Nirton
Venâncio
O que disseram:
“Nirton Venancio é um poeta que busca no seu verso o sentimento
envolvido de magia e humanidade. Sente-se em sua palavra o conflito
da eternidade e desencanto do homem, mas perpassa em sua poética um
otimismo de rosas e de luta. Apesar do seu verso justificar o parto
de angústia e de dor, ergue-se no passo de sua voz lírica o destino
do verbo e da revolta. Em Roteiro dos pássaros, seu primeiro livro
(1981), percebe-se que o amor ainda desperta a ânsia de braços
estendidos e a certeza de olhares atravessando mares e escuridões.
Daí a sensação do verso-cigano, do verso-pássaro, roubando seus dias
reunidos e os segredos escondidos. Ele deixa em cada imagem esse
tempo perdido nas calçadas e o sentido de eternidade espalhado num
encanto de mistério e realidade.”
Rogaciano Leite Filho
Durante o lançamento do livro, 22/5/1981
“Os
‘pássaros’ que Nirton Venancio liberta de seu volume de versos têm
asas longas e rêmiges, fortes, e podem, em sua revoada, atravessar
regiões áridas e tempestuosas, sem que os ventos façam mudar seu
itinerário. O lado social é a preocupação precípua dos poetas
brasileiros no momento, e isso se confirma em Roteiro dos pássaros,
a começar pelo poema que abre o livro, ‘Dados pessoais’: ‘cinqüenta
e poucos quilos / de idade e de fome’.
Entre o poema de engajamento ‘político’ e de pura feição intimista,
Nirton Venancio se divide entre esses dois pólos, ou dois abismos;
sim, porque afinal de contas, o amor e a morte estão conjugados
nesse contexto: vida x morte, amor x luta. Diz o autor: ‘morrerei
poeta pelas ruas / a espalhar os pedaços de meu corpo / e da minha
alma, / a espalhar rosas como amante, / a espalhar panfletos como
revolucionário” (pág .21 / Sina).
Percebe-se que o autor persegue uma visão nova do fazer poético,
pela variedade de sua temática e o inconformismo de que está
possuído. Ele faz uma poesia física, uma poesia da ação. Uma poesia
com a ligeireza de pensamento que se completa na contradição do
absurdo existencial. É esse o poeta que temos em mãos: fescenino,
criativo e contundente na denúncia social. Mas é sob a visão de Eros
que ele constrói sua melhor poesia”.
José Alcides Pinto
Caderno Cultura, O Povo, 2/5/1982
“A
poesia de Nirton Venancio tem algo da formalidade jovial de um Jóis
Alberto. Tem a exata concepção estrutural de um Caio Fernando Abreu,
quando tenta equilibrar o conhecimento de contista com a sabedoria
poética. A poesia de Nirton Venancio tem algo da mordacidade de uma
geração que, mesmo sem participar ativamente de um processo
sócio-político, por motivo que todos nós sabemos, recoloca, hoje, em
discussão a fundamental importância dessa geração. Trabalhando com
elementos poéticos-sonoros revigorantes, Nirton Venancio é, sem
sombra de dúvidas, uma das melhores promessas da poesia cearense.
Roteiro dos pássaros, premiado pelo concurso Filgueiras Lima de
Poesia, é um livro sobre a nossa geração, sobre nossa concepção de
mundo e de vida.”
Odosvaldo Portugal Neiva
Caderno Variedades, Diário do Nordeste, 2/11/1982
“’Roteiro dos pássaros’, livro que você diz ser de estreante, é
um grande livro cheio de poesia transbordante de amor,
mocidade (com muita vivência e experiência) e a preocupação
transcendental com a morte e os aléns da morte que preocupavam
Hamlet. É um livro de poeta para guardar. Muito obrigado por tanta
coisa bonita.”
Pedro Nava
Trecho de carta autor, 16/1/1983
“Dentre os valores do quadro literário do Ceará, na área de poesia,
existe um nome a destacar pelo extraordinário trabalho que vem
desenvolvendo pela poética: Nirton Venancio, o notável autor de
‘Roteiro dos pássaros’, dono de um largo fluxo de imaginação, de um
certo amadurecimento de recursos de expressão e uma linguagem que
melhor se identifica com os padrões poéticos de nosso tempo. O livro
é uma edição muito bem cuidada, uma preciosidade pelo tratamento da
poesia e pela contribuição que oferece ao universo do leitor. Em seu
artesanato poético, notei a sua maneira de dissecar os versos,
enquadrar suas emoções de um estilo interessante, arrancando os seus
sentimentos mais profundos, oferecendo-os nesse seu ‘roteiro’ um
diálogo dos mais expressivos. A sua poesia é rica e variada, sem
artifícios. Consegue realmente falenciar com sua arte uma mensagem
tersa e condoreira. Uma poesia que vive nas alturas captando o que
há de mais belo pela graça do seu sentimento.”
Luiz Fernandes da Silva
Correio de Poesia, João Pessoa, PB, 27/9/1983
“’Roteiro dos pássaros’ detém um dos títulos mais belos que conheço
em livro de poesia. É de um lirismo pungente. E o conteúdo comprova
a beleza do título. Nirton Venancio se nos apresenta já amadurecido
em sua estréia literária. Percorrer o ‘roteiro dos pássaros’ desse
sensível poeta é mergulhar verdadeiramente na angústia humana,
palmilhando passo-a-passo o existência e surreal que é esta vida. É
um livro que nos deslumbra da primeira à última página. Da
sensibilidade sangrada na abertura com os versos ‘não me culpem por
nada / pois nada / está sendo mais difícil / do que disfarçar esta
dor / e carregar este coração / por debaixo da blusa’, passando
confiante pelo homem de amanhã quando diz ‘ainda existe uma lua
sobre os edifícios / ainda existem bêbados entre os edifícios /
ainda existem rebeldes dentro dos edifícios’, cantando o amor com
paixão lírica de um erotismo refinado em ‘cubro / o teu corpo nu /
com / o meu corpo nu’, finalizando com a reflexão ‘o pior de tudo /
é que estamos vivos / e seria trágico / escolhermos a morte / como
opção’, Nirton Venancio poderá não publicar mais nada – e espero que
nunca aconteça – mas esse livro permanecerá na história da poesia
cearense. Sinto-me feliz em ser um pássaro a percorrer seu roteiro.”
Manoel César
Jornal O Povo, 19/8/1984
“Em ‘Roteiro dos pássaros’ o autor dá mostras de uma grande força lírica,
pela contenção e equilíbrio formal de seus poemas em que,
não raro, despontam momentos reveladores: ‘o corpo do
homem / é um cavalo / onde a alma põe a sela / e dispara
no mundo’”
Adriano Spínola
Diário do Nordeste, 21/6/1985
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