perdido que fui pelos encontros,
de viagens vãs pelo começo,
que me pego a chorar, de verdadeiro,
sendo eu, apenas eu, o meu melhor momento...
 

 

 

Maura Barros de Carvalhos, Tentativa de retrato da alma do poeta

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Nelson Ascher

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Vito César Fontana


 

Poeta


Queres ser poeta?
Talvez um intelectual de vanguarda,
quem sabe um artista de tintas e telas,
fazendo rabiscos ao modo Picasso?
... um idolatra de preceitos pré-socrático,
desses que levam a reuniões super-secretas,
trazendo no colete conceitos pisados,
para pretexto do gole rasgado,
da cheirada marota,
de coisas afins?

Ou quem sabe a tua timidez,
polida na pedra pume dos contextos,
te informe que e bonito e da assunto,
para mocinhas modernas,
que se impressionam e te desejam,
no tardio das noites festivas?

Quem sabe te chutaram, já bêbado,
da roda de samba, do jogo de cartas,
do papo gostoso da turma da esquina,
porque eras um chato?

Quem sabe a mulher, que não te amava,
feriu o teu peito, te negou o beijo,
se deu ao amigo?

... queres ser poeta...

e consumir literaturas, todos os grandes,
e com eles, dizer coisas novas a cada momento...
... quem sabe não tinhas palavra nenhuma na ponta da [língua,
na hora em que o medo te apertava a garganta,
e secava o teu lábio,
e cegava o teu cérebro,
e tolhia o teu gozo?

Porque ser poeta?

Teu carro te veste,
Teu livro te fala,
Teu teto te cobre,
e andas de terno e gravata,
no circo do dia!...
A pasta te esconde...
A TV te guia...

Quem sabe, no escuro do escuro da noite,
Entre teus lençóis de cetim,
antes de sonhar um sonho,
Teus cartões te esfolem,
a gravata te açoite,
tua pasta te coma,
e a TV te persiga?

... e queres ser poeta...

Talvez bem pense que basta ouvir as estrelas,
e formar as imagens num jogo de espelhos,
de caleidoscópio,
ou ter a alma intocada,
guardando justiça e beleza no fundo do peito...

Para ser poeta e necessário o vicio da vida,
confessar ter vivido,
ser mentiroso,
covarde e ladrão,
não ter sérios princípios,
ou perplexidades,
estar fora do jogo e dentro também,
levantar e cair,
trair o amigo,
lutar uma guerra,
perder a noção do absurdo,
de tudo aquilo que seja o NÃO.

Queres ser poeta?

... tu es poesia...
 

 

 

Titian, Noli me tangere

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Regina de Souza Vieira

 

 

 

 

 

Tintoretto, Criação dos animais

 

 

 

 

 

Vito César Fontana


 

Mensagem


A minha mensagem de amor,
é como um tiro no meio do escuro,
vem de um grito de horror, lá do infinito,
o meu julgamento e cruel, de toda hipocrisia,
e um lamento maior, que o da filosofia...
[jaz(z) no terreno sem flor, das noites perdidas]
O meu sentimento e plural,
de tudo que e ambíguo,
um som,
uma imagem,
uma cor,
busca do equilíbrio.

A dura promessa de paz
(plenário vazio)
não tem o sentido e a dor,
do real juízo.

O meu tempo e o viver,
perto do absurdo,
com minha cara normal,
cínica e medida.

Alem do que posso sonhar,
tudo e fantasia,
um conto, uma conta qualquer,
dessa rebeldia,

A minha linguagem e o comum,
do que já foi dito,
um grito, um orgasmo qualquer,
o dodecassílabo.

Meu fim e um ponto final,
como em qualquer livro...

 

 

 

Aurora, William Bouguereau (French, 1825-1905)

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Francisco Perna

 

 

 

 

 

Tintoretto, Criação dos animais

 

 

 

 

 

Vito César Fontana


 

Ponto escuro


No desatino do medo, eu grito.
no desacerto do roubo, eu corro
Qual será o assunto que me espera no futuro
Existe um muro de espelho em que me vejo
existe o atrito que me corre pelo corpo
existe um mundo, velho mundo, vasto mundo
quando olho e só vejo o deserto

Ali na curva, ha os rios
compondo tudo que enxergo,
e não cumpro
(tenho medo do universo)

Já não quero essa navalha que me corta,
sou um homem que não vive bem consigo
já não quero essa fratura exposta
me preparo, com o olho no infinito
 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Cleópatra ante César

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Maria Helena Nery Garcez

 

 

 

 

 

Tintoretto, Criação dos animais

 

 

 

 

 

Vito César Fontana


 

Crime


Ainda paira no vazio, meu silencio
como um fruto proibido, como um crime
o olhar vê o futuro pelo espelho
amaldiçoado do querer profundo
Ainda existe muita légua na viagem
que me leva bem pra dentro desse crime,
que resiste mas, ainda assim, e crime
e um laço que me aperta mas redime

Como pode o querer, poder tão longe?
como pode o olhar querer profundo?
como existe um voar, voar tão limpo?
como voam essas aves que não morrem!

Não me lembro mais da minha covardia
tão vazia e tão cheia de cansaço
como um vídeo de estórias que não via
como um livro de verdades que não faço

Meio crime, tão pior que crime e meio,
Meio-corte, meia-morte, meio-dia
é tão longe essa vida por inteiro
que me faço, nela, estrada, todo dia

Já não faço do meu braço instrumento
pois o braço do pecado e vingativo
não consome só a alma, certamente
vai alem, consumindo maravilhas...
 

 

 

Bernini, Apollo and Dafne, detail

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Carlos Figueiredo da Silva

 

 

 

 

 

Tintoretto, Criação dos animais

 

 

 

 

 

Vito César Fontana


 

Noite


Assim que a noite ganha mais espaço no escuro
e vai se alastrando, como um mal
algumas caras indefinidas,
começam o jogo da vida
no meio das ruas
São tão errantes, tão iluminados
alguns tristes, desesperançados
muitos pegajosos, tão estilizados
muitos demagogos, muitos arrojados
todos muito jovens e alucinados

Assim que a noite se faz arrepio,
infiltrando tudo,
surge o prurido da vida
na flor da pele dos vampiros elegantes

Todos tão calados, muitos cientes
muitos tão sedentos, muito mais carentes
todos com seus medos e com corpo ardente
pelos eriçados, membros fétidos
num pulo de gato, com felicidade

Assim que a noite ganha mais espaço,
saio também pelas ruas, olhando essas pessoas
.... e com inveja delas!
 

 

 

Bernini_The_Rape_of_Proserpina_detail

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Dora Ferreira da Silva

 

 

 

 

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Maura Barros de Carvalho, Tentativa de retrato da alma do poeta

 

 

SB 03.04.2023