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Andréa Santos


 

Sinto uma poeira nos meus olhos


sinto meu coração varrido, banido.
sinto a tua beleza longínqua de mim
sinto-a nas mãos de outros
sinto o coração batendo e quase parando
sinto a outra mão me afagando
sinto meu pensamento voando
sinto que estou apagando
não sinto...
                                                        ﺽ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

Andréa Santos


 

Há alegria em minha casa.


há festa nos corações.
há em mim a luz que desconheço.
há aquilo que todos sentem apaixonados,
há o vazio em mim!
há um corpo na cama;
há pensamento vagando
há um coração morrendo.
há eu aqui escrevendo
                                                   ﺽ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Empire of Flora

 

Andréa Santos


 

Dedicação


Amizade de duas mulheres
É quase nunca sem razão
Quase sempre por domesticação!

Amizade de dois homens
É quase nunca por compreensão
Sempre por colaboração!

Ah! Amizade liga duas pessoas
Quase nunca por paixão
Quase eternamente por união
E freqüentemente pela sensação

Ih! A amizade entre duas almas
Por pouco é paixão, tesão!
É olhar com simpatia
É amar sem a garantia
Da aproximação e coração
                                                  ﺽ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Acis and Galatea

 

Andréa Santos


 

Meu vestido


Vi- me num espelho de luxo
Vi os anos passarei por mim.
Vesti o vestido vermelho,
Coloquei o batom para sair,
Calcei o sapato alto
Fui à rua.
Lá vi o mundo mudado
Eu também.
Eu sobrevivi aos anos
Eu...sobrevi...
As luzes de um abajur desconhecido
Incomodou-me esta noite
Ele foi embora, não consegui ver-me no espelho
Vi a vida passar
Por que sou uma mulher
Da vida.
                                                  ﺽ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Nurture of Bacchus

 

Andréa Santos


 

Às vezes gostaria de dar nomes às pessoas,
Porém é quando percebo que não criei ninguém.


Eu vi o menino criado
Menino correndo no tempo
Atrás do vento.
Menino que o meu lenço não amarrou!

Eu vi a mãe criada
Mãe solteira, velhaca desamparada
Mãe que a vida não ensinou
Desamparou !

Eu vi minha mão malcriada.
Escrevendo as linhas mal-traçadas
Senti o lápis escorregar
Caiu no chão e aí..
Eu vi o sangue escorregando das minhas mãos.

Às vezes eu crio pessoas, dou nomes
Às vezes escorrego nas letras
Às vezes dou num tiro no chão.
                                                  ﺽ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

Andréa Santos


 

Poeira se assenta


Que vejo de longe as dunas
Sol quente
Imagens quebradas
Tudo bandida.

Vejo de longe as dunas,
Poeira levanta,
Lua fria
Límpidas pessoas
É tudo uma romaria.
                                                 ﺽ

 

 

 

 

 

 

06.10.2006