Lya Luft
Bio-bibliografia
Lya Luft nasceu no dia 15 de setembro de 1938, em Santa Cruz do Sul,
Rio Grande do Sul.
Por se tratar de cidade de colonização alemã, as crianças, em quase
sua totalidade, falavam alemão, e os livros utilizados nas escolas
vinham da Alemanha. Com onze anos, Lya decorava poemas de Goethe e
Schiller.
Posteriormente, estudou em Porto Alegre (RS), onde se formou em
pedagogia e letras anglo-germânicas.
Iniciou sua vida literária nos anos 60, como tradutora de
literaturas em alemão e inglês. Lya Luft já traduziu para o
português mais de cem livros. Entre outros, destacam-se traduções de
Virginia Wolf, Reiner Maria Rilke, Hermann Hesse, Doris Lessing,
Günter Grass, Botho Strauss e Thomas Mann. Ela diz que traduzir é
sua verdadeira profissão. E que faz tradução para ganhar dinheiro.
Mas também porque gosta. Um trabalho que exige respeito. Seu desejo
é aproximar o escritor estrangeiro do leitor brasileiro. Confessa
que não pode ser inteiramente fiel, porque pode-se correr o risco de
ninguém entender nada. Mas não faz um carnaval em cima do texto
alheio, não inventa, não cria frases que não existem.
Conheceu Celso Pedro Luft, seu primeiro marido, quando tinha 21
anos. Ele tinha quarenta. Era irmão marista. Foi numa prova de
vestibular. Achou-se ridícula quando pensou: esse é o homem da minha
vida! O irmão marista tirou a batina para casar com ela em 1963.
Nessa paixão, começou a escrever poesia. Os primeiros poemas foram
reunidos no livro "Canções de Limiar" (1964).
Tiveram três filhos: Suzana, em 1965; André, em 1966; e Eduardo, em
1969.
Em 1972 lança mais um livro de poemas, "Flauta Doce".
Em 1976, escreveu alguns contos e mandou para Pedro Paulo Sena
Madureira, que era editor da Nova Fronteira. Pedro Paulo respondeu
dizendo que os contos eram todos “publicáveis”. Pedro Paulo, no
entanto, aconselhou Lya a escrever um romance, dizendo que ela era
romancista. Dois anos depois ela escreveu "As Parceiras".
Em 1978 lança seu primeiro livro de contos, "Matéria do Cotidiano".
A ficção entrou em sua vida dois anos depois de um acidente
automobilístico quase fatal em 1979. Como teve uma visão mais
próxima da morte, diz a autora que começou a fazer tudo que evitava.
Primeiro foram crônicas, com o lançamento de "As Parceiras", em
1980, e "A Asa Esquerda do Anjo", em 1981. extos amenos. Uma espécie
de fingimento de que na vida tudo é bom. A morte é encarada como uma
coisa normal. Mas gostaria que todos os seus amigos fossem eternos.
Mesmo assim, acha a morte uma coisa mágica.
Em apenas oito anos Lya Luft sofreu duas perdas grandes demais. Dos
25 aos 47 anos foi casada com Celso Pedro Luft. Separou-se dele em
1985 e foi viver com o psicanalista e escritor Hélio Pellegrino, que
morreu três anos depois. Em 1992 voltou a casar-se com o primeiro
marido, de quem ficou viúva em 1995.
A escritora é conhecida por sua luta contra os estereótipos sociais.
"Essas coisas que obrigam as pessoas a ser atletas. Hoje é quase uma
imposição: a ordem é fazer sexo sem parar, o tempo todo. A ordem é
não fumar, não beber. É essa loucura o dia inteiro na cabeça. Quem
não for resistente acaba enlouquecendo. E a vida fica para três.
Hoje as pessoas estão sofrendo muito. Um sofrimento absolutamente
desnecessário. Especialmente as mulheres que fazem plástica logo que
vêem uma ruga no rosto. Plásticas de inteira inutilidade".
