Georgina Albuquerque
MEU PAI E O VENTO
Meu pai me ensinou a retornar todos os dias,
fossem eles frios, quentes ou chuvosos.
A casa me acolhia, úmida e cálida,
como um útero que recebe os passos na escada.
A vida me ensinou a evadir todos os dias,
penetrando nos olhares das pessoas pelas ruas.
A diversidade de mundos, os quais não percebo,
eu sei, marcam distâncias profundas
entre mim mesma e outro alguém
Aquele com quem cruzo,
ensina-me a retornar todas as noites,
sejam elas de primavera ou de outono.
A folha cai, seca e surda,
levada e fugaz, vôa ao vento
e eu distante do meu quarto,
meu pai já sumido no tempo.
Ninguém mais me cobra o retorno,
sigo com meu pensamento...
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