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Caderno Vida e Arte,
17.3.2007
[Eleuda Carvalho]
DEPOIMENTOS
O Poeta, à vista de seus pares
Onze escritores brasileiros
compartilham suas lembranças de Gerardo Mello Mourão. A
voz, a poesia de corte épico, a fé, a amizade, a ranzinice e mesmo seu jeito de vestir compõem um retrato
humano e estético do poeta, falecido no último dia 9, no
Rio de Janeiro.
Em lembrança de Gerardo
Mello Mourão, o Vida & Arte Cultura pediu a alguns
escritores um pequeno texto sobre o poeta. Os que
responderam ao chamado, recordaram tanto a obra quanto a
figura do escritor cearense. Ana Miranda registrou sua
afabilidade, seu gosto pela Grécia e pelo sertão, e o
charme dos seus suspensórios coloridos. O amigo Artur
Eduardo Benevides fala da perda, para a cultura
brasileira, enquanto Adriano Espínola recorda-se de sua
voz, lendo trecho de Invenção do Mar. O poeta gaúcho
Armindo Trevisan lembra de um encontro com ele, em
Recife, e o pernambucano Carlos Newton Jr, quenão o
conheceu pessoalmente, fala da coincidência que os uniu
numa mesma antologia. Foi justo na organização de outra
antologia que se deu o encontro de Mello Mourão com o
escritor conterrâneo Rinaldo de Fernandes. Régis
Bovincino, poeta paulistano, diz que leu muito pouco
Gerardo Mello Mourão, mas pensa que sua poesia se
aproxima da de Jorge de Lima. O também paulistano Glauco
Mattoso escreve que achava Mello Mourão um ranzinza, até
"cair a ficha": o poeta estava mais próximo dele do que
supunha. O poeta e editor Soares Feitosa foi econômico
em seu depoimento (e generoso em seu Jornal de Poesia,
onde se pode ler quase toda a obra de Gerardo). E
Virgílio Maia abriu sua biblioteca para compartilhar com
os leitores suas preciosidades: três livros que Gerardo
Mello Mourão lhe deu, todos com dedicatórias de próprio
punho e um poema manuscrito inédito.
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Adriano Espínola, poeta
cearense, radicado no Rio de Janeiro. Autor de Táxi e Beira-Sol,
entre outros livros premiados:
A voz do bardo
"Gerardo Mello Mourão encarnou, de forma extraordinária, a divisa de
Rilke, segundo a qual cantar é ser. De viola em punho, misto de
cantador
das Ipueiras e 'devoto fiel de Apolo', fez da poesia a expressão de
uma peregrinação fundante do homem e da terra, obediente ao sonho e
à música das palavras. Embalado pelo ritmo vertiginoso das
metáforas, soube cantar, nomear e contar como poucos. Poeta do mito
e da história, do sertão nordestino e da Grécia, dos múltiplos e
largos espaços da geografia e da memória, reinventou o mar e o
sertão, as ilhas e o continente, o presente e o passado, os feitos
épicos da raça e das suas próprias peripécias. Por tudo isso,
Gerardo tem lugar privilegiado na história da literatura brasileira
e ocidental. Na sua obra poética, a língua alcança momentos de raro
esplendor e musicalidade. Uma das minhas maiores emoções literárias
foi ouvir o escritor recitar, ainda inédito, o Canto Primeiro do seu
Invenção do Mar, durante a Bienal do Livro do RJ, em 1997. Com a sua
voz marcante, de grande poder evocativo, parecia ali encarnar
liricamente o desejo de aventura e saber do próprio espírito humano,
agitado pelas ondas do mar dantanho e dagora".