Lya Luft deixa claro que nada tem contra as cirurgias plásticas, mas
contra o rumo disso tudo. "Na ambição de serem sempre jovens, as
mulheres acabam perdendo o próprio rosto. São os falsos mitos da
juventude para sempre. E isso também inclui a febre atual da mídia,
particularmente nas revistas femininas. Só se fala como se pode ter
vários orgasmos numa única noite. Só se fala em como a mulher deve
agir para segurar seu homem pelo sexo, especialmente o oral. São
fórmulas de um mundo conturbado, que foge ao afeto, distante de
qualquer felicidade. Essa é outra coisa para o enlouquecimento. Em
todo lugar, o que existe é a supervalorização do sexo. Quem não
estiver fazendo sexo sem parar o tempo todo passa a ser anormal.
Muita gente fica complexada porque não consegue vários orgasmos numa
noite. É tudo uma imposição".
A autora diz ser uma constatação precária dizer que ela escreve
sobre mulheres. Mulheres não são seus personagens exclusivos.
“Escrevo sobre o que me assombra”, observa. E nisso está a infância.
O importante é o compromisso com a dignidade. Toda a sua obra
poderia ser resumida — como afirma — num livro de indagações.
Em 1982 publica "Reunião de Família", e em 1984 outros dois livros:
"O Quarto Fechado" e "Mulher no Palco". "O Quarto Fechado" foi
lançado nos E.U.A. sob o título "The Island of the Dead".
Quem é Lya Luft? Uma mulher gaúcha, brasileira, que faz cada vez
mais, aos sessenta e um anos, o que desde os três ou quatro desejava
fazer: jogar com as palavras e com personagens, criar, inventar,
cismar, tramar, sondar o insondável. "Tento entender a vida, o mundo
e o mistério e para isso escrevo. Não conseguirei jamais entender,
mas tentar me dá uma enorme alegria. Além disso, sou uma mulher
simples, em busca cada vez mais de mais simplicidade. Amo a vida, os
amigos, os filhos, a arte, minha casa, o amanhecer. Sou uma amadora
da vida. O que você nunca vai esquecer? Escutar o vento e a chuva
nas árvores do imenso jardim que cercava a casa de meu pai, na minha
infância". Puro maravilhamento. O que lhe causa repugnância?
Preconceito, hipocrisia. Vale a pena escrever? "Não escrevo porque
“valha a pena”, mas porque me faz feliz, simplesmente". O que falta
à literatura brasileira? "Nada, não falta nada. Ela é o que é,
simplesmente, cheia de graça, desgraça, florescente, múltipla,
lutando com a crise econômica que atinge também as editoras, mas,
como não se escreve para ficar rico, tudo bem". E Deus? "Deus eu
imagino como força de vida: luminosa, positiva, imperscrutável". E o
Brasil? Brasil cujo jeito é parecer não ter jeito. "Não quero jamais
ter de morar longe dele. Aqui tudo é possível. E tanto está ainda
por fazer". O que fazer para reverter esse quadro de miséria? "Que
os responsáveis por isso criem vergonha na cara". Quem não merece
respeito algum de ninguém? "Todos merecem algum respeito, no mínimo
compaixão". Você costuma rezar? "Não tenho nenhuma religião
instituída, mas tenho uma profunda visão “religiosa”, sagrada, da
natureza, das pessoas, do outro". Qual é seu momento ideal para
escrever? "O momento em que meu livro quer ser escrito. Mas
normalmente produzo mais de manhã bem cedo. Gosto de ver o dia
nascer, aqui na minha mesa de trabalho e do meu computador". Se
confessa uma mulher tímida, embora não pareça.
Em 1987 lança "Exílio"; em 1989 o livro de poemas "O Lado Fatal" e,
em 1996, o premiado "O Rio do Meio" (ensaios), considerado a melhor
obra de ficção do ano.
Lya Luft afirma que hoje prefere ficar quieta consigo mesma. Já
casou demais. Já enviuvou demais. Não se imagina mais vivendo ao
lado de ninguém. Mas não quer desprezar os encantamentos que surgem
por seu caminho. Lya afirma ter sido um privilégio ter conhecido e
vivido com dois homens que muito lhe ensinaram. Sua visão do
masculino é muito positiva. Foram três homens, na verdade, que a
influenciaram e percorreram sua vida, erguendo seu rosto, seu
percurso, abrindo seus rumos: seu pai, Arthur Germano Fett, que
considerava um homem culto, amigo e também solitário; seu cúmplice,
Celso Pedro Luft, de quem herdou o sobrenome; e Hélio Pellegrino.
