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Vicente Bastos

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Poussin, The Judgment of Solomon

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


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Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sophie Anderson, Portrait Of Young Girl

 

Um esboço de Da Vinci

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Acis and Galatea

 

 

 

 

 

Vicente Bastos


 

Soneto de retorno


Finda bacanal e de todo aquele fausto,
Vi melhor seria aquele autodegredo.
Exilado, exposto, expiado, exausto,
Dissipador...Ora, retorno em segredo.

Em segredo lhe retorno. E como Fausto,
Revelo culpas, o Ideal e me retrocedo,
Para fim de tarde, fugir ao holocausto.
E lado a lado, face a face, em folguedo,

A sós, nós dois, Rio de minha vida,
Sorriso a aberto céu...lua nascente....
Tarde, areia, rio: velha amizade revivida...

A margear o já delgado curso vou silente.
E já sem fausto, e sem Baco, e sem guarida...
Nós e o viço extremo rumo ao sol poente.


• Praia de Januaria – Dezembro de 2003.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

Vicente Bastos


 

Soneto de contrastes


E fora assim: literalmente aos pés caído!
Se não lhe dera dado dela ser o benfeitor,
Do hedonista, de arrasto, em chão batido,
Restara um servo branco em seu penhor.

Se nem lhe dera ser o incubo incumbido,
Quedou-se ao seu prazer, sorvendo o odor,
Sob o corpo quente, acobreado, despido:
Contrastes! Leite,chocolate; frenesi, torpor...

Contraste! A veia azul realça a débil alvura,
A veia azul pulsante e o branco escravo:
Contraste! Subjugado, tatuado à pele escura,

Em seu ofício, obstinado, fincado, um cravo,
Um vibrante dardo trespassando com doçura,
Como cuida a um bom criado com desbravo.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vicente Bastos


 

Soneto da dúvida


Rever-te em breve dia quem me dera,
E como quero! E na espera eu canto.
Rever-te tanto quero e, no entanto,
Receio finde ali a última quimera.

E nessa solidão de Ideal, portanto,
Transito dia a dia em vil espera.
Mas, no te rever, vai ver me espera:
A pá final de cal sobre o meu canto?

E ainda assim, com o rever-te sonho,
E sinto um sopro de passado redivivo.
Mas o riso se esvai, pois se me ponho,

A todo instante, ao duvidar coercivo:
Vai ver, melhor o recordar tristonho,
A te atestar ao sonho dado o abortivo.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vicente Bastos


 

Soneto à princesa Januária

A Vítor Saraiva Corrêa Bastos


Dê-me seu colo farto de senhora,
E de-beber em sua agreste realeza,
Que o anil dos céus do norte, agora,
Aguça minha sede, despojada Alteza.

Um cetro de amor e de nobreza
Suas filhas o exibem, Vale a fora,
Em pele jambo e gene de princesa,
À sua cria toda o meu ser se arvora!

Quedarei a boca na teta fagueira;
- Seu desnudo torso a me fomentar -,
Num incesto casto, Alteza faceira!

Acolha-me, Princesa desse rio-mar,
Aleite este seu filho de gula ribeira,
Que o seu regaço e ventre são meu lar!


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Memories, detail

 

 

 

 

 

Vicente Bastos


 

Poema ao "Venceslau Brás"

A João Roberto Gomes de Oliveira


O Apito do Vapor despertava a cidade
para as emoções da espera.
(José Antônio de Souza)


Cantaram e cantam prosadores e poetas:
Quando o apito do pontal pronunciava,
De multicor a balaustrada se ostentava
E na cidade toda, mais de mil de profetas:

“E vém o Venceslau ! Mentira é o Raul!
É o Benjamin! Será o Saldanha Marinho?”
Alegres Paixões, corações: burburinho!
Atendiam o agudo e doce silvo mais ao sul.

Flutuando alvissareiro a favor da correnteza
O Vapor, anunciante à multidão fremente,
Atracava alto, era estação de enchente.
A bordo, vida, nautas, uva, seda javanesa...

A bordo, vida, víveres, querosene, sal...
Com destino a Januária largara de Pirapora.
Predisseram o apito! Era mesmo o Venceslau,
Há dois dias no caudal Velho Chico de outrora.


 

 

 

 

 

06/10/2006