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Osvaldo Chaves

Granja, CE, 21/09/1923 - Sobral, SP, 13/02/2020

Entardecer, foto de Marcus Prado

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Alguma notícia da autora:

 

 

Sophie Anderson, Portrait Of Young Girl

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Osvaldo Chaves


 

Bio-bibliografia


Padre Osvaldo Carneiro Chaves, mais conhecido como Padre Osvaldo Chaves, foi um professor e poeta cearense.

Compôs, aos dezessete anos, os versos do que seria hino de sua terra natal.

Ingressou em 1940 no Seminário Menor de Sobral. Em 1946, matriculou-se no curso de Filosofia do Seminário Maior de Fortaleza. Ordenou-se padre em dezembro de 1951.

Exerceu funções de vigário-auxiliar em Crateús, Acaraú e São Benedito (Ceará), passando, em 1960, a residir definitivamente em Sobral, onde continuou seu trabalho pastoral. Em 1961, passou a dar aulas de Português e Literatura Luso-brasileira na Faculdade de Filosofia Dom José, onde permaneceu por 13 anos. Aposentou-se em 1981.

Seus poemas esparsos foram reunidos sob o título de Exíguas, livro publicado em 1986 e relançado em 2007.

"Padre Osvaldo Chaves" é nome de uma rua e de uma escola pública em Sobral.

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Osvaldo Chaves


 

 

 

MADRIGAL PARA OS 80 ANOS DO PADRE OSVALDO CHAVES


Está dito
que as coisas e os homens ficam velhos
que as perspectivas se tornam objetos
e as esperanças terminam em desfechos venturosos ou sombrios.
 

Entretanto,
o mundo poupou algumas coisas
da obrigação fatal do envelhecer.
Os sonhos, por exemplo, os belos sonhos, nunca prescrevem:
transformam-se em esperanças mais afoitas.

As manhãs ansiosas
podem virar tardes fagueiras
e a noite é uma crioula ardente
à procura de seu prometido,
o novo amanhecer.

A memória,
essa mola retesada,
quando se dispara para trás
nos arremessa ao país da infância/adolescência.
E é nesse território deslumbrante
que encontramos
a cal a pedra de nossa alvenaria.

No velho casarão da Betânia
as coisas são eternas.
As paredes são sólidas, imponentes,
e os seus tijolos estão em nós
organizando a nossa construção.

Entre corredores e pátios
um pilar se destaca
como um obelisco de desbravador.
É um marco filosófico e telúrico
e tem a solidez daquelas construções
feitas por Dom José.
Sua argamassa é de pedra moída
misturada a pavanas e canções
e está plantado em nossa alma
na praça principal
marcando os tensos passos do destino.

O olhar do tempo tem agulhas
e agudas emoções
que se atiram ferinas sobre nós
e nos desdobram a vida,
velha madrinha das contradições.

Mas ele está ali
simples e luminoso como sempre
preservado em sua serenidade,
ecoando lições e apontando caminhos.

É a nossa coluna,
a Torre de Alexandria,
e sempre lhe sobrou
luz e sabedoria.

A torre é o nosso mestre, o Padre Osvaldo.
E ao grande mestre
os marinheiros voltam pressurosos.

Buscam lições que não ficaram antigas
buscam claros exemplos e as palavras
densas de vida e cor de suas cantigas.

Nas verdes manhãs de outrora
ele chegava exultante
para tecer o porvir.
E da porta saudava a todos
Salvete, salvete, pueri!!!
Salve, salve, oh meninos!!!

Padre-mestre,
nós somos os meninos.
Aqueles mesmos das severas tardes
retorcidos de medos e espantos.

Temos medo que nos olhes nos olhos e descubras
que não nos esmeramos no cumprimento das tarefas dadas.
 

Temos medo que vejas
o caderno amassado por oscilações
e os traços, nem sempre retilíneos,
que nós pusemos a rabiscar no mundo.
 

Temos medo
de não ter aprendido a distinguir
a verdade, da fábula
a pedra, da nuvem
a palha, do linho
o vitral, da masmorra
a humildade do sim, da arrogância do não
a sutileza, do disfarce cínico
a autenticidade, da brutalidade
o prazer da vida, da libertinagem
a fé teológica, do medo de Deus
o mistério dogmático, do enigma banal.

