Kátia Rose Pinho
Dizer-me a partir de um pedido
Recebi um e-mail com as seguintes palavras: “Mande urgente: uns dez
poemas, contos, ensaios, resenhas, prefácios, posfácios, biografia e
foto de sua distinta pessoa. Com o grande abraço do Soares Feitosa”.
Regozijo d’alma e problemas pela frente. Os poemas estavam
digitados, precisavam de algumas laborações apenas, já meditadas.
Contos? E será que aquilo que escrevo em prosa pode ser chamado de
“conto”? A teoria escapole-me, não quer cumplicidade néscia. Mas que
seja. Prefiro chamar de prosa. Nomes sempre complicam tudo. Os
demais tipos de textos estavam no arquivo. Uma nota de rodapé aqui,
outra ali e tudo pronto. A foto também está no arquivo, embora tenha
verdadeira ojeriza. E agora? Falta a biografia. Problema dos
grandes!Dizer-me... Não sou logos... Mas... foi assim que a história
começou...
Era uma segunda-feira, já começou mal. Não se deveria nascer às
segundas-feiras tampouco de manhã cedo, antes do expediente e num
dia em que vencem todas as contas: 10 do mês 10. Pra completar o ano
também termina em zero: 1960. Ainda bem que a cidade era, é e será
sempre, pelo século dos séculos, abençoada por Deus e bonita por
natureza: Rio de Janeiro. Nela vivi até os quinze anos.
Um vento forte passou e me levou pro Recife. Permanência de vinte e
sete anos, oito meses e três dias. Aí terminei de crescer. Tempo
mais que suficiente para casar, parir três filhos, poemas da vida
inteira: Larissa, Dimitri e Ludmila e cursar Letras, com direito a
Mestrado em Teoria da Literatura, na Universidade Federal de
Pernambuco.
Lá veio o vento de novo e me carregou pro Tocantins. Ainda não tinha
terminado de crescer. Que fora fazer lá, tão longe de tudo? Ser
professora na Universidade Federal do Tocantins, Campus de Porto
Nacional. Contudo, a Moira redirecionou as calhas de roda de meu
fado. Um ano e nove meses de Porto Nacional fora apenas prelúdio
para mudança mais significativa. Retorno ao começo. Hoje, caminho
pelas ruas do Rio de Janeiro novamente. O Doutorado em Ciência da
Literatura (Poética), me faz navegar nas águas da poesia e do
pensamento heideggeriano, lá na Ilha do Fundão e no Largo São
Francisco Xavier. Estou a aprender-me. Para onde me levará o próximo
vento? Pergunto ao silêncio do mar de Copacabana. Vejo o ir e vir
das ondas. Sei que me vou daqui em breve (ou não). Que seja para um
lugar onde possa cultivar Flores (poemas, meus e alheios) e Flocos
de Algodão (narrativas, minhas e alheias)... O mais? O tempo di(ta)rá...
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