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Ana Miranda, escritora nascida
em Fortaleza. Escreveu, entre outros, Boca do Inferno, A Última
Quimera e Desmundo
Ulisses sertanejo
"Conheci Gerardo Mello Mourão. Foram
vários encontros casuais, ele estava sempre com sua afetividade e
seus suspensórios coloridos e alegres. Abraçava-me, dizia palavras
gentis. Saberia, no fundo de seu coração, que eu o compreendia, que
jamais me deixaria levar pelos preconceitos políticos que o
perseguiram. Quando foi levado ao
integralismo
por Tristão de Athayde, ele tinha 18 anos. Pagou por esse gesto a
sua vida inteira, em prisões de toda espécie. Foi um solitário em
sua obra, como Augusto dos Anjos. Eu o admirava, tinha por ele muita
afeição, e gostava profundamente de sua poesia. Uma poesia próxima à
de Ezra Pound, e às idéias de Nietzsche. Poesia belíssima, forte,
original, que aproxima o sertão cearense da Espanha árdua, da
Grécia, Ilíria, Tessália, que Gerardo apreendeu, sem jamais tirar os
pés de sua serra de Ibiapaba. Iluminou o helenismo que há em nosso
Nordeste ardente. Respirou a violeta divina, ouviu o que as sereias
cantavam para Ulisses, um Ulisses nordestino, no país dos Mourões".
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Antonio Olinto, da
Academia Brasileira de Letras. Autor, entre outros, dos
livros Presença (poesia), Jornalismo e Literatura (ensaio
teórico), os romances A Casa da Água e Alcácer-Kibir, entre
outros.
Cantar de amigo
O país - este país de língua
portuguesa que é o nosso - ficou mais
pobre
com a morte de um de seus grandes poetas em qualquer tempo.
Aos nos deixar, Gerardo Mello Mourão deixou-nos também uma
obra que nos justifica e nos revela como povo e como nação.
Por causa disso mesmo, foi ele também um estranho e um
solitário. Nenhum fazedor de versos desta parte do mundo tem
com ele parentesco. Daí, inclusive, o silêncio que em muitos
momentos cercou sua obra. Não há pontos de comparação entre
seus poemas e o desenvolvimento normal da poesia no país.
Nessa solidão, mais avulta a presença de livros como A
invenção do mar e O país dos Mourões.
E sua presença não está só na
poesia, mas também na prosa, de que o romance O valete de
espadas é o grande exemplo, ao narrar a história da
caminhada de um homem (e do homem em geral) através dos
símbolos que formam rumos e das tradições que, mortas ou
vivas, sustêm as sociedades de cada geração. O valete de
espadas oscila entre o lógico e o ilógico, num difícil
equilíbrio que lhe dá força e seiva. A lógica elaborada ao
longo de dois milênios e meio de pensamento sistematicamente
discursivo uniu-se, em O valete das espadas, ao mítico
nascido em épocas anteriores e conservado em tradições que
os povos orientais - principalmente o hebreu - deixaram na
memória do homem. Há livros que participam da busca de
qualquer coisa que nos livre do Tempo, com T maiúsculo
mesmo, do Tempo que nos alimenta e nos mata. O valete de
espadas participa dessa busca e dessa luta, indo além de
qualquer outra manifestação literária entre nós e
ingressando também no terreno do poema, o que era normal, em
se tratando de um poeta como poucos tivemos depois de Castro
Alves e de Jorge de Lima.
A invenção do mar e O país dos
Mourões estão na vanguarda mesma da palavra transformada em
poema entre nós. São de feitura inteiriça, compacta, num
ritmo despojado, desatado de si mesmo, na posição do poeta
que se larga, que se solta e consegue, com isto, uma
impressionante unidade sintática, de que participam tanto os
versos longos - de quatorze e mais sílabas - como os de
ritmo normal de sete sílabas, ou os que se partem em
pulsações diversas e variadas.
