Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Gizelda Morais 

1939-2015

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba,

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia :

Poemas do livro Rosa no Tempo:

Outros poemas:


Ensaio, resenha, crítica & comentário:


Fortuna crítica:


Alguma notícia da autora:

 

Gizelda Morais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

 

 

 

 

 

 

Michelangelo, 1475-1564, Teto da Capela Sistina, detalhe

Wagner Lemos


 

RESENHA

A UM PASSO DO ESQUECIMENTO, NOVO ROMANCE DE GIZELDA MORAIS.

Wagner Lemos *

 

Dizem que Religião, Ciência e Arte, como práticas humanas que são, revelam mais proximidades do que afastamentos. A primeira nos promete em diferentes modos um prolongamento da existência, quer seja pela tão apregoada vida eterna, reencarnações ou mesmo, na visão das crenças indígenas, um ressurgimento sob outras formas. A Ciência, por sua vez, busca ampliar a nossa duração nesta terra com a cura de doenças ou a melhoria da qualidade de vida dando-nos uma maior fruição do tempo. A Arte, por fim, é mais do que uma forma de expressão. A menos regrada das três, mas que, assim como as demais, guarda consigo um dos mais antigos anseios da Humanidade: vencer a morte.  Que escultor não pensou em ser eternizado nas formas que deu ao que era informe? Que poeta ou prosador não almejou ser lido nas gerações futuras? Que pintor não suspirou ao concluir uma tela e não pensou em como seria visto no porvir? A Arte é a metalinguagem utilizada pelo Homem para se revelar, mas também para fincar-se como perenidade. “Longa é a Arte, breve é a Vida”, assim rezava o provérbio latino, fazendo-nos lembrar do quanto somos efêmeros.

Em “A um passo do esquecimento” (Biblioteca 24 horas: São Paulo, 2014), novo romance de Gizelda Morais, a personagem é andarilha nos entrelugares de que a vida se perfaz e, em tom permeado de reminiscências, lança mão da arte da palavra para estabelecer-se neste mundo, construindo uma prosa de cunho memorialístico trespassada pela ideia do tempus fugit. Uma particularidade, entretanto, enriquece esse texto: a narrativa, apesar do caráter memorial, é tecida em terceira pessoa. A autora que nos deu excelentes páginas de prosa e poesia, desta feita, vem com uma perspectiva inovadora: deu à sua personagem um perfil psicológico em que o distanciamento que impregna o texto em terceira pessoa garanta às memórias uma fluidez na reflexão e mesmo na autocrítica.  Esse jogo confere uma maior ponderação da protagonista acerca da vida, bem como de seu espelho, a morte.

A personagem central, ao saber-se diagnosticada pela segunda vez com um câncer, desta vez terminal, empreende sua missão metalinguística: registrar pela palavra uma página por dia. Firmar no papel a sua história, seus sentimentos, suas dores, suas perdas, suas inquietações filosóficas, mas também as físicas, uma vez que os tratamentos, na verdade, muito maltratam seu corpo que peleja contra aquele que a personagem chama de “predador obsceno e demoníaco”. É desse modo que a tessitura do passado alinhavando-se com o presente nos traz um exercício de revisão da existência, não só pessoal, mas também coletiva. Um mar de palavras em que a micro e a macro histórias navegam juntas.

Do ponto de vista formal, é relevante destacar que os sessenta capítulos da obra foram construídos em retábulo. Essa técnica requer do autor uma acurada habilidade: elaborar partes que possam ser lidas independentes umas das outras, mas que em sequência perfaçam uma obra, como o clássico “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos. Nesse sentido, podemos dizer que a estrutura do texto metaforicamente traz a sutileza de que a vida pode ser retomada de múltiplas formas, em saltos da memória ou na linearidade. Também impressiona que a mesma força e sensibilidade poéticas empregadas para resgatar a meninice da personagem nos cordéis da pequena cidade em que se criou, apresentam-se nas reflexões filosóficas do doutorado da narradora ou na comparação entre o pretérito, o presente e o que especula acerca do futuro da Humanidade.

O romance “A um passo do esquecimento” transita nas demais obras de Gizelda Morais. Nas suas páginas, é possível se entrever os casarões e as senzalas das vivências humanas, o velejar dos que navegam com esperança, as baladas de sua poesia, os espaços e épocas regidos pelos agogôs da memória e os versos e reversos das inquietações de tantos personagens que caminharam pelo conjunto de sua obra. Nesse livro, Gizelda, com seus “olhos de praça triste”, brinda-nos com que devemos considerar sua obra prima, plena de uma pujança ímpar. Um texto que, ao contrário, do que anuncia seu título, não há de ficar no esquecimento.

* Professor, Mestre em Letras (UFS) e doutorando em Literatura Brasileira (USP). E-mail: wagnerlemos@yahoo.com.br

 

A um passo do esquecimento – Gizelda Morais. Publicado em dezembro de 2014 em plataforma virtual http://www.biblioteca24horas.com.br, endereço eletrônico em que está disponível para compra do livro eletrônico ou impressão sob demanda.

