Sebastião Ayres
Inveja
“Não cobiçarás... coisa alguma que pertença ao teu próximo (Ex
20,17)"
“A inveja é o pecado diabólico, por excelência” (Santo Agostinho),
“A inveja é o mais dissimulado dos sentimentos humanos” (Olavo de
Carvalho)
É o pecado de Caim,
Que assassinou o justo Abel;
E do irmão do “Filho Pródigo”
Que teve invídia cruel.
Por pura inveja, o demônio
Envolveu-se em pandemônio
Quando a Deus foi infiel.
Inveja é sentir tristeza,
Desgosto, insatisfação
Por justo sucesso de outrem,
Felicidade do irmão;
É ficar contrariado,
Contrafeito, revoltado,
Perante a alheia ascensão.
É pretender, cobiçar,
Atributos ou riquezas
De quem são seus detentores
Por mérito, sem ardilezas;
É querer prosperidade,
Sem trabalho e honestidade,
Movido por espertezas.
Disputas, competições
São normais e naturais;
Recursos de emulações
São saudáveis, se leais.
Que vençam os mais bem dotados
Treinados, capacitados,
Com aptidões pessoais.
Toda inveja é inconfessável,
Sórdida e degenerada;
Pérfida, vil e maldosa,
Desprezível e depravada.
Acarreta ódio e ciúme,
Disfarça, não vem a lume,
Está sempre mascarada.
Alegra-se com a desgraça
Que ao próximo sobrevém;
Apraz-lhe a adversidade
Que recaia sobre alguém.
Assaca murmurações,
Calúnias, detratações
Contra quem já se deu bem.
Ela deforma o caráter
Pela avidez, ambição;
Conspurca a pureza d’alma
E corrompe o coração.
Conduz ao roubo e à cobiça,
Atenta contra a justiça
Degenera em corrupção.
A inveja é como uma praga,
Uma peste, uma desgraça;
Corrói o espírito humano
Com a sofreguidão da traça;
Como agulhão nos tortura,
Abrasa, qual queimadura,
Á vida é grave ameaça.
Bons antídotos da inveja
São o amor, a caridade;
Benevolência, modéstia,
A justiça e a humildade.
Ela é vício capital,
Maldito, primordial,
Princípio de iniqüidade.
Evitemos a soberba,
Toda avareza e cobiça;
Cólera, o ódio, a vil inveja,
Luxúria, gula e preguiça.
Destes vícios principais
Surgem todos os demais,
Que negam o amor e a justiça.
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