William Lial
A prostituta
Era a tristeza de homens tristes
Que a procurava;
Quer velho,
Quer jovem fossem.
Eram homens órfãos do dia
A irmanarem-se à noite.
Era a dor deles
Que ela abrandava:
Sua fome de euforia,
Sua ânsia de sorriso louco
E a glória egocêntrica.
Era no seu sorriso
Que eles regozijavam-se;
Nas suas coxas,
Nos seus seios,
Nas suas mãos e boca.
Era no dia dela
Que a noite deles terminava,
Naquele quarto vermelho,
Naquelas almofadas bregas,
Naquele calor lascivo.
Era ela, naquele lupanar,
A cortesã dos seus beijos:
Os únicos recebidos
E não roubados: comprados.
Era ela a mulher “depravada”,
Ignorada, mas não largada.
Era todo o mal e todo o bem,
Era a sua vergonha,
Era o seu prazer.
Era ela a fêmea:
Doce, perfumada, temida e desejada.
Único ouvido de suas lamentações,
Única voz atenciosa de seu âmago.
Era ela,
A prostituta.
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