Três homens inesquecíveis. Que sempre vão permanecer nas palavras,
nos pensamentos, nos acenos possíveis.
Não faz tarde de autógrafos, sente-se desconfortável com isso. Não
gosta de discutir teorias literárias, especialmente quando se
referem à sua obra. Nunca pensou em tradição literária ou,
especialmente, em tradição literária gaúcha. Não quer fazer
literatura regional. Não quer ser representante de descendentes. Não
quer pertencer a grupo nenhum. Quer mesmo é ser livre. Quer ficar
quieta no seu canto. No livro "Secreta Mirada", lançado em 1997, ela
se deixou com ela mesma e discorreu sobre temas que nunca fala em
discussões literárias, em entrevistas, depoimentos.
"Sou dos escritores que não sabem dizer coisas inteligentes sobre
seus personagens, suas técnicas ou seus recursos. Naturalmente, tudo
que faço hoje é fruto de minha experiência de ontem: na vida, na
maneira de me vestir e me portar, no meu trabalho e na minha arte/
Não escrevo muito sobre a morte: na verdade ela é que escreve sobre
nós - desde que nascemos vai elaborando o roteiro de nossa vida/ O
medo de perder o que se ama faz com que avaliemos melhor muitas
coisas. Assim como a doença nos leva a apreciar o que antes
achávamos banal e desimportante, diante de uma dor pessoal
compreendemos o valor de afetos e interesses que até então pareciam
apenas naturais: nós os merecíamos, só isso. Eram parte de nós./ O
amor nos tira o sono, nos tira do sério, tira o tapete debaixo dos
nossos pés, faz com que nos defrontemos com medos e fraquezas
aparentemente superados, mas também com insuspeitada audácia e
generosidade. E como habitualmente tem um fim - que é dor - complica
a vida. Por outro lado, é um maravilhoso ladrão da nossa
arrogância./ Quem nos quiser amar agora terá de vir com calma, terá
de vir com jeito. Somos um território mais difícil de invadir,
porque levantamos muros, inseguros de nossas forças disfarçamos a
fragilidade com altas torres e ares imponentes./ A maturidade me
permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento,
entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura./ Às vezes é
preciso recolher-se".
Em 1999 a escritora lança o livro "O Ponto Cego".
“A vida é maravilhosa, mesmo quando dolorida. Eu gostaria que na
correria da época atual a gente pudesse se permitir, criar, uma
pequena ilha de contemplação, de autocontemplação, de onde se
pudesse ver melhor todas as coisas: com mais generosidade, mais
otimismo, mais respeito, mais silêncio, mais prazer. Mais senso da
própria dignidade, não importando idade, dinheiro, cor, posição,
crença. Não importando nada”.
Bibliografia:
No Brasil:
- Canções de Limiar, 1964
- Flauta Doce, 1972
- Matéria do Cotidiano, 1978
- As Parceiras, 1980
- A Asa Esquerda do Anjo, 1981
- Reunião de Família, 1982
- O Quarto Fechado, 1984
- Mulher no Palco, 1984
- Exílio, 1987
- O Lado Fatal, 1989
- O Rio do Meio, 1996
- Secreta Mirada, 1997
- O Ponto Cego, 1999
- Histórias do Tempo, 2000
- Mar de dentro, 2000
(Todos os livros foram publicados pelas Edições Siciliano e
Mandarim, São Paulo - SP)
- Perdas e ganhos, 2003 - Editora Record
No exterior:
- The Island of the Dead (O Quarto Fechado), E. U. A.
Os dados acima foram obtidos em livros da autora, páginas da
Internet e em artigo publicado por Álvaro Alves de Faria,
jornalista, poeta e escritor.
Fonte:
www.releituras.com
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