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Laeticia Jensen Eble


 

DUELO
 


O olhar reclama
se lança a vagar
mergulha
no azulamarelobscuro
do ser
e o não ser
O invisível
é o limite
armadura do eu
alvorecer do além universo
espectros refletidos
desnorteiam-me
Quanto mais o querer ser
menos o é
Eterno duelo
realidade ou ilusão
Opostos que se atraem.
 

 

 

Herbert Draper (British, 1864-1920), A water baby

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Ledo Ivo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), A Classical Beauty

 

 

 

 

 

Laeticia Jensen Eble


 

GIL, ABERTO GIL
 


Tenho uma página aberta diante de mim.
Nela posso ler o teu nome.
Gil, aberto Gil.
Descubro teus versos...
Em palavras se faz o teu mundo,
O meu mundo, o mundo de todos.
As perguntas que um dia fizeste
Também em silêncio eu fiz.
Tantas das coisas que viste
Também por meus olhos eu vi.
Conheces tão bem o caminho,
O jeitinho do agora, da vida, da paz.
Conheces bem a rudeza do mundo
E com fé ensinaste a dizer não.
O teu som é o grito do teu silêncio.
É a chave da aventura.
É o hino ao mistério.
É o leite que jorra da terra.
É o sonho do homem comum.
É o amor desmedido,
É muito dar, e ter cada vez mais.
 

 

 

Hélio Rola

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Thiago de Mello

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat

 

 

 

 

 

Laeticia Jensen Eble


 

Hoje quero a água batendo em meu rosto

 

 

Hoje quero a água batendo em meu rosto
como uma benção
Quero as brumas envolvendo meus cabelos
como uma prece
Quero a carícia da terra em meus pés caminhando
como um lamento
De tudo que não fiz
de tudo que não disse
de tudo que não quis.
Quero fazer parte do todo
para me desfazer em nada.
Preciso de um recanto
de um conselho
de um silêncio amigo
Não sei onde ando
com quem ando
onde quero ir.
Só sei que preciso chegar
mas não querem me esperar
Choro sozinha esquecida
na solidão de minhas mãos
que me acodem a secar as lágrimas
Suspiros são como gritos agora
É tudo que emito
Ahhh...
Que saudade do tempo
em que eu não sabia
o que era viver
A felicidade era tão simples
Tão fácil de ser alcançada
Agora sigo meu destino
cansada de andar
Para cada vez mais longe.

 

 

 

Valdir Rocha, Fui eu

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Mauro Mendes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caravagio, Êxtase de São Francisco

 

 

 

 

 

Laeticia Jensen Eble


 

NA SALA DE “AULA”
 


Treze anos se passaram
O carro preto o levou embora
Agora
O reencontro
A lição
que dedicou a mim.
 


“Aula”,
Roland Barthes.
Folha de rosto
rabiscos a lápis:
 

Dia de chuva, na ilha
Caminhadas a pé
pela cidade
Pour Laetitia
ma fille
um amour vraimant
sensible
delicate
trés douce
C’est elle Laeticia.

 


Peço refúgio ao silêncio
Nas palavras não ditas
A lição que agora faz parte de mim
Para sempre.
 

 

 

José Saramago, Nobel

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Miguel Sanches Neto, 2002

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Venus with Organist and Cupid

 

 

 

 

 

Laeticia Jensen Eble


 

Navegar é preciso?
 


Dantes, das naus do caos
redes de ferro e fogo
dominaram-nos, converteram-nos
Hoje, redes virtuais
pendem de embarcações
que nunca tocaram o mar maculado
A epopéia se refaz
E nós, excluídos.
 


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Ao povo não guia a bússola vil dos argonautas
Continuamos selvagens - aborígines
miséria que abastece e entorna a taça daquele que ri
A mão calejada colhe o aroma do seu perfume,
corta na própria carne o cerne do seu assento
Globalização – traição!
Escavação das trevas.
 


- Digite sua senha
 


A fé anima a febre
desse povo que agoniza
Tupã nos salve!
Rogai às aves que aqui gorjeiam
acordem-nos desse sono hipnótico
E se revele aos nossos olhos a riqueza
Desfrutemos do legítimo direito
de abastecer nossos próprios cálices
De onde só entornavam lágrimas,
já pode verter dignidade.
 


- Senha inválida
Tente novamente
mais tarde.
 


Este poema foi premiado com o 2º lugar pelo II Prêmio SESC de Poesia,
 no DF em 2003

 

 

 

Leonardo da Vinci, Embrião

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Neide Archanjo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Consummatum est Jerusalem

Laeticia Jensen Eble


 

O poeta tem a alma do tamanho do mundo

 

 

O poeta tem a alma do tamanho do mundo
É fácil ter alma de poeta
Difícil é escrever um poema.
 

 

 

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), girl

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José Lívio Dantas