Sabes tudo dos homens e da vida
enxergas longe, além do hodierno
sabes do céu, sabes da terra
dás notícia do prisco e do moderno
do transitório e do eterno.
Sabes dos sinos
e, ao escutá-los,
ritimas os lamentos e as canções.
E como o arauto fitando o litoral
proclamas das torres da Prainha
o sonho medieval.

Quantas pedras no meio do caminho,
pedras drumondianas,
postas ali para interpor o teu chão.
E sobre todas elas deste o salto,
o salto impávido dos que têm razão.

Os parvos vão ficando pelas margens
e enquanto isso
vais pedalando a tua bicicleta.
A sorte te acompanha e vai dizendo:
Pedala firme, meu poeta!

Teu coração é o eixo metafísico
que aguenta as rodas dessa bicicleta
uma é real e a piçarra invade,
mas a outra faz um rastro transcendente
nas finas terras da sublimidade.

Tens uma pátria, a Granja dos Séculos,
onde perambulou o menino Osvaldo,
filho de Manuel e Maria.

Da juventude de sonhos e procuras
nunca encontraste, talvez, naquela praia
o corpo da afogada.

E nós te acompanhávamos nessa busca
nas ondas da enseada
pelas brisas e cais:
Oh Lucidia, onde estás?

Dos eleitos da fé és sacerdote,
sacerdos in aeternum,
e abres caminhos entre puros e néscios,
que a todos, bons e maus, tens de salvar:
Sou sacerdote, deixem-me passar!!!

Não ficaste na cela, como um monge asceta
porque não és agrimensor de solidões:
És um homem do mundo semeando
os legumes de Deus nos corações.

Tua poesia é um pasto de gramíneas
ou uma novilha prenha de ternuras
um bando de asas-brancas alvissareiras
o vôo nupcial das tanajuras.

Teu verso é puro e honesto
um verso honrado
que rima com tua vida transparente
sai da alma certeiro e encomendado
para alegrar e consertar a gente.

És um país, Osvaldo, uma nação
civilizada e de lúcido perfil
onde tremula uma bandeira verde
cheia de constelações, bandeira rica,
que quanto mais verde é mais brasileira fica,
Bandeira do Brasil.

E ao nos despregarmos
da aridez metálica deste tempo insípido
e nos renovar
na graça esplêndida de teus oitenta anos,
tocamos, novamente,
a túnica inconsútil de tua honradez,
requerendo:
Ainda somos os meninos da Betânia
assustados diante do destino
e vivendo a liturgia desta emoção.

Mestre, dá-nos a mão:
Somos os teus meninos.


SOBRAL, 2003.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Osvaldo Chaves


 

Sobral, 19.06.94

 

Soares Feitosa

 

meu poeta amigo:

 

Musas já fecundei de três poetas: Pe. Antônio Tomaz, Juarez Leitão e Soares Feitosa. Não sei qual das três me deu mais glória com o bendito fruto: “Desencanto”, “Farol de Alexandria” e agora esse “Nono Poema - Viagem a Mirian”. Três poemas verdadeiros. O primeiro é um soneto trabalhado. O segundo são versos populares feitos para declamar, realmente belos. O outro tão novo... nem ainda há moldes para enquadrá-lo no arsenal estético: não é condensação, não é feitura, como é para o alemão e foi para o grego.
 
Tem o melhor do antigo e do atual: poesia-sugestão, poder de Homero para transfigurar o que é pequeno em plano olímpico; e o particular, o pessoal, em nível de universo.
 
Poesia perene.
 
É poesia.
 
O que digo a respeito do “Nono Poema - Viagem a Mirian” digo dos demais poemas de Soares Feitosa, independente do que deles disserem os Gerardos, os Artures e os Césares Leais.
 
Um abraço do seu amigo velho

 

Osvaldo Carneiro Chaves

 

 

William Blake (British, 1757-1827), Angels Rolling Away the Stone from the Sepulchre

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Anderson Braga Horta

 

 

 

 

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