Olga Amorim
Mudança
Meu coração fecho com receio
ao desmontar a casa.
De tanta coisa, das minhas coisas
abro mão – nem titubeio.
Do tempo dotado de asa
tomo decisão sob inspeção.
Tranco angústia, emoção,
só não seguro o sono,
razão da caneta na mão.
No papel, o pensamento vaza,
se dispersa de madrugada.
Manhã marcada, uns homens de chegada.
Doutores vasculham antes de,
em poucas horas, tornar vazia
a casa. Intácto só o quintal.
Seus verdes, rosas, romã pendente.
Na sucessão, o trevo, a rodovia,
presente o sopro quente da estiagem.
A ausência dos meus olhos na paisagem,
fez falta não. Tudo sei de cor.
|