Quando chegamos, Zora e eu, à
Inglaterra, onde trabalharíamos durante alguns anos, um dos
escritores de minha admiração, Robert Graves, não morava
mais em Londres. Soube que, desgostoso com o ambiente
londrino, mudara-se para Espanha depois de escrever um livro
de adeus chamado exatamente Good-bye to all that. Escolheu
para morar uma aldeia espanhola situada no centro da ilha de
Maiorca e lá se achava há alguns anos. Nome do lugar: Deya,
palavra árabe que significa exatamente "aldeia". Depois de
ter combinado com ele, por carta, uma ida a Maiorca,
hospedamo-nos no único hotel do lugar, situado em frente à
casa do poeta. Dele havia eu lido não só os poemas e
romances, mas principalmente seu livro de ensaios sobre
poesia, The white goddess. Durante dez dias, passamos a
manhã com Robert Graves. O assunto normal desses encontros
foi a poesia de nosso tempo. Ele conhecia quatro línguas da
Península Ibérica: o espanhol, o português, o galego e o
catalão. Pôde, assim, falar dos poetas brasileiros que havia
lido. Colocava em primeiro lugar, Gerardo Mello Mourão,
dizendo: "Encontrei nele alguns dos melhores poemas que li
na minha vida".
Neste adeus ao amigo de toda
uma existência, Gerardo Mello Mourão, deixo aqui esse
testemunho de um grande escritor inglês que sabia o que
estava falando.
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Armindo Trevisan, poeta e
escritor gaúcho. Autor de Rumor do Sangue, O Moinho de Deus e A
Dança do Fogo
Imaginação admirável
"Nunca privei com o Gerardo de Mello
Mourão. Tive, no entanto, a oportunidade de conviver com ele durante
um Congresso de Escritores, no Recife. Para dizer a verdade, nessa
ocasião, conversamos muito tempo sobre nossos interesses comuns.
Apesar de ele ser (e fazer questão de o ser) poeta, e excelente
poeta, preferi outros assuntos, como o de sua estadia na China, e
suas idéias sobre a Arte Chinesa.
(Quando
eu lecionava na URGS, no Instituto de Artes e na Faculdade de
Arquitetura, introduzi a cadeira de Artes Não-Ocidentais). Sempre
apreciei a poesia de Gerardo, principalmente por sua ambição. Não
sei se ele chegou ao épico propriamente dito, como pretendia. Sua
poesia, porém, tem seriedade, arcabouço formal de nível, e lances
imaginativos admiráveis. Do ponto de vista pessoal, impressionou-me
o interesse que tinha pela Arte Chinesa. Foram momentos preciosos
para mim, o de minha conversa com ele. Lastimo sua morte, e peço a
Deus que lhe dê tudo aquilo que nós, mesmo sendo seus amigos, não
podemos dar-lhe. Em especial: a ressurreição".
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Artur Eduardo Benevides,
príncipe dos Poetas Cearenses. Escreveu A noite em Babylônia
Bom, generoso e afável
"Tenho um poema pra ele, em meu último
livro, Cantares de Outono ou Os Navios Regressando às Ilhas,
publicado agora: 'Em louvor de
Gerardo Mello Mourão, poeta das Ipueiras e do mundo'. O Mourão foi
uma figura de extraordinária grandeza intelectual e moral. Viajou
por quase todo o mundo, inclusive, é muito publicado no exterior.
Incontestavelmente, foi um dos maiores poetas modernos do Brasil.
Era um homem bom, generoso e afável. Tivemos uma amizade duradoura
e, para mim, enriquecedora. O bem que eu queria a ele... Fiquei
profundamente emocionado com seu desaparecimento, porque o Brasil,
com isso, perdeu um dos grandes nomes do campo da literatura,
sobretudo, da poesia".
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Carlos Newton Jr., poeta,
professor e escritor. É atual sub-secretário da Cultura de
Pernambuco. Autor do romance Honorato, o Bom-Deveras; do livro de
ensaios A Ilha Baratária e a Ilha Brasil, do livro de poemas Poeta
em Londres, entre outros.
O épico
"Na condição de poeta e, por extensão,
de leitor de poesia, sempre fui mais entusiasmado pelo gênero épico
do que pelo lírico. A poesia de caráter intimista me causa
antipatia, exceto quando ela transcende o eu individual do poeta
para investigar, em livros de fôlego, os grandes enigmas universais,
como ocorre, por exemplo, com a obra de um Foed Castro Chamma.
