A nossa vida é feita
de recorrências. Não sabemos ao certo em que tempo estamos. Segue um texto
meu, publicado na Revista (uma recorrência) que, assim como o quadro, foi
feito para você.
Abraço amigo do
Chico Perna.
O que sabemos a respeito de
nós mesmos?
No meio do caminho desta vida
me vi perdido numa selva escura,
Solitário, sem sol e sem saída.
(Dante Alighieri)
A luz, que para muitos
pode cegar, torna-se essencial para outros, já que enxergar é ir além do que a
vista alcança, quando, ao traduzir o visível, ampliamos o sentido das coisas e,
com elas, compomos a alegoria da existência.
Tudo o que sabemos a
respeito de nós, de algum modo, nos foi dado a partir dos outros, a despeito de
qualquer vontade nossa. Impressões que vão compondo os estereótipos do mundo,
apesar de serem, muitas vezes, rasas demais.
É bem certo que não
sabemos quase nada, mas algumas respostas poderemos encontrar quando passarmos a
observar o mundo mais detidamente, e isso, de certa forma, poderemos aprender
com a arte, bendito fruto dos nossos artistas, tributadores da nossa
inexperiência, do nosso convívio, das nossas diminutas percepções. São eles
redesenhadores de um mundo que sempre quisemos e queremos, coberto de
humanidade.
Talvez jamais saibamos,
embora necessitemos de um mínimo de compreensão para suportarmos essa árdua
caminhada, arrebatados que estamos pelo mercado que nos segrega, pela fúria de
um capital que nos diferencia, pelo abismo imposto por todas essas diferenças
que a “modernidade” nos impõe.
Quantas obras literárias
teremos de ler para que alcancemos uma compreensão do que é humano, para saber
que Quixotes são necessários à nossa sobrevivência, que as utopias alimentam a
ilusão da nossa perenidade e, que com elas, refazemos, a cada dia, os nossos
moinhos de vento?
De quantos Míchkin
necessitaremos para humanizar o mundo? De quantos Riobaldos para nos revelar a
profunda geografia das nossas obtusas almas? Quantos Lorcas para nos dizer das
agruras de uma morte inocente? De Jivagos, laras, Kareninas, Bovarys, para
sabermos o quanto dói a perseguição, a calúnia, a ofensa e a maldade que, nos
nossos dias, têm sido freqüentes?
Tudo isso nos leva a
refletir sobre o valor da arte, sobre as possibilidades que o artista tem para
transformar as coisas. Tudo isso nos faz crer na transformação do espírito, nas
cores de um novo amanhecer. Só a arte nos livra do tenebroso anoitecer da
ignorância, só ela nos faz avançar para além do que nos prende.