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Slave market

Início desta página

Ivan, 2003

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion, detail

Gizelda Morais


 

Endereço postal:

 
Rua dep. José Lages, 113
Ponta Verde
57035-330 - Maceió, AL

gizel@uol.com.br

 

 

Biografia:

 

Nasceu em Sergipe e mora atualmente em Maceió. Seu primeiro livro de poesias, Rosa do Tempo (1958), foi publicado aos 18 anos, pelo Movimento Cultural de Sergipe. No ano seguinte ganha o 1° prêmio no Concurso Universitário de Poesia em Belo Horizonte. No mesmo gênero publicou, Acaso (Salvador/1975), Cantos ao Parapitinga (Aracaju/1991), Poemas de Amar (edição pessoal, 1995); em parceria com N. Marques e C. Fontes, Baladas do Inútil Silêncio (Salvador/1964) e Verdeoutono (Aracaju/ 1982); participa de coletâneas, Palavra de Mulher (Rio/1979), Aperitivo Poético (Aracaju, edições de 1986/87/88/89), NORdestinos (Lisboa/1994); entre os ensaios literários, Esboço para uma análise do significado da obra poética de Santo Souza (Aracaju/1996). Reúne sua poesia, publicada e inédita, em ROSA NO TEMPO, Scortecci Editora, São Paulo, 2003.

Doutora em Psicologia pela Universidade de Lyon (França), com a tese L'Ecriture et la Lecture, 1970); lecionou nas universidades federais de Sergipe e da Bahia e, como convidada, na Universidade de Nice. Tem vários trabalhos científicos em livros e revistas, entre os quais Pesquisa e Realidade no Ensino de 1° Grau (Cortez Ed. São Paulo/1980). É membro da Academia Sergipana de Letras. Romances já publicados: JANE BRASIL, Aracaju/1986; IBIRADIÔ, 1ª ed. Aracaju/1990, 2ª ed. Scortecci Ed. SP. 2003, ed. francesa: Editions du Petit Véhicule, Nantes, 1999; PREPAREM OS AGOGÔS, Ed. Bagaço, Recife/1996, (Menção Honrosa no concursos nacional de romance do governo do Paraná ,1994); ABSOLVO E CONDENO, Vertente editora, SP, 2000 (menção especial, UBE, 2002); FELIZ AVENTUREIRO, Scortecci Ed. SP, 2001 (prêmio AJC, Especial do Júri, 2002).
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Memories, detail

Gizelda Morais



Sobre Gizelda Morais, poeta e romancista:

 

  • Sua primeira publicação em livro foi em 1958, com a poesia de Rosa do Tempo, na qual se anuncia a visão de mundo interrogante e humanista que é a tônica de sua produção posterior. Nelly Novaes Coelho, Dicionário Crítico de escritoras Brasileiras, Escrituras, SP, 2002.
     

  • Em 1958, quando da apresentação de Rosa do Tempo, o primeiro livro de Gizelda Morais, eu disse que a autora (à época, uma adolescente), “no seu recolhimento, se inquieta com o choro de uma criança que a noite vai empurrando pela rua ou com o sorriso amargo de um homem que, na consciência de seu desespero, ainda não perdeu a esperança de se encontrar com as luzes da manhã.”... Hoje, com maior acervo de vivência e alicerçada em amplos lastros de sabedoria, a poetisa é possuidora de novos instrumentais capazes de mexer e catalogar com maestria as dores e desgraças do mundo. E de maneira doedora, mas bonita... Rosa no Tempo é, no meu entender, um milionário edifício poético e, como tal, mais uma valiosa contribuição para o enriquecimento daquilo que temos produzido como poesia do mais alto nível. (2003). Santo Souza – poeta premiado pela Associação Críticos de São Paulo 1995.

     

  • Vida e morte, ficção e realidade se confundem neste livro de três capítulos, este pequeno grande romance (Jane Brasil) obra lírica por excelência da poetisa Gizelda Morais. Ofenísia Soares Freire – professora e escritora.
     

  • As palavras de Gizelda nos ajudam a reverter nossas certezas, a refletir sobre este imenso problema da colonização e da civilização. Livro polêmico (Ibiradiô), de cólera, de revolta e de grande amor pela justiça, pela defesa dos direitos do homem, pela humanidade. Marie-Geneviève Rivault – romancista francesa.
     

  • No seu romance (Preparem os Agogôs), Gizelda desce aos bastidores da história sergipana, e aí aprendi muito num campo em que me ocupei em demoradas pesquisas. Parece-me que a querida escritora viveu nas casas grandes, nas senzalas, em conventos de Sergipe, Bahia e Alagoas, no século XIX, tais os aspectos políticos, econômicos, religiosos, conluios e tragédias narrados. Acrísio Torres – escritor, professor da UnB.
     