Assim, naturalmente, tenho predileção pelo poema longo, pelo
poema-romance ou pelo poema-rio, e se, no campo da criação, não fui
além do meu épico Canudos: poema dos quinhentos, tal fato deve ser
creditado mais à falta de talento criador do que de vontade de
criar. Leitor de epopéias, eu não poderia ficar indiferente diante
da grande poesia de Gerardo Mello Mourão, a quem não conheci
pessoalmente, mas com quem contraí uma dívida de gratidão que jamais
poderei saldar. Para ficar apenas em um exemplo concreto, o meu
Canudos, escrito entre 1997 e 1998, não teria a mesma dimensão se eu
não tivesse lido, antes, Invenção do Mar, de Gerardo. Este livro
foi, de fato, fundamental na feitura de Canudos, como qualquer
estudo comparativo poderá constatar. Aí, alguns anos depois, em
2004, Alexei Bueno me convidou para participar de uma antologia de
poetas brasileiros vivos que ele estava organizando para a Editorial
Danú, de Santiago de Compostela, na Galícia. Se eu já havia ficado
honrado com o convite em si, esse sentimento se intensificou ainda
mais quando percebi, ao receber um exemplar do livro, que a minha
poesia formava, com a de Gerardo Mello Mourão, uma espécie de marco
cronológico do volume. É que a antologia reúne 24 poetas
selecionados por Alexei e apresentados em ordem cronológica,
iniciando-se com Gerardo Mello Mourão, nascido em 1917, e terminando
comigo, que nasci em 1966. Graças a Alexei, portanto, o meu nome
ficou definitivamente ligado ao de Gerardo Mello Mourão, o grande
poeta épico que tanto me encantou e acaba de se encantar".
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Glauco Mattoso, "poeta
pós-maldito, 55 anos", paulistano. Organizou, com Nilto Maciel, em
1977, Queda de Braço - Uma Antologia do Conto Marginal e Manual do
Podólatra Amador
Perto dos malditos
"Lembro-me da implicância que tinha o
poeta com certas palavrinhas da moda: neologismos, estrangeirismos,
gírias. Na época
(anos 70/80) eu estava entre os punks e marginais, e interpretava
aquilo como caretice, rabugice de velho, e comparava o mau humor do
Gerardo ao do João Cabral (de Mello Neto) ou do (Ariano) Suassuna.
Levei um tempo pra que me caísse a ficha e eu percebesse que o
Gerardo estava mais do meu lado do que eu supunha: sua revolta era
tão legítima quanto a rebeldia punk e a irreverência marginal, pois,
como Cabral ou Suassuna, Gerardo lutava pela preservação de algo tão
essencial como nossa água doce ou nossa floresta tropical: a
integridade da língua contra a devastação globalizante e o
desmatamento neoliberal... Gerardo foi tão marginalizado quanto nós,
os malcriados filhos da ditadura...".
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Régis Bonvicino, poeta e
magistrado paulista. Escreveu Ossos de Borboleta e Página Órfã,
entre outros
Católico ortodoxo
"Sempre soube que Gerardo Mello Mourão
era um católico ortodoxo, um leitor da Bíblia, tanto do ponto de
vista religioso quanto poético. Via mais do que lia seus artigos na
página Tendências/Debates, da Folha de S.
Paulo.
Li pouquíssimo a sua poesia, uma poesia que se queria elevada,
clássica, leitora de Ovídio, Homero, Cícero, Virgílio, avessa à
minha. Sou de uma geração completamente diferente da dele - uma
geração dilacerada (para o mal ou para o bem). Sempre o achei uma
espécie de parente de Jorge de Lima (um poeta que aprecio), talvez,
distante".
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Soares
Feitosa, poeta e editor do Jornal de Poesia (www.jornaldepoesia.jor.br),
onde se pode ler, além da biografia, ensaios, críticas e depoimentos
sobre o poeta Gerardo Mello Mourão, o texto integral de No País dos
Mourões, Peripécia de Gerardo, Rastro de Apolo, Três Pavanas,
Susana, Cânon e Fuga (parcial) e Invenção do Mar (prêmio Jabuti,
1999)
Em poucas palavras
"Não dá para falar de Gerardo Mello
Mourão em seis ou sete linhas. Se o espaço é ligeiro, tenho a dizer:
Gerardo Mello Mourão é o poeta. Ele e Castro Alves".
