Ildásio Tavares
Ação do Fruto:
Actio fructus
Para Tereza Tenório
O que importa a um poema é escrevê-lo –
publicá-lo é perdê-lo – permitir
que os imbecis o pastem, qual pérolas
ruminadas por suínos; ou que os ignorantes
críticos dos jornais detratem-no, mesmo quando
falam bem dele. E que os da Universidade torturem-no,
cozendo-o no tempero insosso da estupidez
cientifica, proferindo asneiras de muito maior
credibilidade. Quando escrevo um
poema , apenas o escrevo, sem cogitar
se vai ser bom ou se vai agradar a alguém.
Acaso o abacateiro preocupa-se com a
qualidade dos seus frutos, uns mais doces,
outros menos, uns maduros, outros não? Se
eu for poeta, darei poesia como o abacateiro
dá abacates. Se algum dia, atraído por meus
frutos, alguém quiser deles provar, que faça
bom proveito – goste ou não goste, a árvore
continuará a produzi-los, casca, polpa, e o
caroço que até se pode plantar – e sempre haverá
goiabas, tangerinas, cajás, umbus, maçãs e as
difíceis nectarinas, para quem goste do sabor
delas. O abacateiro continuara a dar abacates
e eu meus versos, sem jamais nos preocuparmos
com o destino que terão. Todavia, se meus poemas
forem publicados, não quero estar por perto para
vê-los maltratados pelos olhos dos porcos a
mastigar minhas pérolas, frutos que nasceram
De mim, sem que eu sequer quisesse.
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