Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edna Menezes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vera Queiroz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nelly Novaes Coelho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Elizabeth Marinheiro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Grief of the Pasha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Blake (British, 1757-1827), Christ in the Sepulchre, Guarded by Angels

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Waterhouse , 1849-1917 -The Lady of Shalott

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Noli me tangere

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eloí Elisabeet Bocheco

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Giselda Medeiros

 

 

 

 

 

 

 

 

Maria Maia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Elaine Pauvolid

 

 

 

 

 

 

Joaquim Alves

 

 


VINTE poemas de amor

extraídos do livro, ainda inédito,

“Do amor... já pouco se sabe”

 

 

1

 

aqui, onde o silêncio se instala

e os nervos pedem água

aqui

começa a terra que a lua

desconhece

aqui

onde parece pouco haver

para dar

é o azul da esperança

que resiste

aqui

entre o cinza das tardes

e o sol que volta

a brilhar teimosamente

nas manhãs que se seguem

aqui

 

será que ainda há gaivotas no tejo?

 

 

2

 

Junto de novo a mão direita

à sombra do ombro

que me ampara

desconheço a trajectória dos sonhos

que se foram

 

há uma arte de falar

desta ânsia que se instala

no centro do grito

deixem que as mãos se unam

que as crianças gritem

e saltem em tentativa

de apanharem o arco-íris

do espaço

 

será que é proibido

desejar o azul

nos teus olhos?

 

 

3

 

Conhecem o amor e a paixão

simples os olhares puros nas fontes

a frescura permanente da terra

os arbustos que florescem

em cada primavera

não conhecem as cidades

para quê

se tudo aqui é miséria

multiplicada por decreto

 

 

4

 

Os cumes das montanhas bailam connosco

vêm ouvir-nos entoar as canções

que amamos no entendimento de darmos mãos

e ouvidos e estultos sentimentos de agora

 

depois erguem-se um pouco mais

e de novo nos espreitam e perguntam

como é possível estarmos aqui

e eles lá em cima

onde o sol é mais meigo

e o corpo mais leve se torna

riem-se

não conhecem a nossa dificuldade

e a rir amigos se tormam

da nossa tentativa

 

 

5

 

regresso ao teu olhar

quero colher-me de ti

entender as canções

que trago escondidas

e não sei revelar

 

colhe-me tu também

inventa o banho mais seguro

para recuperar este embalo de doidos

na noite mais longa

das mãos dadas em direcções

todas as direcções

sem preço

 

 

6

 

e não nos dão sossego

 

avança

entra

está aqui o banquete

 

víboras

abutres

papagaios do desespero

não nos dão a lua

não nos dão momentos

nunca cumprem

promessas

 

 

7

 

ah esta coragem

a raiva

em desconcerto com o tempo

que não se acalma

mais e mais

e cresce

e ganha proporções

de loucura maior

perante tamanha potência

dos homens

só o negócio conheço 

 

 

8

 

uma música quase de anjos

chega-me da tua voz

suspensa na árvore

que deu flores

coloridas

intensas e quentes

quase em chamas

simbiose da dor e do orvalho

em manhãs dias noites

e tardes de insónias

por desvendar

que música

que estúpidos

os anjos 

 

 

9

 

um grito levanta-se da noite

para dizer

quebra todas as barreiras  rapaz

destrói todas as prisões do medo

os silêncios inúteis

imerecidos

em tempo de lua cheia

lança-te nessa maré de luz  rapaz

e colhe fios de areia fina

faz colares de cristal

e oferece-os à tua amada

 

 

 

10

 

Há uma dor

que não tem limite ou cura

não  não tem

 

cravada no mais fundo da loucura

sobe à garganta

invade a mão

é como se estivéssemos possessos

e sem nada possuirmos

a não ser essa dor

que não tem limite ou cura

 

apenas um sorriso

inesperadamente aberto

 

 

 

 

11

 

ficar

ou ir contigo

 

a diferença

entre encontrar-me

e perder-me

 

onde

não sei se estou

 

 

 

12

 

queria prolongar-me na paisagem

que no interior existe

do teu olhar intensamente luminoso

 

penetrar na insondável floresta

que em ti se alimenta

nas verdes fibras

inquebráveis teias

de abraços tenros

em primavera de beijos

 

por vezes

em ti

 

 

 

13

 

perpétua é a sombra

porque há luz

e o silêncio habita

onde não chegam

os passos 

 

 

 

14

 

dos teus olhos

salta a onda de terra

que rebenta

em minhas mãos

 

 

 

15

 

às vezes os olhos são felizes

 

correm pelo rosto

baixam ao peito

erguem-se à chuva

lançam-se ao mar

 

procuram lágrimas perdidas

das longas ausências

sem desespero

 

às vezes os olhos são felizes

e fazem milagres em segredo

 

 

 

16

 

dos teus ombros

corre a  água fértil

fresca sossegada

 

a água do espanto

e da surpresa

 

dos teus ombros

a esperança

dos momentos que são lua

e recompensa

de tudo o que possa falhar

 

dos teus ombros

a beleza

de todos os percursos

que são olhos

e fonte

de mistérios

 

de ti

 

 

17

 

rompo todos os limites

o início de uma loucura nova

em veias repletas de segredos

e sombras

 

de homem

 

 

 

18

 

não mais ao tempo

nunca a esta memória

que se entrelaça e consome

como se fosse alga

nem quente nem fria

no meio da noite vazia

 

regressa já alegria

 

 

19

 

como a pedra

 

também o rio

à procura

 

do

equilíbrio

 

 

20

 

Entre ti  e o orvalho natural dos dias

que distância medir

companheira

deste tempo desnaturado

 

reunimo-nos em volta da mesa

à espera de nomes para almoçarmos

entre a música e os dedos agitados

e os mil segredos que se descobrem

revelam a cada passo

 

como entender sinfonias do sentir

coisas de dentro fora de compasso

 

entre ti e o sol enevoado

apenas a água explica o verde

que povoa o nosso abraço

 

como viver aqui

agora sem espaço

sem ti

 

 

Joaquim Alves

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Manoel de Barros

 

Augusto dos Anjos

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
5.5.2007