Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

José Marins

josemarins@pop.com.br

 

Sandro Botticelli, Saint Augustine, Ognissanti's Church, Firenze

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Micheliny Verunschk

 

Xenia Antunes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Maria Georgina Albuquerque

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

Ana Peluso

 

 

 

 

 

 

Victor Mikhailovich Vasnetsov, Rússia, 1848-1926, The Knight at the Crossroads

 

 

 

 

Rosane Villela

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

 

 

Astrid Cabral

 

 

 

José Marins


Chuva

  

chuva que lava o ressequido telhado

leva a poeira dos dias

 

chuva de água luminosa

cristalinos cachos de transparências

 

chuva que canta nas telhas

canção no vão das calhas

 

da chuva o enlevo

ao sonho nos leva

águas despertas

 

chuva de finos fios

na mansidão da noite

encontro de encantos

 

luz na imensidão

pingos dourados

na face da rainha das águas

 

chove perdão

suas lágrimas

de água doce

 

 

ALVA BRISA

 

 

A

AVE

SUAVEMENTE

AVOA

 

VIVENTES

AVIVAM O AUGÚRIO

 

AVOANTES AO VENTO

SOBREVOAM

OS TELHADOS DO CASARIO

 

RETALHOS DE NUVENS

AVANÇAM

SOB UM CÉU DE ESTRELAS

FUGIDIAS

 

A SEDA DA MANHÃ

CEDE O BRANCO

À TRANSPARÊNCIA DO AR

 

SONHA NOIVA

A TRANSLÚCIDA MOÇA

INDA ONTEM

ANDAVA MENINA

E

SORRIA

ALVA BRISA

 

ARRULHAM POMBOS

EM SEU DESPERTAR

 

SEUS OLHOS

DOIS BRILHOS

NOS TRILHOS DA VIDA

 

SEU CAMINHO

PASSOS NO BEM

 

LUA DIURNA

 

 

traz uma canção a madrugada

 

de uma lua diurna diz

pulsar de coração o dia

serena vazante de luz

 

amanhece nos olhos das gentes

 

palavras aos ventos

segredos da memória

nos ouvidos atentos

 

clareado rosto de quem vem

 

invisível letra de paz

a canção da lua diurna

no compasso dos pés

 

a canção sorri com os sonhos

 

esperado brilho de luar

sol que me eleva o dia

lua diurna quero te dar

 

 

Noite

 

 

não são meus olhos

que procuram estrelas

no infinito espaço

 

são meus lábios

para dizer-lhes

meus versos precários

 

VIAGEM DO VENTO

 

 

o vento vem voa  

em verdejante jardim

 

nas asas da borboleta vai

veleja o branco jasmim

 

no bico do colibri

vaga sobre flores

vintém de afago

no sim das cores

 

quase brisa   suave tocar

a fragrância das maravilhas

 

ser veículo ou traquinar

veleiro vento das trilhas

 

voltas na janela aberta

volteios dançam cortinas

visita a bela que se veste

de véus e voláteis aromas

 

revira rodopios e curvas

vertigem de doçuras   viaja

 

perde-se ao se prender

na vela do branco lençol

 

eternas asas seu querer

move-se feito inspiração

 

HAICAIS

 

primavera:

 

manhã no parque

refletido na lagoa

um ipê florido

 

estrada florida

os passos vão devagar

junto com a brisa

 

no cacho de flores

pétalas em movimento —

uma borboleta

 

um suave azul

nestes cachos de glicínia

pedaços de céu?

 

verão:

 

a tarde se vai —

em um círculo sem fim

formiga no prato

 

sol de fevereiro

o prateado da tilápia

na ponta da linha

 

sem poder dormir

com o Carnaval lá fora —

lua na janela

 

ribombam trovões

minha mãe corre esconder

o velho espelho

 

outono:

 

velho casarão

em completo abandono

floresce o crisântemo

 

viagem de trem

as quaresmeiras floridas

na Serra do Mar

 

um templo vazio —

no silencioso refúgio

o canto do grilo

 

noite alongada —

giram recordações

na velha vitrola

 

inverno:

 

sinos em silêncio

atravessa o campanário

um vento gelado

 

domingo no parque

barulho de folhas secas

entre os caminhantes

 

cafezal geado —

busca um sino ao longe

mudo lavrador

 

meu velho pai —

tão perto e tão distante

sentado ao sol

 

 

Tercetos:

 

ah, o presente

um dia será passado

o futuro que ele faz

-

névoa da manhã

um gari solitário

varre o outono

-

assumir a perda

o silêncio do aceno

também perdê-lo

-

é sempre verão ---

nas pernas

da mulher amada!

-

levarei seu olhar

mais que seus beijos

levarei sua boca

-

a tarde insinua

sob o belo vestido

você em si nua

-

ficar contigo

igual na barriga

seu umbigo

-

diante de você

meu bem, meu mar

imensidei-me

-

êxtase

quem sabe

leveza

-

quero ser cremado

virar fumaça

arder nos seus olhos

 

HAIBUN:

 

Os frutos dourados do cinamomo

     A lua cheia dourada por entre as árvores. Sobe devagar. Esplandece o luar sobre o casario. Nos cinamomos os frutos dourados se multiplicam em milhares de pequenas luas.
     A moça de avental está na porta da padaria vazia. A janela da casa da velha viúva ainda está aberta. O homem de boné vermelho passa com seu cão. O cobrador da estação lê seu grosso livro. Será que desliguei a chaleira quando saí?

     latidos ao longe
     com as folhas amarelas
     a árvore sem nome
    

 

A Colona   

     Quinze quilometros do centro de Curitiba encontram-se estradinhas rurais que recortam remanescentes pinheirais, entre matas de bracatingas, os capoeirões.
     O carro avança pelas estradas que serpenteiam campos secos. Aqui e ali alguma lavoura de invernia, fumaça numa chaminé, a igrejinha, a venda, colonos.
     Esfria mais. Caminha ligeiro levando a pressa e o cansaço da faina, uma colona. Ela carrega a roupa coberta de poeira vermelha do trabalho na terra. O lenço cobre-lhe a cabeça, mas não esconde o acanhamento. Nem o sorriso e os olhos azuis. A fala marcada de sotaque.
     A tarde finda. Não soube seu nome nem para onde ia, e menos de sua pressa. Levo a beleza da imagem da camponesa nos olhos e a pergunta: qual a lida que a cobriu com tanta poeira?

     sopra o vento sul
     dança no ar em zigue-zague
     a fina garoa

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion, detail

 

 

 

 

 

José Marins

 

 


 Bio-biliografia:

  • poeta e escritor paranaense (Curitiba – PR)

  • Mestrado em Educação pela UFPR

  • Membro do Centro de Letras do Paraná

Trabalhos:

  • FAZENDO O DIA (poemas), Curitiba, Araucária Cultural, 1985;

  • POEZEN (haicais), Curitiba, Araucária Cultural, 1985;

  • Monalisa: a conchinha sabida (infantil), Ctba. Araucária Cutural, 1989;

  • PINHA-PINHÃO PINHÃO-PINHEIRO (haicais encadeados) em parceria com Sérgio F. Pichorim, Curitiba, Araucária Cultural, 2004;

  • KARUMI (100 haicais) inédito;

  • BICO DO JOÃO-DE-BARRO (100 haicais) inédito;

  • DAS TRINCAS CORAÇÃO (tercetos) inédito;

  • MEMÓRIAS DE VIDRO (contos) inédito;

  • O DIA DO PORCO (romance) inédito;

  • HAIBUN (haibuns) inédito.

 

 

Trabalhos publicados na Internet:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

22.02.2007