  • Baseando-se nos conflitos íntimos de seu protagonista, um emérito e respeitável juiz, GM, criou um romance (Absolvo e Condeno) que prende o leitor da primeira à última página, quase que o obrigando a lê-lo num fôlego só. Ryoki Inoue – romancista.
     

  • Feliz Aventureiro é um livro que faz pensar, a reflexão filosófica a dominar o leitor incauto, a trama, a nervura básica do seu grande romance. Mário Cabral – Jornalista e escritor.

   

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona

Início desta página

Micheliny Verunschk

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

Gizelda Morais


 

Sobre IBIRADIÔ em 2ª. edição brasileira, 2003. (livro recomendado pela Universidade Federal de Sergipe para o vestibular ). :

 

 

A reedição de IBIRADIÔ, mais do que necessária, era urgente, especialmente após a versão francesa por Philippe Meilhac, publicação a cargo de Éditions du Petit Véhicule (1999), de boa apresentação gráfica. É justamente neste aspecto que residia o calcanhar-de-Aquiles da edição vernacular (1990), cuja feição da obra, como um todo (capa, mancha tipográfica, margens, entrelinhas, tipo de letra, etc.), empanava o plurifacetado universo fabulatório de Gizelda Morais. Agora, sim, o leitor pode e vai usufruir com gosto a leitura do romance, que é, não só um marco no trajeto ficcional da autora, mas também da própria ficção brasileira, pelas inovações artesanais postas em prática, como está dito no prefácio do livro. Poucas foram as mudanças, e restritas ao campo da gramática, daí IBIRADIÔ, como texto narrativo, manter-se praticamente intacto, com as mesmas características de treze anos atrás, facilitando, deste modo, o estudo interpretativo atualizado do périplo romanesco gizeldeano.

De lá para cá (1990-2003), seguiram-se outros romances de nomeada: Preparem os agogôs (1996), Absolvo E Condeno (2000) e Feliz Aventureiro (2001), este último premiado em 2002, pela União Brasileira de Escritores, com o Especial do Júri, sendo ainda os dois outros agraciados com Menção Honrosa, respectivamente, em Concurso no Paraná e pela referida UBE. Cada um desses novos romances constitui uma inusitada experiência narratória, com enredos e processos elaboracionais diversificados, que revelam o labor diuturno de GM na difícil aprendizagem de textualizar situações e sentimentos, ou seja, realidades concretas e subjetivas, do mundo e da alma humana. Aparentemente, Jane, em Jane Brasil, Cristóvão (homônimo do cineasta), em Ibiradiô, Tomás, em Preparem os agogôs, Doutor João, em Absolvo e Condeno, e Alberto, em Feliz Aventureiro, apresentam-se com o mesmo perfil psicológico, mas, na verdade, são tipos autônomos graças à trama narrativa e ao tratamento fabulatório dado pela autora, pluralizando a maneira de narrar, de romance para romance.

O que mais chama a atenção em GM é a sua constante busca de novos caminhos estéticos personalizados, num esforço de dicção narratória renovadora, emprestando a cada nova experiência ficcionista uma diferenciada técnica de estruturação do enredo. Poucos escritores brasileiros tiveram ou têm esse mérito, pois a tendência generalizada é a repetição dos elementos elaboracionais básicos, aprisionando o ato de romancear numa f(ô)rma comum previamente conhecida, em que os textos produzidos são semelhantes, como se fossem produtos industrializados. O conteúdo varia, mas a forma não. Esta é a regra geral.E Gizelda Morais sinaliza na direção fecunda: cada novo texto embasado com uma forma narratória própria. A insatisfação artística a faz perseguir novos horizontes estéticos, no propósito consciente de novas formas de expressão e urdidura romanesca.
 

 

Jackson da Silva Lima – escritor e crítico literário.
 

   

 

Tiziano, Mulher ao espelho

Início desta página

Myriam Fraga

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Michelangelo, 1475-1564, Teto da Capela Sistina, detalhe

Gizelda Morais


 

Comentário sobre Estudos & Catálogos- Mãos, de Soares Feitosa:

 

Sent: Tuesday, January 20, 2004 11:03 PM

 

Caro Soares,

fui agraciada com o seu texto Estudos & Catálogos Mãos, que eu encontrei em casa na volta de uma viagem de começo de ano. Foi o texto mais lindo, mais bem plasmado, que li ultimamente. A princípio pensei que fosse um conto, só depois vi que era um prefácio. É mais que um prefácio. Ah, se tivéssemos tantos prefácios assim! Você precisa escrever um romance sobre o tema. E as apreciações? Como temos gente boa neste nordeste, neste país. Também levei seu texto para o meu grupo literário, foi sucesso.

Um forte abraço com todas as louvações.

Gizelda Morais

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Slave market

Início desta página

Ivan, 2003