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Ricardo Alfaya


 

PREVISÃO DO TEMPO
 

 

Na era de ouro
Da poesia chinesa
2.300 poetas havia
Deles sobraram três
E dos três restou para nós
Li Po
Os outros ouros
Viraram pó.
 

 

 

Crepúsculo, William Bouguereau (French, 1825-1905)

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Dora Ferreira da Silva

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

Ricardo Alfaya


 

POEMA N° 2
 

 

A primeira tentativa deu certo
A segunda vamos ver
Não é toda hora
Que baixa sobre nós a Aurora
Também pudera
Segunda é feira
Barracas sendo montadas na madrugada
Pancadas
Meu cérebro grita
Na noite insone
Ninguém houve
O pensamento é um protesto mudo
Absurdo
Para uma vida bem curta
Tão agudo e constante sofrimento
Distanciamento
Enfoque para outro lado a câmera
Olhai pro céu pro céu pro céu pro céu
 

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

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Jomard Muniz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

 

 

 

 

Ricardo Alfaya


 

UM RELÂMPAGO NA SÃO SILVESTRE
 

 

Transito pela luz amiga oculta
Conheço todos os ritos
De passagem
Maratonista da São Silvestre
Encontro num pedestre
Uma face conhecida
Ou quase
Foi engano
Mas lhe desejo
 


Feliz Novo Ano!
 


O grito o eco o clarão bem mais perto
O passado caminha adiante
Da prateada rua minguante
No meio da noite
Dormir para quê?
Espero o brinde dos fogos da taça
Onde há champanhe há fumaça
Num relâmpago o ano passa.
 

 

 

Michelangelo, Pietá

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Francisco Perna

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

 

 

 

 

 

Ricardo Alfaya


 

FÓRMULA 1
 

 

Me banhei de sonhos
500 anos
Envelhecido
Engarrafado
Nos tonéis dos olhos
Outro nome a jato
Passou por mim
Letreiros
Dúvidas luminosas
Angústias
Poemas
E uma canção
Desperdiçada
Carros atropelados
Atrapalhadas avenidas
Revoada de buzinas
Da sina certa
Nenhum sinal
Sorriso amarelo
Na esquina do vermelho.
 

 

 

Bronzino, Vênus e Cupido

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Napoleão Maia Filho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

 

 

Ricardo Alfaya


 

AINDA SOBRE NUVENS
 

 

Se tudo já foi dito
Eu me calo
Mas calado não ecôo
Não ecoando o dito se perde
Tudo se anula
Se amordaça
Quem deseja mais impedimentos
"Impeachment" nos versos?
Saturados estamos todos
Ou quase todos
Porém sempre há um tolo (ou um poeta)
Disposto a dizer que viu uma nuvem
Todas as nuvens já passaram
Há milhões de anos elas passam
Infinitamente diferentes entre si
Embora sempre nuvens
Como os poemas
Sempre homens
Diferentes entre si
 

 

 

Albert-Joseph Pénot (French, 1870-?), Nude with red flowers in hair

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Luciano Maia