Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Paulo Henrique Couto Machado 

Titian, Venus with Organist and Cupid

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Contos:


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona

 

Leonardo da Vinci,  Study of hands

 

 

 

 

 

Poussin, Rebecca at the Well

 

 

 

 

Paulo Henrique Couto Machado


 

Nota bio-bibliográfica:


 

PAULO Henrique Couto MACHADO nasceu em Teresina, em 1956. Advogado. Defensor Público. Poeta e contista. Pertence à Geração Pós-69. Participou de coletâneas e antologias. Ganhou alguns prêmios literários. Na década de setenta, fez política estudantil e editou, ao lado de companheiros de geração, o jornal mimeografado "ZERO". Integrou o grupo responsável pela edição do jornal alternativo "Chapada do Corisco", em 1976 e 1977, em Teresina. Publicou Tá Pronto, Seu Lobo? e A Paz do Pântano, livros de poesia. Integra a comissão editorial de literatura da revista Pulsar

 

 

 

Henry J. Hudson, Neaera Reading a Letter From Catallus

Início desta página

Nei Duclós

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Nurture of Bacchus

 

 

Paulo Henrique Couto Machado


 

p o s t u l a d o
ao poeta william melo soares

fazer poemas é fácil
como amordaçar um lobo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

Paulo Henrique Couto Machado


 

p o é t i c a
ao poeta salgado maranhão


fica o ranço das metáforas,
o outono na velha aquarela.
no porto, a lembrança das velas.
fica o silêncio, o esboço do poema,
os músculos rijos à espera do agora.
fica a certeza de caminhar
em linha reta,
não fugir nunca.
remar contra a corrente, lutar
sem temer os golpes sujos dos que rastejam,
cães roendo os ossos da omissão.
fica a ânsia, o sangue queimando nas veias
até o último momento.
fica um princípio:
não temos o direito de trair a poesia,
crucificá-la numa sexta-feira de passivismo.
jamais expô-la como símbolo
de uma vanguarda precoce, medrosa.
a poesia é torpedo-suicida,
não podemos camuflá-la de bailarina persa.
a escuridão dos calabouços,
as câmaras de tortura,
nada fará calar os poetas.
a poesia sobreviverá às bombas de gás, ao tédio.
ressurgirá das cinzas no vôo dos pássaros.
(à tardinha os homens imitam os pássaros, ingenuamente)
sonhemos: com o verde da tardia esperança,
o branco da paz inaudita.

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Grief of the Pasha

Início desta página

Xenia Antunes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Paulo Henrique Couto Machado


 

a r q u i v o
ao contista m. de moura filho


adão andou nas mãos dos paisanos
e foi encontrado na praça da liberdade
como um mamulengo esquecido detrás do palco:
olhos abertos, boca cerrada, músculos petrificados,
sangue coagulado nas narinas.
adão virou manchete
na pose três por quatro
na última página de o dia
hoje, é um número qualquer
arquivado
à espera dos cupins.

 

 

 

Ticiano, Salomé

Início desta página

Elaine Pauvolid

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Paulo Henrique Couto Machado


 

Canção de amor e morte


Antônia Flor – flor da gameleira –
toda manhã lavrava a terra
com a sabença de quem conhecia
o sabor agridoce dos araçás.

Antônia Flor – flor da gameleira –
na cinzentura da tarde, guardava
no aprisco cabritos e borregos
da fúria profana dos carcarás.

Antônia Flor – flor da gameleira –
aos oitent’anos tinha os olhos acesos
a alumiar, como os olhos de maracajás.

Antônia Flor – flor da gameleira –
fez do amor à terra sua peleja,
sua crença, sua razão de bem-viver.

Antônia Flor – flor da gameleira –
teve o corpo crivado de balas –
à sombra de uma velha ingazeira.

Carpideiras puxaram excelências
e tiranas, com a notícia da morte
a correr nos estirões das veredas.

 

 

 

Bernini, Apollo and Dafne, detail

Início desta página

Aníbal Beça

 

 

 

 

03.07.2006