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Rinaldo de Fernandes, escritor
e antologista. Autor de Chico Buarque do Brasil e da coletânea
Quartas Histórias
Bastidores de uma antologia
"Em 2001, participei de um projeto que
me honrou muito. Eu fazia o doutorado em Letras em São Paulo e fui
convidado pelo editor Luís Fernando Emediato (proprietário da
Geração Editorial) e pelo jornalista José Nêumanne Pinto para
produzir os textos de pesquisa da antologia Os cem melhores poetas
brasileiros do século. Muita gente pensa, pela
importância de meu trabalho na confecção do livro, que eu sugeri
nomes - mas na verdade todos os nomes que integram a coletânea foram
indicados pelo organizador José Nêumanne. Eu apenas cumpri a parte
do contrato que me coube - escrever textos apresentando os poetas e
pedir, aos vivos ou aos familiares dos poetas mortos, uma
autorização para incluir no livro o poema selecionado pelo
organizador. Liguei então para Gerardo Mello Mourão, informando-lhe
que ele tinha sido escolhido um dos 100 melhores poetas brasileiros
do século. Ele produziu um pequeno barulho do outro lado da linha e
disse: 'Fico muito contente'. Solicitei-lhe a autorização para
incluir no livro um trecho de Invenção do mar. Ele perguntou: 'Tem
que ser só um trecho de poema?'. Eu falei que sim, que tinha sido a
opção do organizador José Nêumanne. Ele, afável, concluiu nossa
conversa: 'Tudo certo, meu filho'. Foi a única vez que conversei com
Gerardo Mello Mourão. Ele, Francisco Carvalho, Antônio Girão Barroso
e Patativa do Assaré são os cearenses que integram a antologia Os
cem melhores poetas brasileiros do século. Se eu fosse o
organizador, e pela grande qualidade da poesia cearense, teria
incluído pelo menos mais dois importantes poetas da terra: Adriano
Espínola e Artur Eduardo Benevides".
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Virgílio Maia, poeta e
advogado, natural de Limoeiro do Norte. Autor de Timbre, Rudes
Brasões, Palimpsesto e outros sonetos. O poeta Gerardo Mello Mourão,
com quem compartilhava o apreço à cultura armorial sertaneja,
dedicou a ele seu livro Suíte do Couro ou Louvação do Couro (apenas
100 exemplares numerados). E, no raro Libro de Hierros, publicado em
Madri, em 1881, oferecido ao amigo, Gerardo Mello Mourão dedicou, a
mão, este poema: "Virgílio Maia dos Maias/ ferrador de boi perdido/
troco um boi por um cavalo/ em longes terras corrido.// Fui uma vez
por teus ferros/ no coração atingido/ ferro por ferro teu ferro/
agora é retribuído/ porque quem com ferro fere/ com ferro será
ferido"
Um poema inédito
"Estive pessoalmente com o poeta
Gerardo Mello Mourão uma única vez, e mui rapidamente, levado a
conhecê-lo pelo poeta Dimas Macedo.
Foi um contato rápido. Meu contato é mais com a obra poética dele,
como leitor apaixonado e poeta invejoso. Estou sempre relendo GMM. E
esta dedicatória que ele me fez, em Suíte do Couro, é um dos maiores
orgulhos e uma das mais legítimas vaidades literárias que tenho. Me
pabulo disso. Assim como destes oferecimentos manuscritos nos livros
que ele me deu. Sou um dos únicos 'viventes vivos' a quem ele
dedicou um livro. Gerardo Mello Mourão viveu 18 gloriosos lustros, o
que não é pouca coisa. Basta-se lembrar que ele nasceu na pegada do
majestoso inverno de 17, ano em que ainda troavam os canhões da I
Guerra Mundial, cobrindo de sangue os campos de França. Não sou
crítico literário e de poesia não sei dizer muito, nem mesmo da
minha. Gerardo Mello Mourão é um dos poetas que leio com emoção e um
dos poucos que releio".
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