Roberto Pontes
A flor anídrica
Por quem bate o
coração da amiga
Já esquecida das pecas pétalas
A dessangrada papoula entre grafemas
Na revista contendo manchas pardas?
Ser vivo ainda? Borboleta ou forma?
Que importa o dobre de um sino
Abafado, ao rés do lado esquerdo?
Ter-se exaurido a força em certas mãos
Se o corpo frágil, os olhos da menina
São estampa que nunca se desfaz?
Horizontalizada, resguarda os segredos
Talvez de múmia, inseto ou arabesco
Discreto modo de assim permanecer
Ali imóvel, a marca de um momento
A sensação, impulso terno, gesto
De preservar a vida em tempo breve
A mão que o pôs ali.
Por quem pulsa o coração que esquece?
Bate pela flor? Ou sua ausência?
(De A Poesia Cearense no Século XX [Org. Assis Brasil]. Rio de
Janeiro: 1996)
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